Se há algo que hoje me martele a cabeça é a impressão que estão carregando demais nas tintas sobre a recuperação do Rio Doce. É claro que o rompimento em si foi uma catástrofe enorme e inadmissível. Seja de quem for a culpa, todo castigo será pouco e não é uma multazinha de dez merréis que vai servir de reparação, mas que estão exagerando nos laudos sobre a recuperação do Rio Doce, lá isso estão.
Deu na BBC Brasil
Cientista garante que o Rio Doce vai se recuperar sozinho
Paulo Rosman, professor de Engenharia Costeira da COPPE/UFRJ
é autor de um estudo encomendado pelo Ministério do Meio Ambiente para avaliar
os impactos e a extensão da chegada da lama ao mar, ocorrida no último domingo
e que afeta a costa do Espírito Santo. Embora especialistas tenham divulgado
previsões de danos catastróficos, que incluiriam danos à reserva marinha de
Abrolhos, no sul da Bahia, e um espalhamento da lama por até 10 mil m², Rosman
afirma que os efeitos no mar serão “desprezíveis”, que o material se espalhará
por no máximo 9 km e que em poucos dias a coloração barrenta deve se dissipar.
Para ele, há três diferentes cenários de gravidade do
desastre e de velocidade de recuperação. No alto, onde a barragem se rompeu,
próximo ao distrito de Bento Rodrigues, deve durar mais de um ano e dependerá
de operações de limpeza dos escombros e de um programa de reflorestamento. Para
ele, a sociedade e os governos mineiro e federal precisam cobrar de Vale e BHP
Hillington, donas da Samarco, o processo de reflorestamento e reconstrução
ambiental, de custo “insignificante” para as empresas.
Ele diz que, na maior parte do percurso do rio Doce, as
próprias chuvas devem limpar os estragos e os peixes devem voltar ao rio no
período de cinco meses, e, no mar, a diluição dos sedimentos deve ocorrer de
forma mais rápida – até janeiro do próximo ano.
Nos últimos dias,
especialistas, ativistas, moradores, pescadores e indígenas têm repetido que o
rio Doce “está morto”. O senhor diz que ele “vai ressuscitar”. Como isto deve
acontecer?
Há muitos exemplos de acidentes muito mais graves e mais
sérios do que este da barragem de Mariana. Veja a erupção vulcânica do monte
Santa Helena, nos Estados Unidos (em 1980). Foi tudo devastado e destruído,
numa área imensamente maior. Você vai lá hoje e vê que os animais voltaram e a
mata voltou.
Para fazer a conta, você tem que pegar o peso da lama e
dividir pela massa específica dessa lama. Se neste momento eu tenho 4 kg/m³ de
água e for dividir pela massa da lama, dá mais ou menos 1,3 mm. Então isso
significa que se esses sedimentos todos se depositassem no fundo do rio
formariam um tapete de 1 mm de espessura, o que nem vai acontecer, porque a
correnteza vai levar.
As fortes chuvas entre novembro e abril “lavarão” o rio
Doce, num processo natural. Digo isso baseado em quantidades de sedimentos, em
conhecimentos de processos sedimentológicos, na dinâmica de transporte desses
sedimentos pelas correntes dos rios, dos estuários, das zonas costeiras. Então
essas coisas são relativamente rápidas, a natureza se adapta, se reconstrói, se
modifica.
Como o senhor avalia
a mortandade e o retorno de peixes ao rio, posteriormente? E como responde a
especialistas que avaliam que a recuperação da área e do rio pode levar mais de
dez anos?
A onda de lama matou os peixes, mas o volume, pelo que eu vi
publicado nos jornais, representa uma quantidade muito baixa. A não ser que
tenha havido algum erro de cálculo, foi divulgado que morreram 8 mil kg de
peixes no rio Doce. Veja, na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro:
quando há uma baixa mortandade, estamos falando em 70 mil peixes, mas este
número pode chegar a 200 mil, e depois sempre há o retorno. A gente sabe que
não demora muito para que a Lagoa encha de peixe de novo.
Quanto aos comentários de especialistas citados, eu diria
apenas que eu espero que eles estejam enganados. Não vou entrar em discussão.
