quinta-feira, 19 de novembro de 2015

“Racismo é qualquer discurso que reafirme a existência de raças, seja para o bem ou para o mal”

Paulo Cruz
Pedro Henrique Franco: Racismo e ideologia - Uma entrevista com Paulo Cruz

O racismo é assunto muito presente no debate público em nosso país. Frequentemente a sociedade brasileira é chamada de “racista” por um grupo de paladinos da bondade composto, geralmente, pela esquerda política. Isso foi tão repetido ao longo dos anos que muitos acreditam ser verdade. Nós temos certeza que enquanto indivíduos não somos racistas, mas, ao mesmo tempo, afirmamos que a sociedade da qual somos parte, o é. Será que isso é verdade? Será que a sociedade brasileira é realmente racista? Ou será que a esquerda se utiliza desse discurso somente para se perpetuar no poder?

Paulo Cruz, dono do blog “Esperando as musas”, nos ajudou a responder essas perguntas na brilhante entrevista que segue.

1) Olá, Paulo. Primeiramente, gostaria de salientar que é um prazer realizar essa entrevista com você. De início, você poderia nos contar um pouco da sua história?

O prazer é todo meu! Bem, sou o caçula (a “raspa do tacho”, nascido dez anos após o último) dos quatro filhos de Antônio (in memorian) e Benedita. Sou casado e tenho um filho. Cresci num lar de muito trabalho, estudo e incentivo. Meu pai, já casado e com três filhos, resolveu voltar a estudar; com muitas dificuldades fez supletivo do ensino fundamental, curso técnico em contabilidade e duas faculdades: Ciências Contábeis e Direito. Tudo isso após os trinta anos de idade e recém saído do alcoolismo. Depois, quando eu já estava na escola, foi a vez de minha mãe voltar a estudar – ela também só tinha o fundamental incompleto. Terminou o Ensino Médio, formou-se Técnica em Enfermagem, e voltou a trabalhar, concursada, aos 57 anos. Acabou de se aposentar, aos 72.

Eu, após trabalhar como office-boy para o meu pai, fiz ensino médio técnico em Eletrônica e iniciei minha vida profissional, como estagiário, em 1994. Depois cursei tecnologia em Processamento de Dados, e, após mais um período como estagiário, me estabeleci nessa área.

Após 20 anos na área de Tecnologia, tive uma espécie de epifania lendo “A Montanha dos Sete Patamares”, de Thomas Merton, e descobri que Deus me vocacionara para a docência. Entrei na faculdade de Filosofia em 2009, formei em 2011, e, em 2014, deixei a área de TI para lecionar.

2) Você mantém o blog “Esperando as Musas” e já publicou também na “Gazeta do Povo” e no “Mídia Sem Máscara”. Foi por meio desses veículos que você se tornou conhecido na internet ou houve algum evento específico que o impulsionou?

O evento que, digamos, ampliou o alcance do que eu dizia nas redes sociais foi uma entrevista que concedi ao meu querido amigo Bruno Garschagen – autor do best-seller “Pare de acreditar no governo”, publicado pela Editora Record – e seu famoso podcast no Instituto Mises Brasil. E essa entrevista nasceu de um comentário que fiz, no Facebook, a respeito da invasão do Movimento Negro numa aula de economia, na USP.

3) No seu blog “Esperando as musas” você trata principalmente do racismo. Em sua opinião, a sociedade brasileira é racista?

Na verdade, eu não tratava de racismo em meu Blog até a entrevista para o Bruno, que foi em março deste ano (2015). Racismo é um assunto periférico em meus interesses, coisa da qual eu não falava há muito tempo. Eu convivi por muito tempo com esse tema fazendo parte do meu dia a dia: nasci numa família bastante consciente, conheci grupos de movimento negro, ajudei a criar um, li muita literatura direcionada a esse assunto, biografia de personalidades negras; enfim, cheguei a concordar bastante com o que o movimento negro que eu chamo de “clássico”, dizia, e me fiz porta-voz disso durante muito tempo. Porém, de uns 10 anos para cá esse assunto só entrou em meu caminho de maneira absolutamente incidental. Meus interesses são, sobretudo, Filosofia, Teologia, Literatura e Cinema – assunto que você encontra em meu blog.

Agora, respondendo à sua pergunta: não, a sociedade brasileira não é racista. Há racismo no Brasil, sim. E o que chamo de racismo é qualquer discurso que reafirme a existência de raças, seja para o bem ou para o mal. Diferentemente do preconceito, que também existe e é tirar, sem fundamento, conclusões a respeito de algo ou alguém. Dizer, por exemplo, que diminuir a maioridade penal afetará diretamente a população negra (não por haverem mais criminosos entre esse grupo, mas só por serem negros), é preconceito.

