Paulo Cruz |
Pedro Henrique Franco: Racismo e ideologia - Uma entrevista
com Paulo Cruz
O racismo é assunto muito presente no debate público em
nosso país. Frequentemente a sociedade brasileira é chamada de “racista” por um
grupo de paladinos da bondade composto, geralmente, pela esquerda política.
Isso foi tão repetido ao longo dos anos que muitos acreditam ser verdade. Nós
temos certeza que enquanto indivíduos não somos racistas, mas, ao mesmo tempo,
afirmamos que a sociedade da qual somos parte, o é. Será que isso é verdade?
Será que a sociedade brasileira é realmente racista? Ou será que a esquerda se
utiliza desse discurso somente para se perpetuar no poder?
Paulo Cruz, dono do blog “Esperando as musas”, nos ajudou a
responder essas perguntas na brilhante entrevista que segue.
1) Olá, Paulo.
Primeiramente, gostaria de salientar que é um prazer realizar essa entrevista
com você. De início, você poderia nos contar um pouco da sua história?
O prazer é todo meu! Bem, sou o caçula (a “raspa do tacho”,
nascido dez anos após o último) dos quatro filhos de Antônio (in memorian) e
Benedita. Sou casado e tenho um filho. Cresci num lar de muito trabalho, estudo
e incentivo. Meu pai, já casado e com três filhos, resolveu voltar a estudar;
com muitas dificuldades fez supletivo do ensino fundamental, curso técnico em
contabilidade e duas faculdades: Ciências Contábeis e Direito. Tudo isso após
os trinta anos de idade e recém saído do alcoolismo. Depois, quando eu já
estava na escola, foi a vez de minha mãe voltar a estudar – ela também só tinha
o fundamental incompleto. Terminou o Ensino Médio, formou-se Técnica em
Enfermagem, e voltou a trabalhar, concursada, aos 57 anos. Acabou de se
aposentar, aos 72.
Eu, após trabalhar como office-boy para o meu pai, fiz
ensino médio técnico em Eletrônica e iniciei minha vida profissional, como
estagiário, em 1994. Depois cursei tecnologia em Processamento de Dados, e,
após mais um período como estagiário, me estabeleci nessa área.
Após 20 anos na área de Tecnologia, tive uma espécie de
epifania lendo “A Montanha dos Sete Patamares”, de Thomas Merton, e descobri
que Deus me vocacionara para a docência. Entrei na faculdade de Filosofia em
2009, formei em 2011, e, em 2014, deixei a área de TI para lecionar.
2) Você mantém o blog
“Esperando as Musas” e já publicou também na “Gazeta do Povo” e no “Mídia Sem
Máscara”. Foi por meio desses veículos que você se tornou conhecido na internet
ou houve algum evento específico que o impulsionou?
O evento que, digamos, ampliou o alcance do que eu dizia nas
redes sociais foi uma entrevista que concedi ao meu querido amigo Bruno
Garschagen – autor do best-seller “Pare de acreditar no governo”, publicado
pela Editora Record – e seu famoso podcast no Instituto Mises Brasil. E essa
entrevista nasceu de um comentário que fiz, no Facebook, a respeito da invasão
do Movimento Negro numa aula de economia, na USP.
3) No seu blog
“Esperando as musas” você trata principalmente do racismo. Em sua opinião, a
sociedade brasileira é racista?
Na verdade, eu não tratava de racismo em meu Blog até a
entrevista para o Bruno, que foi em março deste ano (2015). Racismo é um
assunto periférico em meus interesses, coisa da qual eu não falava há muito
tempo. Eu convivi por muito tempo com esse tema fazendo parte do meu dia a dia:
nasci numa família bastante consciente, conheci grupos de movimento negro,
ajudei a criar um, li muita literatura direcionada a esse assunto, biografia de
personalidades negras; enfim, cheguei a concordar bastante com o que o movimento
negro que eu chamo de “clássico”, dizia, e me fiz porta-voz disso durante muito
tempo. Porém, de uns 10 anos para cá esse assunto só entrou em meu caminho de
maneira absolutamente incidental. Meus interesses são, sobretudo, Filosofia,
Teologia, Literatura e Cinema – assunto que você encontra em meu blog.
Agora, respondendo à sua pergunta: não, a sociedade
brasileira não é racista. Há racismo no Brasil, sim. E o que chamo de racismo é
qualquer discurso que reafirme a existência de raças, seja para o bem ou para o
mal. Diferentemente do preconceito, que também existe e é tirar, sem
fundamento, conclusões a respeito de algo ou alguém. Dizer, por exemplo, que
diminuir a maioridade penal afetará diretamente a população negra (não por
haverem mais criminosos entre esse grupo, mas só por serem negros), é
preconceito.
