Por Ricardo Setti
Curioso: a própria “Folha de S. Paulo”, que “descobriu” a
pista de pouso construída em terras da família de Aécio, traz explicações
perfeitamente razoáveis sobre o caso
Para o jornal Folha de S. Paulo, assuntos importantes de
verdade não são o perigo de uma guerra de vastas proporções devido às mãos
sujas de sangue do presidente russo Vladimir Putin no caso do avião civil da
Malásia abatido por rebeldes nacionalistas ucranianos que têm seu apoio, nem o
sangrento conflito entre Israel e palestinos, nem sequer a controvertida volta
de Dunga ao comando da Seleção.
O assunto mais importante do planeta é, uma vez mais para o
jornal, algo que a Folha “descobriu”: a pista de pouso de mil metros de
comprimento - que o jornal insiste em chamar de “aeroporto”, quando basta ver
foto do local para constatar do que efetivamente se trata - construída pelo
governo de Minas, no segundo mandato do governador Aécio Neves (PSDB), na
cidade de Cláudio, via desapropriação de terrenos que pertenciam a um irmão da
avó materna do hoje presidenciável.
Enquanto nos títulos e subtítulos a Folha parece enxergar
que o mundo está despencando por causa do fato, nos textos o próprio jornal
apresenta explicações razoáveis para o ocorrido.
Vou usar, daqui para a frente, apenas textos transcritos na
íntegra de reportagens que o jornal traz hoje. Alguns comentários serão apostos
entre colchetes.
“O aeroporto (sic) feito na cidade de Cláudio custou R$ 13,9
milhões aos cofres do Estado. O aeródromo fica a seis quilômetros de distância
de uma fazenda que a família do tucano tem no município.”
“Aécio [no caso, a Secretaria de Obras do governo do Estado
de Minas] desapropriou o terreno do tio-avô onde o empreendimento foi
construído.O ex-proprietário e parente do tucano contesta na Justiça o valor
oferecido pelo governo em troca das terras - R$ 1 milhão. [Ou seja, o “benefício
à família” foi tão generoso que o parente resolveu brigar na Justiça, por não
concordar com ele.]
“A desapropriação é irreversível, mas só após o fim do
impasse o Estado poderá registrar o imóvel em seu nome”. [Em reportagem
anterior, o jornal fez um escândalo ao mostrar que alguém da família detém as
chaves de acesso à pista de pouso, embora as ceda para interessados. Detém as
chaves, como se vê, porque o Estado ainda não é, juridicamente, dono dos
terrenos.]
“Entre os documentos apresentados pela assessoria do tucano
estão pareceres de dois ex-ministros do Supremo Tribunal Federal, Carlos Ayres
Britto e Carlos Velloso, que dizem que a operação feita pelo governo do tucano
para viabilizar a obra, incluindo a desapropriação da área, foi legal”.
“Além disso, o PSDB apresentou cópia do inquérito aberto
pelo Ministério Público de Minas em 2009 para apurar a construção do aeroporto
(sic) após uma denúncia anônima à ouvidoria”.
“Em relatório de quatro páginas, a promotora responsável
pelo caso, Maria Elmira Evangelina do Amaral Dick, decidiu pelo arquivamento da
investigação, dizendo ter considerado satisfatórias as informações prestadas
pelo governo de Minas Gerais sobre a necessidade da obra”.
AGORA, O TEXTO É DO BLOG [do Setti]:
Há leitores me cobrando abordar o assunto, o que estou
fazendo agora pela segunda vez, depois de publicar nota de O Globo a respeito.
E há leitores, em maior número, criticando a exploração do fato pelos adversários
de Aécio, como forma de tirar proveito do episódio na campanha em prol da
reeleição da presidente Dilma.
(Por falar nisso, alguém tem dúvida de que foi a ANAC quem
vazou o caso?)
Não tenho dificuldade alguma em comentar o fato. Para dizer
que:
1. Se eu fosse governador, faria algo semelhante?
Nunca tive a pretensão de ocupar qualquer cargo eletivo,
mas, na hipótese, minha resposta seria NÃO. Não faria e, se fosse o caso de
algum subordinado querendo agradar ao chefe, impediria.
2. Há alguma ilegalidade no que foi feito?
A resposta, pelo que vocês leram acima, da lavra da Folha de
S. Paulo, é NÃO. Dois respeitabilíssimos ministros aposentados do Supremo deram
seu beneplácito à operação. E - importantíssimo - antes que a Folha achasse que
“descobriu” o fato, há exatos 5 anos, o Ministério Público debruçou-se sobre o
caso, para concluir que nada havia de irregular ali e mandar arquivá-lo.
3. Aécio beneficiou a família ao construir a pista de pouso?
A julgar pelo processo movido pelo parente CONTRA o Estado
de Minas, inconformado com a indenização recebida, a resposta é NÃO. A pista
foi construída entre 2009 e 2010, e a terra desapropriada em 2009. Há cinco
anos, portanto, o parente de Aécio batalha na Justiça para receber o que
considera justo - e até agora não recebeu 1 centavo. Como cabem vários recursos
em processos desse tipo, poderá passar uma década ou mais sem embolsar nada.
4. O fato desqualifica Aécio como candidato à Presidência?
Só na cabeça de seus mais ferozes adversários.
Aécio foi presidente da Câmara dos Deputados em 2001 e 2001,
período no qual, entre outros feitos, articulou com sucesso o fim da absurda e
imoral imunidade parlamentar como existia até então, e que protegia, com o
mandato, até assassinos. Elegeu-se e se reelegeu governador de Minas, o segundo
maior Estado brasileiro, vencendo no primeiro turno, e deixou o governo com
aprovação de 77% dos mineiros.
Tendo deixado o governo para concorrer ao Senado, elegeu-se
com votação recorde na história eleitoral de Minas.
A meu ver, é preciso muito, mas muito mais do que uma pista
de pouso de mil metros, cuja construção não violou lei alguma - embora, é
lógico, possa ter sua oportunidade e conveniência contestadas e/ou censuradas -,
para jogar na lama, como agora se pretende, a reputação de um político que
ocupou importantes cargos na República e em seu Estado de forma correta e
exitosa.
Ai... que preguiça!!! Afinal de contas qual é a bronca? O "aeroporto" não deveria ser construido ou deveria ser construido em outro lugar? Até agora ninguém disse que o "aeroporto" não está sendo útil para a cidade e para a região, então imagino que construir foi uma decisão acertada. Até agora ninguém disse que havia outro lugar melhor para construir o "aeroporto", então imagino que foi construido no lugar correto. Estão reclamando do que?
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