Félix Maier: A longa noite negra da consciência
“Ciência social, no Brasil, é crime organizado.” Olavo de
Carvalho
O Dia da Consciência Negra foi criado em 9/1/2003, mas é
celebrado todos os anos no dia 20 de novembro, dia da morte de Zumbi dos
Palmares. Muitos municípios brasileiros inventaram um feriado nesse dia, para
alegria de uns poucos, como os funcionários públicos e os gazeteiros de sempre.
No dia 20/11/2003, o site O Indivíduo publicou o texto do
estudante Pedro Sette-Câmara, “A negra noite da consciência”, criticando a “Semana
da Consciência Negra”, que estava sendo realizada na PUC carioca. Foi um bafafá
e tanto, que rendeu xingamentos sem fim ao escriba, como racista, hitlerista e
outros nomes que todo esquerdista gosta de grudar na testa de quem não reza de
acordo com sua cartilha politicamente correta.
Uma década depois, pode-se afirmar que a noite negra da
consciência nacional continua cada vez mais profunda - e não é por conta
unicamente de alguns movimentos negros. Está mais do que comprovado que o
marxismo, o gramscismo, o desconstrucionismo à Jacques Derrida, a teoria
crítica ou contracultura da Escola de Frankfurt, o politicamente correto, o
preconceito linguístico à Pierre Bordieu ou à la Marcos Bagno são correntes
afins que têm por objetivo prioritário a destruição da cultura ocidental de
origem jucaico-cristã. Com a revolução ideológica dos esquerdistas, pode-se
dizer que foi para o brejo “a consciência crítica dos intelecutais, que é fator
regulador e filtrador do processo de interpretação” (CURY, 2012: 102-3). Com a
pregação da filosofia da miséria, o que restou foi a miséria da filosofia.
A rigor, já são 40 anos que dura a longa noite negra da
consciência brasileira, como escreveu Olavo de Carvalho. Dentro desse processo
de desconstrução social do Brasil, os movimentos negros têm grande importância
ao propor e receber “reparações” de todo tipo em nosso País, por conta da
escravidão imposta a seus antepassados, em detrimento da população em geral.
Batendo de frente contra a Constituição, que preceitua que todos são iguais
perante a lei, independente de raça, religião ou sexo, esses movimentos querem
direitos exclusivos por conta da cor de sua pele. Para tal, foram criadas as
famigeradas “cotas étnicas”, que eu chamo de “cotas racistas”, configurando um
racismo às avessas, o racismo negro. Hoje, existe cota étnica para negros e
índios nas universidades e no serviço público. Não contentes com tais
privilégios, querem também cotas no Parlamento. Já abordei esse assunto em
textos publicados no MSM, como back2black.
A longa noite negra da consciência, especificamente
relacionada aos negros, pode ser comprovada pela importação de tudo o que não
presta dos EUA, como o funk e o rap. Vá lá, há algumas poesias de funk e rap
que são criativas e legítimas, por mostrar cruamente o que ocorre nas “comunidades”
outrora chamadas de “favelas” brasileiras. Como se sabe, o rap (rythm and
poetry - ritmo e poesia) é um tipo de “música” que teve origem na periferia de
grandes cidades norte-americanas, especialmente em guetos de negros, muitas
vezes pregando a violência. “Nos últimos anos, houve debates acalorados dentro
da comunidade negra e da mídia dominante após o suposto louvor à formação de
gangues, à violência e às drogas por parte dos rappers” (KELLNER, 2001: 239).
A pregação de violência nos morros cariocas, especialmente
contra a PM, pode ser conferida com o rapper Mr. Catra, do CD pirata “Proibidão”:
“Cachorro (PM),
Se quer ganhar um dindim (dinheiro),
Vende o X-9 (delator) pra mim
O patrão (chefe do tráfico) tava preso,
Mas mandou avisar
Que a sua sentença nós vamos executar
E com bala HK (fuzil)”.
E o que disse o então Secretário Estadual de Direitos
Humanos do Rio, João Luiz Duboc Pinaud (que é primo de Mr. Catra)? “É um rapaz
muito inteligente e sensível”.