Veja, somos um país amplamente miscigenado – os pardos ou
mestiços somam quase 50% da população –, a população brasileira não é branca. O
segurança de shopping que “persegue” o negro, não é branco; o policial que
aborda o negro, não é branco; o porteiro de prédio que discrimina, não é
branco; e, muitas vezes, um negro é preterido em uma vaga de emprego (claro,
nos casos raros em que a cor é o real motivo) por um empresário ou gestor que
não é branco. Ou seja, o racismo no Brasil é um problema pontual e, sobretudo,
de estupidez. Não é, em absoluto, generalizado. Eu mesmo já sofri preconceito,
mas nem me lembro a última vez que isso ocorreu. Um país jovem, recém saído de
um sistema escravista, tem muito que aprender. E esse ranço racial só acabará
com o tempo e com a educação das novas gerações
4) Nos seus textos
você utiliza a expressão “instrumentalização do racismo”. O que você quer dizer
com isso?
Instrumentalização ideológica do racismo. Quero dizer que o
conceito de “raça” (muito em voga no séc. XIX por conta dos eugenistas),
abandonado quando não se concretizaram as diferenças biológicas que
caracterizassem tal distinção entre os povos, foi posteriormente cooptado pelos
intelectuais progressistas, transformado em “cultura” e é utilizado pelos
movimentos de esquerda em sua sanha por “reformas sociais”. Daí colocam negros,
LGBT, idosos, sem-terra etc., todos no mesmo balaio dos ressentidos, e dizem:
“vamos defender vossos interesses”. Mas o que fazem, na verdade, é usar esses
grupos como massa de manobra de próprios interesses. Isso começa, como eu
disse, na Academia, as teses se proliferam e tomam proporções urgentes. Depois,
os “justiceiros sociais” – muitos meros idiotas úteis desses movimentos
revolucionários – saem repetindo uma série de jargões e fomentando tensões
sociais por meio desse discurso. E toda a sociedade perde com isso.
5) É sabido que após
a abolição da Escravatura grande parte da população negra descambou para uma
vida à margem da sociedade, ou mesmo para a criminalidade. Até hoje, por
exemplo, a maioria da população pobre brasileira é composta por negros e
pardos. Em sua opinião, qual a melhor maneira de mudar esse quadro?
Primeiro: menos Estado; ou seja, menos impostos e menos
“projetos sociais” eleitoreiros; segundo: valorização da educação de base;
terceiro: incentivo ao empreendedorismo; quarto: formar o imaginário das novas
gerações sem essa divisão por raças, que inferioriza e tira o ímpeto das
pessoas por soluções. Esse quarto, em minha opinião, é o mais importante de
todos!
6) É comum ver
movimentos sociais que defendem minorias bem como “intelectuais” ou políticos
de esquerda serem alçados ao status de ícones da bondade por pregarem um
discurso de “igualdade”, por exemplo, racial. Em sua opinião, qual o benefício
real que esses trouxeram para a vida dos negros e pardos brasileiros?
Nenhum. Só trouxeram mais problemas.
7) A esquerda faz um
jogo de destruição da imagem pública muito forte. Na questão racial, por exemplo,
durante anos parecia consenso que todo direitista (seja liberal ou conservador)
era racista. Em sua opinião, qual a melhor forma da direita se livrar desse
rótulo?
Divulgando ao máximo a atuação dos conservadores nos
movimentos abolicionistas (tanto nos EUA como no Brasil) e na valorização do
indivíduo. Lembrar, por exemplo, que a Ku Klux Klan foi criada pela esquerda
americana; e que, no Brasil, havia um projeto dos conservadores (monarquistas)
para a indenização dos ex-escravos, mas os republicanos não deram
prosseguimento. E, sobretudo, surgirem mais conservadores negros
intelectualmente preparados (afinal, se a cor da pele ainda é levada em
consideração, que seja utilizada ao nosso favor) para o debate, como nos EUA:
Booker T. Washington, Thomas Sowell, Walter Williams, Alfonzo Rachel, Allen
West, Condoleezza Rice, Mia Love, Albert Guillory e tantos outros.
Publicado na Feedback Magazine.
(argento) ... pensamento fora da Think Tank ...
ResponderExcluir(argento) ... "afinando", ainda, um pouco mais, fora da Think Tank ...
Excluir“Racismo é qualquer discurso (pensamento, Ação Afirmativa, LEI, ...) que reafirme a existência de raças, seja para o bem ou para o mal”