segunda-feira, 16 de novembro de 2015

O fantasma de Bolsonaro na sucessão de 2018

A.C. Portinari Greggio: Bolsonaro já começou a fazer campanha pela internet

Jornal Inconfidência (MG)

Eles percebem o perigo. E nós, enxergamos a oportunidade? Dois jornalistas e dois generais. Essas são as peças de um pequeno quebra-cabeças que vamos montar para demonstrar, pela enésima vez, algo em que temos insistido nos últimos artigos: ou a Direita aproveita a oportunidade que a História lhe oferece nos próximos 24 meses, ou o Brasil afunda na anarquia, na haitização ou na guerra civil.

Não vou dizer o nome dos jornalistas. Não há necessidade, pois correspondem aos estereótipos da classe: odeiam os militares. Quanto aos generais: um da ativa, gen. Mourão, ex-Comandante Militar do Sul o outro, gen. Carlos Augusto Fernandes dos Santos, reformado.

A coisa começou há algumas semanas, quando o gen. Mourão, em palestra a alunos do CPOR de Porto Alegre, advertiu sobre a corrupção e a esbórnia geral da política brasileira, tão graves que ameaçam a estabilidade das instituições.

Entra a primeira jornalista. Em artigo publicado num jornalão, ela enquadrou o gen. Mourão por ter-se atrevido – vejam a audácia! – a falar de política. Segundo ela, militares não podem dar palpites porque “o Brasil avançou muito nos últimos trinta anos. (…) Escolhemos a democracia e a volta dos militares aos quartéis. Definítivamente.”

O gen. Carlos Augusto tomou a defesa do gen. Mourão. Segundo ele, a jornalista “quer chefes militares fracos, como freiras enclausuradas no castro, alienados dos aspectos políticos (…). Chefes eunucos, desprovidos de indignação e honra, que continuem bovinamente assistindo ao país despencar ladeira abaixo, na senda da roubalheira descarada, conduzida por políticos desprezíveis e bandidos que frequentam o esgoto da política, sem qualquer manifestação de inconformidade. Generais são líderes e têm responsabilidades e a história pátria está cheia de exemplos.” E continuou:

“O que incomoda a jornalista e sua grei política é ver surgir nova liderança nas Forças Armadas, embasada em alicerces e princípios morais e éticos inatacáveis. O Brasil anseia por governantes com esse perfil e com essa coragem.”

 “Tenho certeza que parcela expressiva da humilde e necessitada população brasileira aspira por mudanças e acalenta o sonho de voltar a ser conduzida por homens honrados. Não aceitam mais corruptos e políticos medíocres que, usando as chicanas da esperteza, só buscam benefício próprio”, disse o gen. Carlos Augusto, acrescentando:

“A palestra proferida pelo gen. Mourão sugere o nascimento de nova liderança militar. A decisão do marechal Castelo Branco, de limitar o tempo de permanência dos generais no serviço ativo, retirou dos quarteis as nefastas discussões político-partidárias e terminou de vez com caudilhos militares, mas deixou, entretanto, uma séria lacuna: o desaparecimento de lideranças militares autênticas e competentes, tão necessárias nos desastrosos e trágicos dias vividos pelo país.”

Poucos dias depois, o Ibope publicou nova pesquisa de intenções de voto para as eleições presidenciais de 2018. Resultado: forte aumento da rejeição aos principais nomes cotados para disputar a sucessão de Dilma: Inácio, 55% Aécio, 47% Marina, 50% Alckmin, 52% Serra, 54%. Rejeição significa: “não voto nele de jeito nenhum”. Do outro lado, da aprovação (eleitores que com certeza votarão no candidato), a coisa continua ruim para todos: Inácio, 23% Aécio, 15% Marina, 11% Serra, 8% Alckmin, 7%.

Nesse ponto, entra o segundo jornalista. No seu blog na Internet, ele avisa: “O dado mais significativo apontado pelo Ibope mostra que o aumento da rejeição das principais lideranças políticas do País é generalizado, com a queda da popularidade de Lula não beneficiando nenhum dos possíveis candidatos da oposição.”

E conclui, alarmado: “O levantamento reflete o crescente descontentamento da população com a classe política, sem que surjam novas lideranças nos grandes partidos. É um cenário favorável ao aparecimento de candidatos radicais nos extremos do espectro partidário, que se apresentam nestas horas como “salvadores da pátria”, sempre um perigo para a democracia.”

Juntemos as peças. Será que se encaixam? Dum lado, o fato incontestável: dentro da esculhambação geral, as Forças Armadas são vistas como única instituição confiável. Doutro lado, o eleitorado rejeita todos os políticos chapa-branca, quer sejam da quadrilha no poder ou da falsa oposição.

Ora, se o povo admira os militares e neles deposita suas esperanças, mas a constituição de 1988 o obriga a escolher nomes que ele, povo, rejeita, a única saída seria – falemos sem rodeios – o golpe militar. Mas os militares não querem nem ouvir falar disso.

Existe solução? Está na cara: um candidato com possibilidades de se eleger dentro das normas da constituição, mas identificado com os militares.


Parafraseando o Manifesto Comunista de 1848: um fantasma assusta a República Federativa de Bruzundanga: o fantasma do Bolsonaro.

4 comentários:

  1. Ricardo
    No § 5, 2ª linha, "enclausuradas no castro" não tem sentido. Castro tem sentido militar, é um castelo fortificado pré-romano. Já "claustro" ou clausura é parte da arquitetura religiosa de mosteiros e conventos, e são quatro corredores formando um quadrilátero com um jardim no meio. Eu corriji quando publiquei o meu post, mas esqueci do pleonasmo horrível, eis que apenas a palavra 'enclausuradas' já define. Desculpe, vou descer prá baixo...

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    1. É que estou treinando para não escrever mais sobre política, depois do 'direito de resposta' da gorda. Agora só escrevo abóbrinhas...

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    2. Pois é, Magu, eu também reparei nisso, mas pensando bem, "castro" até que faz sentido sim, pois o general Carlos Augusto referiu-se aos militares e, embora arcaica, a expressão quer dizer fortificação, lugar próprio deles. A freira enclausurada aí, entra apenas como adjetivo dos militares.

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  2. Existem duas coisas (entre tantas) que não devem se misturar, atividade militar com atividade política e vice versa. Mas acontece o mesmo com a atividade escolar e política, no entanto ninguém reclama quando professores fazem manifestações explicitamente políticas. De forma geral, nenhuma atividade profissional deve se misturar com atividade política, mas no Brasil isso acontece com monstruosa frequência e todo mundo tolera, a única profissão que tem estado isenta de se misturar com a política é justamente a atividade militar, mas basta um militar expressar uma opinião política e muitos ficam histéricos.

    Os militares não deixam de ser cidadãos, por mais diferenciada que seja sua atividade profissional, possuem o mesmo direito de livre expressão que qualquer outro cidadão. São exatamente esses imbecis, que não sabem a diferença entre o indivíduo e sua atividade profissional que, também não sabem a diferença entre intervenção militar e golpe militar.

    Para aqueles que não sabem a diferença, vou tentar mostrar. Golpe militar tem como objetivo tomar o poder para implantar um regime (ditadura) militar, enquanto que uma intervenção militar é um governo provisório para recuperação das instituições republicanas quando essas deixaram de cumprir sua responsabilidades perante a cidadania.

    Agora eu pergunto: qual instituição republicana está cumprindo sua obrigação perante a cidadania, o Executivo que promove a corrupção, o Legislativo que é submisso ao Executivo, ou o Judiciário que só funciona para denúncias que se destacam na imprensa?

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