Mas basta olhar coisas que já aconteceram. Por exemplo, a quantidade de
sedimentos que desceu dentro do rio Itajaí-Açu (SC), no final de 2008, quando
caíram inúmeras encostas no vale do Itajaí, na região de Itajaí e Blumenau.
Houve um desmoronamento do cais do porto, um mega-assoreamento do canal do
porto de Itajaí, sem contar diversas mortes na tragédia. Foi um evento natural,
e em quantitativos ele é extremamente maior do que esse do rio Doce.
E o porto de Itajaí está lá, o rio Itajaí-Açú está lá,
Blumenau está lá. O rio voltou ao normal. Sinceramente eu acho que essas
pessoas estão sendo movidas pelo impacto humano da tragédia, pela emoção. As
mortes e os prejuízos são dores e perdas eternas. Mas temos que separar. Para
voltar para o plano racional, só deixando o tempo passar.
É possível mensurar a
quantidade de sedimentos que chegou ao mar do Espírito Santo e o impacto
ambiental disso? Dias atrás cientistas cogitaram impactos catastróficos nos
ecossistemas marinhos da região.
Sim. De acordo com os últimos números, a concentração a 10
km de distância da foz do rio Doce, onde a lama teve contato com o mar, está
entre 50 e 20 mg/l de sedimentos em suspensão. Isto é muito insignificante para
ser considerado um risco ambiental. É absolutamente desprezível.
Para se ter uma ideia, a água transparente do mar, costeira,
tem tipicamente 5 mg/l de sedimentos em suspensão. A água dentro de uma baía
tem tipicamente entre 50 mg/l a 100 mg/l de sedimentos em suspensão. A água de
um rio com cor barrenta tem em torno de 500 mg/l de sedimentos de suspensão,
são todos dados naturais.
Rios muito barrentos, como o Amazonas, têm entre 1.500 e
2.000 mg/l de sedimentos em suspensão na época de cheia.
Então se a 10 km da foz do rio Doce você vai ter
concentrações de no máximo 50 mg/l no mar, embora você veja a coloração
diferente por mais algumas semanas, é óbvio que não estamos falando de danos
ambientais. Diferentemente de um vazamento de petróleo, que você usa bactérias
para decompor e limpar – e leva tempo e gera mortalidade de vida marinha muito
maior -, no caso atual você não tem como “limpar” a lama no mar. Ela se dilui
naturalmente, sozinha.
Mesmo que você tenha um padrão de ventos que gere correntes
fora do usual, a distância é tão grande e a diluição é de tal ordem que não
causaria efeitos danosos em Abrolhos.
E quanto à composição
destes sedimentos que compõem a lama? É possível que seja descoberto que têm
uma toxicidade muito maior do que se imagina e que possa causar danos futuros?
Risco sempre há, mas não tenho razões para acreditar nisso.
Já ouvi pessoas que não são da área darem prognósticos devastadores quanto à
toxicidade desse material. E já ouvi pessoas que são especializadas, da área de
geologia, e que conhecem muito bem isso, dizerem o oposto, que se trata de um
material de baixa toxicidade.
Então não tem grandes impactos persistentes no longo prazo.
As pessoas podem tirar da cabeça essa ideia de que se trata de algo radioativo,
de um veneno ambiental que vai matar tudo e nunca vai sair do chão. Não é nada
disso.
Para você ter uma ideia, a doutora Marilene Ramos, que é a
presidente do Ibama, tem doutorado em mecânicas do solo. Ela fala inclusive com
um conhecimento específico de solo muito maior do que o meu. Ela me disse que
esse material não é de alta toxicidade e que é basicamente areia fina, argila e
óxido de ferro. Claro que tem traços de outras substâncias, mas em
concentrações muito baixas, que não oferecem risco.
Na sua opinião o que
deveria ser feito no distrito de Bento Rodrigues (MG), o vilarejo mais devastado
pela avalanche de lama? Como limpar ou recuperar o local? E quanto isto pode
custar?
Primeiramente o governo de Minas Gerais precisará avaliar o
que retirar de escombros, de estruturas danificadas, e ver se deixa algo como
marco simbólico da tragédia. É um absurdo permitir o retorno das pessoas para
aquele local.