Veja, somos um país amplamente miscigenado – os pardos ou mestiços somam quase 50% da população –, a população brasileira não é branca. O segurança de shopping que “persegue” o negro, não é branco; o policial que aborda o negro, não é branco; o porteiro de prédio que discrimina, não é branco; e, muitas vezes, um negro é preterido em uma vaga de emprego (claro, nos casos raros em que a cor é o real motivo) por um empresário ou gestor que não é branco. Ou seja, o racismo no Brasil é um problema pontual e, sobretudo, de estupidez. Não é, em absoluto, generalizado. Eu mesmo já sofri preconceito, mas nem me lembro a última vez que isso ocorreu. Um país jovem, recém saído de um sistema escravista, tem muito que aprender. E esse ranço racial só acabará com o tempo e com a educação das novas gerações

4) Nos seus textos você utiliza a expressão “instrumentalização do racismo”. O que você quer dizer com isso?

Instrumentalização ideológica do racismo. Quero dizer que o conceito de “raça” (muito em voga no séc. XIX por conta dos eugenistas), abandonado quando não se concretizaram as diferenças biológicas que caracterizassem tal distinção entre os povos, foi posteriormente cooptado pelos intelectuais progressistas, transformado em “cultura” e é utilizado pelos movimentos de esquerda em sua sanha por “reformas sociais”. Daí colocam negros, LGBT, idosos, sem-terra etc., todos no mesmo balaio dos ressentidos, e dizem: “vamos defender vossos interesses”. Mas o que fazem, na verdade, é usar esses grupos como massa de manobra de próprios interesses. Isso começa, como eu disse, na Academia, as teses se proliferam e tomam proporções urgentes. Depois, os “justiceiros sociais” – muitos meros idiotas úteis desses movimentos revolucionários – saem repetindo uma série de jargões e fomentando tensões sociais por meio desse discurso. E toda a sociedade perde com isso.

5) É sabido que após a abolição da Escravatura grande parte da população negra descambou para uma vida à margem da sociedade, ou mesmo para a criminalidade. Até hoje, por exemplo, a maioria da população pobre brasileira é composta por negros e pardos. Em sua opinião, qual a melhor maneira de mudar esse quadro?

Primeiro: menos Estado; ou seja, menos impostos e menos “projetos sociais” eleitoreiros; segundo: valorização da educação de base; terceiro: incentivo ao empreendedorismo; quarto: formar o imaginário das novas gerações sem essa divisão por raças, que inferioriza e tira o ímpeto das pessoas por soluções. Esse quarto, em minha opinião, é o mais importante de todos!


6) É comum ver movimentos sociais que defendem minorias bem como “intelectuais” ou políticos de esquerda serem alçados ao status de ícones da bondade por pregarem um discurso de “igualdade”, por exemplo, racial. Em sua opinião, qual o benefício real que esses trouxeram para a vida dos negros e pardos brasileiros?

Nenhum. Só trouxeram mais problemas.

7) A esquerda faz um jogo de destruição da imagem pública muito forte. Na questão racial, por exemplo, durante anos parecia consenso que todo direitista (seja liberal ou conservador) era racista. Em sua opinião, qual a melhor forma da direita se livrar desse rótulo?

Divulgando ao máximo a atuação dos conservadores nos movimentos abolicionistas (tanto nos EUA como no Brasil) e na valorização do indivíduo. Lembrar, por exemplo, que a Ku Klux Klan foi criada pela esquerda americana; e que, no Brasil, havia um projeto dos conservadores (monarquistas) para a indenização dos ex-escravos, mas os republicanos não deram prosseguimento. E, sobretudo, surgirem mais conservadores negros intelectualmente preparados (afinal, se a cor da pele ainda é levada em consideração, que seja utilizada ao nosso favor) para o debate, como nos EUA: Booker T. Washington, Thomas Sowell, Walter Williams, Alfonzo Rachel, Allen West, Condoleezza Rice, Mia Love, Albert Guillory e tantos outros.

Publicado na Feedback Magazine.


2 comentários:

  1. (argento) ... pensamento fora da Think Tank ...

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    1. (argento) ... "afinando", ainda, um pouco mais, fora da Think Tank ...

      “Racismo é qualquer discurso (pensamento, Ação Afirmativa, LEI, ...) que reafirme a existência de raças, seja para o bem ou para o mal”

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