Junto com o rap e o funk, veio o ebonics, a língua inglesa
negra dos EUA, que ignora verbos, suas conjugações e a pronúncia. O termo
originou-se de ebony e phonics. Lá como cá, é moda falar errado, dentro dos
conceitos do preconceito linguístico do tipo “é nóis” ou “nóis pega os peixe”,
como foi visto em cartilha do MEC.
Outra invenção americana foi a “teologia negra”, a qual, por
sorte, ainda não deitou raízes por aqui. Por enquanto. Afinal, se muitos
mulatos brasileiros se declaram negros puros, rejeitando o DNA do sangue branco
que corre em suas veias, tudo é possível. “O marxismo - como movimento
revolucionário - procura conquistar o poder fomentando conflitos sociais. Nos
Estados Unidos, a boa situação financeira dos trabalhadores industriais os
imuniza contra o vírus da luta de classe. Não podendo fomentar o ódio social da
luta de classe, o marxismo pretende, atualmente, nos Estados Unidos, fomentar a
luta racial. A este diabólico serve a ‘Teologia Negra’. O principal (porém não
o único) representante da teologia negra é James Cone. Nascido em 1938, no seio
da comunidade negra norte-americana, é licenciado em teologia pelo Seminário
protestante de Evanston (Illinois) e doutorado pela Northwestern University.
Seu primeiro e mais importante livro, Teologia Negra e Poder Negro, foi editado
em 1969; e em 1970, publicou Teologia Negra da Libertação. (Miguel Paradowski,
in “A Teologia Negra”, Verbo, Espanha, maio/julho/75). Para Cone, a teologia é
uma obra coletiva, comunitária, mas somente quando surgida na “comunidade dos
oprimidos”; para o teólogo racista, “somente uma comunidade dos oprimidos é uma
comunidade cristã”. Por isso, para Cone, a “teologia branca” é a “teologia do
Anticristo” e, para ser cristã, a “teologia branca deve transformar-se em
teologia negra, renegando a brancura como forma adequada do existir humano e
afirmando a negritude como a intenção de Deus para a humanidade”. A Teologia
Negra tem a mesma tendência que qualquer grupo de contestação política radical:
“transformar a comunidade tradicional em grupos de ação, isto é, transformar a
instituição em energia social - postulado do marxismo revolucionário” (Sig.
Altmann, redator dos temas religiosos do Der Spiegel, in “Adeus, Igreja”, Una
Voce, jan/março/75).
Afinal, o que de importante, culturalmente, foi criado pela
comunidade negra nos últimos anos no Brasil, além de violentos raps e funks que
glamourizam a violência e a promiscuidade? A caxirola? Pois é, o troço foi
proibido de ser usado na Copa do Mundo no Brasil em 2014, depois que
expectadores jogaram a estranheza na cabeça dos jogadores em jogo realizado em
Salvador, Bahia, a cidade que criou a tal coisa. Lá se foi para o ralo o sonho
bilionário de Carlinhos Brown...
O baiano Francisco Félix de Souza nasceu em 1771, filho de
um português com uma escrava. Alforriado aos 17 anos, mudou-se para a terra dos
seus ancestrais, na África. “Assim, em 1788, Francisco Félix de Souza
desembarcou em Benin e, por ironia do destino, tornou-se um próspero traficante
de escravos. Morreu aos 94 anos, teve 53 mulheres, oitenta filhos e 12.000
escravos, deixando aos herdeiros um fabuloso império de 120 milhões de dólares,
em dinheiro de hoje” (Alexandre Oltramari, in “Pelas lentes da história”,
revista Veja, 10/12/2003, pg. 115).
Uma das últimas alucinações brasileiras é o movimento “Reparações
Já”. Idealizado pelo Núcleo de Consciência Negra (NCN), o movimento surgiu em
1993, na Bahia, e pleiteia que o Estado brasileiro indenize a cada descendente
de escravo africano pelo trabalho gratuito de seus ancestrais, ou seja, “todos
os negros e mestiços do país”. Não tenho dúvida de que esses senhores, caso
tivessem vivido no tempo da escravidão, também teriam seus escravos, como
ocorreu com Zumbi dos Palmares e Francisco Félix de Souza. A indenização
pretendida pelo movimento é de US$ 102 mil para cada descendente de escravo. Eu
concordo em pagar minha parcela, desde que, antes, eu tenha o direito de ter
uma dúzia de escravos e algumas jovens mulatas para me acalentar nas minhas
horas tristes...