Se eu fosse o governo de Minas Gerais obrigaria a Samarco a
fazer um parque memorial ali. Fazer um projeto bonito, fazer um paisagismo, uma
correção de solo, um jardim, e ficaria como memória, com homenagem às pessoas
que sofreram essa desgraça toda. Ninguém vai poder voltar a morar ali.
O senhor orientaria o
governo mineiro a retirar os outros povoados que estão na linha de avalanche de
outras barragens de rejeito de mineração?
Com certeza. Muitas vezes os povoados se formam próximo às
barragens porque atraem empregos e comércio. Mas o poder público não poderia
permitir a instalação de povoados em áreas de passagem de eventos como esse que
ocorreu. Hoje não faltam ferramentas computacionais que nos permitem simular um
rompimento de uma barragem e mostrar qual é a trilha de percurso da avalanche.
Atualmente é inaceitável e injustificável ter povoados em rotas de avalanche de
barragens, ninguém poderia morar nestes locais.
O senhor considera
que isto foi uma irresponsabilidade dos atores envolvidos?
Olha, irresponsabilidade é quando você tem consciência do
fato e não faz nada. Tudo é óbvio depois que você já sabe o que aconteceu. Ou
seja, a partir de agora, deste exemplo dramático e catastrófico, se o governo
não tomar medidas para realocar pessoas em áreas de alto risco, em outros
locais onde se sabe que poderia ocorrer algo semelhante a Mariana ou até pior,
eu diria que estaríamos falando de uma atitude mais do que irresponsável, mas
sim criminosa.
Há duas opções. Você pode remover o povoado para outro
local, ou se o povoado for grande demais, você embarga o negócio lá em cima.
Para de usar a barragem, estabiliza, deixa secar, e pronto. Transfere a
atividade para outro lugar. Tem que ver o que é mais viável.
Partilho sem ressalvas da opinião de Paulo Rosman. Agora, carregar nas tintas, a meu ver, tem mais como finalidade conseguir mais grana que, depois que passar o impacto inicial (já começou), será destinada a fins excusos. Os atingidos continuarão na merda, ou lama.
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ResponderExcluir(argento) ... valeu, Fróes, estava esperando algo assim - equilibrado, isento, anti-pânico - sobre o "Maior Desastre ECOLÓGICO de Todos os Tempos". Também Acredito que a Natureza, se recupere, como sempre faz; aliás. o Oxido de Ferro, diluído na terra enriquecerá o solo, a fauna e flora do rio, sem contar que a lama ainda pode fornecer matéria para Olaria
ResponderExcluirTivemos em época recente o Pânico, usado como Ferramenta Psicológica de Convencimento de uma população Desinformada e ignorante, para Camuflar a real motivação (intenção) política de Desarmar o Civil Ordeiro e Temente à Lei (um possível agente político). Tal ARTIFÍCIO gerou um desequilíbrio de forças que permite a implantação da "Revolução do Proletariado" sem a necessidade da participação do Proletariado ...
(argento) ... em tempo: Água Mineral Ferruginosa - seus benefícios, pois contém ferro (óxido de ferro), auxilia no de tratamento de anemia, anorexia, diminui o cansaço e a fadiga.
Excluir(argento) ... sobre Mariana, oportuno assistir os vídeos do Pirúla, que por sinal é Biólogo
Excluirhttps://www.youtube.com/watch?v=ErK4zIk7kPs&feature=em-hot-vrecs
https://www.youtube.com/watch?v=IAkNsoz1iuM
Muito boa a pesquisa do Pirula.
ExcluirEntre aqueles que querem maximizar e aqueles que querem minimizar, fico ao lado daqueles que mantém a boca fechada. O rio vai se recuperar em um ano, insignificante para alguns inaceitável para outros, A questão não é quanto tempo a natureza demora para se recuperar sozinha, mas o que os humanos vão fazer para acelerar a recuperação.
ResponderExcluir(argento) ... segundo as mais modernas doutrinas: "só é eficaz quando Dói no Bolso!" ...
ResponderExcluir(argento) ... para a Mãe Natureza, nada é um "bicho de sete cabeças com oito rabos" - não deve ser esquecido que, enquanto viveram, a era dos dinossauros foi a mais longa era que, segundo a ciência atual, se tem notícia ...
ResponderExcluirDa mesma foram como não sentimos falta dos dinossauros, nós humanos não fizemos falta para eles.
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