domingo, 20 de março de 2016

Jornalista marrom da Época tenta envolver Aécio em lavagem de dinheiro e dá com os burros n’água

Carlos Newton da Tribuna na Internet

Reportagem de Diego Escosteguy, editor-chefe da Época, sobre a delação premiada do senador Delcídio do Amaral, ex-líder do governo, faz um escarcéu no site da revista acerca de uma conta aberta em Liechtenstein por Inês Maria Neves Faria, mãe do senador Aécio Neves. Como se sabe, aos procuradores da Lava Jato, Delcídio disse que fora informado “pelo ex-deputado federal José Janene, morto em 2010, que Aécio era beneficiário de uma fundação sediada em um paraíso fiscal, da qual ele seria dono ou controlador de fato; que essa fundação seria sediada em Liechtenstein“.

A reportagem desperta invulgar interesse, qualquer um quer ler com sofreguidão, para saber se foram confirmadas as atividades corruptas do candidato que enfrentou Dilma Rousseff nas urnas em 2014, especialmente as propagadas denúncias sobre Furnas, que vira e mexe voltam ao noticiário. Mas o texto é uma frustração, cheio de incertezas:

“Delcídio diz que não sabe dizer ao certo, mas que “parece que a fundação estaria em nome da mãe ou do próprio Aécio Neves; que essa operação teria sido estruturada por um doleiro do Rio de Janeiro”. Delcídio disse não saber se há relação entre essa fundação e as acusações que fez ao tucano – entre elas, de ser beneficiário de propinas em Furnas e de ter agido para interferir nas investigações da CPI dos Correios, da qual o petista foi presidente, em 2006. Janene era um dos líderes do esquema em Furnas, segundo as investigações”.

A reportagem é extensa e escandalosa. Desperta muito interesse, mas acaba caminhando para um anticlímax, porque revela que a conta era conjunta da mãe com a irmã de Aécio, Andréia, e o então deputado federal consta apenas como beneficiário e nem tinha autorização para movimentá-la. Além disso, não se tratou de “conta secreta” ou “empresa offshore”, nada disso.

O mais incrível é que a matéria gira em torno de Aécio Neves, embora a suposta “ocultação de patrimônio”, por falta de declaração à Receita Federal, somente pudesse ser atribuída à mãe e à irmã. Ainda mais interessante é o fato de o suposto crime levantado pela revista se referir à decepcionante soma de 30 mil francos, que à época equivaleriam a míseros 30 mil dólares, que nada significavam para uma mulher riquíssima como Inês Maria Neves, viúva do empresário e banqueiro Gilberto Faria, figura famosa no jet set nacional. E nem precisavam ser declarados à Receita, porque a lei exigia registro apenas de quantias acima de 100 mil dólares.

E a surpreendente matéria termina de forma melancólica, nos seguintes termos:

“Em 23 de fevereiro de 2010, o procurador Rodrigo Poerson – dez meses após seus colegas de andar na Procuradoria da República do Rio acusarem Muller de operar uma “central bancária paralela” – assinou despacho em que pede o fim das investigações sobre a conta da fundação Bogart & Taylor. (O MPF se recusou a fornecer cópia do parecer; Época teve que obter o documento na Justiça.) Nele, em três páginas, Poerson acolheu integralmente os argumentos da defesa de Inês Maria. E disse ser inviável conseguir a colaboração de Liechtenstein. Ele desconsiderou os documentos assinados por Inês Maria, que previam a abertura da conta, e a própria natureza das fundações em Liechtenstein – para criar uma fundação, é necessário depositar 30 mil francos suíços numa conta aberta em nome dela. Diante do parecer de Poerson, em 26 de fevereiro de 2010 o juiz federal Rodolfo Hartmann, do Rio de Janeiro, não teve opção senão arquivar o processo. Ele fez a ressalva de que, se o Ministério Público tentasse conseguir mais provas, reabriria a pasta amarela”.

Bem, o que a opinião pública quer saber é se Aécio está ou não envolvido em corrupção, se realmente participou de esquemas montados no governo de Minas ou em estatais como Furnas. Mas não há qualquer informação a respeito nesta “denúncia” da Época, que mais parece se tratar de matéria plantada para evitar nova candidatura do senador mineiro, vejam a que ponto caiu o jornalismo brasileiro. E a reportagem de denúncia rapidamente sumiu do site da IstoÉ, substituída por uma arrasadora nota oficial da assessoria do senador mineiro.

Tradução simultânea: a briga pela candidatura tucana em 2018 será de baixíssimo nível, com golpes na linha da virilha, como se dizia antigamente. Essa baixaria mostra que a política brasileira se tornou um deserto de homens e ideias, como advertia um grande brasileiro chamado Oswaldo Aranha, que deveria ter sido presidente em 1945, substituindo Getúlio Vargas, mas perdeu o bonde da História.

Se Aranha tivesse sido candidato e vencido a eleição, o respeitável público agradeceria, porque o presidente então eleito, Eurico Dutra, era uma vaca fardada, como dizia o general Mourão Filho, e fez um governo decepcionante, que só veio a ser suplantado agora pela gestão tenebrosa de Dilma Rousseff, a mulher sapiens.


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