A falta de senso de ridículo em todas as esferas do conhecimento é a marca registrada que essa corja petralha - em seus estertores como organização - nos deixa e que vai levar décadas para ser apagada por completo.
Felipe Melo: A Intentona coroada
O dia 9 de novembro marca o aniversário da queda do Muro de
Berlim. Por anos, esse muro foi a materialização de uma realidade que se
tentava manter oculta para o resto do mundo – a adoção deliberada de repressão,
patrulhamento, escassez, fome, perseguição e extermínio como políticas de
Estado nos países comunistas. As notícias enviadas do outro lado da Cortina de
Ferro eram aterradoras. Os vinte e seis anos da queda desse muro da vergonha
deveriam ser motivo para manter viva a memória de todas as tragédias, coletivas
e particulares, provocadas pelo comunismo. Mas há quem prefira, ao contrário,
louvar a ideologia mais mortífera do século XX.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e a
Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) promoverão, entre os dias 18
e 21 de novembro, um seminário de comemoração da Intentona Comunista. A
Intentona, também conhecida como Revolução Vermelha de 1935, foi uma tentativa
de golpe contra o presidente Getúlio Vargas levada a cabo pela Aliança Nacional
Libertadora, organização de matiz socialista liderada por Luís Carlos Prestes –
que havia, na década de 1920, liderado outra revolta, de caráter tenentista,
conhecida como Coluna Prestes. De acordo com o portal da UFRN, a Intentona
ensejou grande repressão por parte do governo Vargas e “o início de um
anticomunismo ainda muito presente na sociedade brasileira”. A historiografia
oficial nos conta que o objetivo desse movimento golpista era derrubar Vargas.
No entanto, a Intentona começou a ser gestada muitos anos antes de Getúlio
assumir o poder.
REVOLUÇÃO TIPO EXPORTAÇÃO
Com a vitória da Revolução Bolchevique de 1917, a liderança
do Partido Comunista Russo, então liderado por Vladimir Lênin, enxergou a
premente necessidade de organizar formalmente os esforços de todos os partidos
comunistas do mundo para promover a revolução global. Desse modo, em 1919, foi
criada a Internacional Comunista (Comintern) com o objetivo de concertar
esforços, táticas e ações dos partidos comunistas de todo o mundo com o
objetivo de tomar o poder em seus respectivos países e neles implantar a
ditadura do proletariado. O Comintern, teoricamente, pautava-se pelo chamado
“centralismo democrático”, onde questões programáticas eram objeto de discussão
dos grupos internos da organização comunista. Na prática, esse princípio de
organização leninista, que fingia ser uma espécie de fórum democrático em que
debates abertos orientavam as diretrizes dos partidos comunistas, era falso:
tudo era decidido pelo Partido Comunista da União Soviética (PCUS) – e, em
última instância, por seus homens fortes.
Em 1922, entre os dias 5 de novembro e 5 de dezembro,
ocorreu em Moscou o IV Congresso Mundial do Comintern. Partidos comunistas de
58 países enviaram delegados, sendo 343 o número de delegados votantes. Sob a
presidência de Lênin e Leon Trotsky, o IV Congresso contou com a presença de
personalidades comunistas importantíssimas, como o italiano Antonio Gramsci. No
entanto, um dos destaques do congresso foi um ilustre desconhecido: Antônio
Bernardo Canellas, delegado do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Canellas
ficou famoso no contexto do IV Congresso por pedir um aparte no meio de um discurso
Trotsky – o chefe do Exército vermelho chamaria o brasileiro de “o fenômeno
sul-americano”.
O POTENCIAL COMUNISTA DOS TRÓPICOS
Durante o IV Congresso do Comintern, Canellas apontou a
necessidade da criação de um órgão que tratasse especificamente da América
Latina. A proposta foi submetida a votação, e contou com o entusiasmado apoio
de Antonio Gramsci. Surgiu, assim, o Secretariado Latino do Comintern,
submetido à autoridade do recém-criado Comitê Executivo da Internacional
Comunista (CEIC). Em 1925, ocorreu o V Congresso do Comintern, do qual surgiu o
Secretariado para a América do Sul, com sede em Buenos Aires. Seu principal
órgão era o Escritório de Propaganda do Comintern para a América do Sul,
chefiado por Abilio de Nequete, fundador e primeiro secretário-geral do PCB. Em
1927, saía a primeira edição do La Correspondencia Sudamericana, jornal do
Secretariado para a América do Sul, cujo editor era o argentino Rodolfo
Ghioldi.
O VI Congresso do Comintern ocorreu em julho/agosto de 1928.
Com o relato do sucesso das atividades do Secretariado para a América do Sul,
foram eleitos sete membros latino-americanos para o CEIC – dentre eles, Rodolfo
Ghioldi e o brasileiro Astrojildo Pereira, membro-fundador do PCB. Essa eleição
dava proeminência considerável ao secretariado, o que representava a
importância da América Latina para o Comintern e, portanto, para Moscou.