O jornalista Nelson Ramos Barretto, autor de famosa trilogia
sobre indígenas, quilombolas e MST, lembra como o movimento negro substituiu a
bondosa Princesa Isabel por Zumbi, um escravocrata que espalhava o terror nas
populações vizinhas a partir do Quilombo dos Palmares. Barretto apresenta uma
prova de que “Zumbi mantinha escravos de tribos inimigas para os trabalhos do
quilombo”, tirada do livro Divisões Perigosas, de José de Souza Martins (Ed.
Civilização Brasileira, Rio, 2007, pg. 99): “Os escravos que se recusavam a
fugir das fazendas e ir para os quilombos eram capturados e convertidos em
cativos dos quilombos. A luta de Palmares não era contra a iniquidade
desumanizadora da escravidão. Era apenas recusa da escravidão própria, mas não
da escravidão alheia. As etnias de que procederam os escravos negros do Brasil
praticavam e praticam a escravidão ainda hoje, na África. Não raro capturavam
seus iguais para vendê-los aos traficantes. Ainda o fazem. Não faz muito tempo,
os bantos, do mesmo grupo linguístico de que procede Zumbi, foram denunciados
na ONU por escravizarem pigmeus nos Camarões” (BARRETTO, 2007: 20).
“Nos anos 70, os historiadores marxistas projetaram no
Quilombo de Palmares tudo o que imaginavam de sagrado para uma sociedade
comunista: igualdade, relações de trabalho pacíficas e comida para todos.
Sabe-se hoje que o quilombo do século 17 estava mais para um reino africano
daquela época que para uma sociedade de moldes que surgiram mais de um século
depois. Zumbi provavelmente descendia de imbangalas, os ‘senhores da guerra’ da
África Centro-Ocidental. Guerreiros temidos, eles habitavam vilarejos fortificados,
de onde partiam para saques e sequestros dos camponeses de regiões próximas.
Durante o ataque a comunidades vizinhas, recrutavam garotos, que depois
transformariam em guerreiros, e adultos para trocar por ferramentas e armas.
Esse modo de vida é bem parecido ao descrito por quem conheceu o Quilombo dos
Palmares. ‘Quando alguns negros fugiam, mandava-lhes crioulos no encalço e uma
vez pegados, eram mortos, de sorte que entre eles reinava o temor’, afirma o
capitão holandês João Blaer” (Leandro Narloch, in “Guia Politicamente Incorreto
da História do Brasil” -
http://www.midiasemmascara.org/artigos/cultura/10631-guia-politicamente-incorreto-da-historia-do-brasil.html,
acesso em 10/6/2011).
Resumo da opereta: a consciência não deve ser negra, branca,
amarela ou vermelha, apenas consciência. Afinal, o gênero humano é um só e não
cabe mais, cientificamente, o conceito de raças, a não ser para os racistas,
que se aproveitam de leis espúrias e antidemocráticas para obter, não direitos,
mas regalias que não merecem.
Que saudade dos compositores e cantores negros americanos do
negro spiritual, do blues, do jazz, ou dos antigos compositores negros
brasileiros do samba e do chorinho. O clássico, em todas as artes, infelizmente
sumiu além do horizonte, dando lugar à mais pura baixaria. E isso não acontece
somente entre a cultura negra. O que temos hoje é a esbórnia total no teatro,
no cinema, na televisão, na cultura e nas canções. Dignidade, nunca mais!
Notas:
BARRETTO, Nelson Ramos. A Revolução Quilombola - Guerra
racial, confisco agrário e urbano, coletivismo. Editora Artpress, São Paulo,
2007.
CURY, Augusto. O Colecionador de Lágrimas - Holocausto nunca
mais. Planeta, São Paulo, 2012.
KELLNER, Douglas. A cultura da mídia - Estudos culturais:
identidade e política entre o moderno e o pós-moderno. EDUSC, São Paulo, 2001
(Tradução de Ivone Castilho Benedetti).