Nesse ínterim, Prestes havia liderado seu frustrado levante
dos anos 1920 e, junto com outros revolucionários, exilou-se na Bolívia. Em
1928, conheceu Ghioldi, sendo recrutado pelo argentino para as fileiras do
Comintern. A partir desse ano, passou a receber treinamentos específicos para a
organização de uma revolução comunista no Brasil. Em 1930, retornou para o
País, instalando-se clandestinamente em Porto Alegre. No ano seguinte, a
convite do governo soviético, mudou-se para Moscou, onde sua formação ganhou
profundidade e amplitude. Sua importância estratégica para o Comintern era
tamanha que, ao voltar para o Brasil, em 1934, veio acompanhado de dois
importantes agentes da Internacional Comunista: os alemães Olga Benário (que,
depois, seria mulher de Prestes) e Arthur Ernest Ewert, oficial da NKVD
(serviço secreto que precedeu a KGB).
O “CAVALEIRO DA ESPERANÇA” CONTRA-ATACA
Em agosto de 1935, ocorreu o VII Congresso do Comintern, o
último antes de sua dissolução. Georgi Dimitrov, Secretário-Geral do CEIC,
determinou, dentro da estratégia de “frentes populares” – organizações de massa
de caráter teoricamente anti-fascista –, que o PCB apoiasse a criação da
Aliança Nacional Libertadora (ANL) tendo, por presidente, Luís Carlos Prestes.
O papel da ANL seria o de promover uma sublevação armada no Brasil que tinha
por objetivo a implantação de uma ditadura do proletariado a soldo de Moscou.
Para tanto, era necessário organizar um discurso de caráter nacionalista e
anti-varguista que, em seu bojo, carregasse bandeiras sociais que pudessem
ludibriar o povo brasileiro e atrair sua simpatia – reforma agrária, abolição
da dívida externa, etc. No mesmo congresso, Prestes foi eleito membro efetivo
do CEIC, e Ghioldi, chefe do Secretariado para a América do Sul.
A operação revolucionária a ser liderada por Prestes e
encampada pelo PCB teria como principais pontos de apoio: o Secretariado para a
América Latina; Iumtourg, uma falsa agência de turismo e casa de câmbio
controlada pelo Comintern e sediada no Uruguai, por meio da qual se poderia
criar uma ponte financeira entre Moscou e o Brasil; e os partidos comunistas de
Argentina, Uruguai e Chile. Todos os agentes envolvidos haviam sido financiados
pelo governo soviético e recebido treinamento militar especializado. O momento
exato do início da revolta armada dependia diretamente do aval do Comintern.
Os detalhes da Intentona Comunista tomam um livro inteiro –
aliás, o jornalista William Waack escreveu o excelente “Camaradas”, com farta
documentação comprobatória. Meu propósito não é apresentar uma análise profunda
e exaustiva desse evento, que, para nossa sorte, não foi adiante. Almejo, ao
traçar um breve histórico das origens da Intentona Comunista, duas coisas.
A primeira é expor esse movimento tal qual ele foi – uma
tentativa de golpe que tinha por objetivo a implantação, no Brasil, de uma
ditadura do proletariado nos moldes soviéticos e consolidar um posto avançado
da União Soviética no continente americano. A segunda é suscitar uma pergunta:
o que merece ser comemorado, afinal de contas? É digno de comemoração o
aniversário de uma conspiração transnacional de tomada de poder através da
violência armada, orquestrada por um governo que deixou em seu rastro dezenas
de milhões de cadáveres, e que, mesmo fracassada, foi capaz de exemplos
detestáveis de barbarismo e crueldade – como a execução da garota Elza, uma
menina semi-alfabetizada de 16 anos estrangulada à morte a mando de Prestes?
Celebrar o aniversário da Intentona Comunista não é apenas
um disparate: é um ultraje. E fazê-lo por meio de instituições federais de
ensino superior – o que praticamente confere à homenagem um caráter de
oficialidade governamental – é um ultraje além da medida. Se há algum exemplo
claro e paradigmático de como as universidades federais brasileiras são
ideologicamente orientadas para reproduzir o discurso hegemônico da esquerda,
eis tal exemplo.
Meu comentário será no estilo musical, disponível neste endereço:
ResponderExcluirhttps://www.youtube.com/watch?v=aj5KIg61Wjk
Sugiro que o vídeo seja incluído no final da postagem.
(argento) ... atentar apenas ao detalhe: "FEDERAL", este é um DETALHE que faz a Diferença, o outro Detalhe é que a festança é bancada com as Verbas que arrancam (assaltam) do meu, do seu, do nosso bolso ...
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