segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Ibope e “O golpe da pesquisa atrasada”

Carlos Newton

Na sexta-feira, quando o Ibope aplicou “o golpe da pesquisa atrasada”, divulgando depois do Datafolha um levantamento antigo e induzindo a opinião pública a julgar que Dilma Rousseff seguia em viés de alta e Marina Silva entrara em tendência de baixa, quando estava acontecendo justamente o contrário, o mais interessante foi a repercussão na internet, especialmente nos sites dos jornais, revistas e outros órgãos de comunicação.

Jornalistas, cientistas políticos e todo tipo de intelectuais logo apareceram dando peruadas a propósito de explicar a subida de Dilma, sem perceberem que na verdade as duas pesquisas mostravam que a candidata do PT estava em queda. Vamos omitir os nomes desses “analistas”, para poupá-los do ridículo.

Um deles começou assim o artigo, no site de um dos maiores jornais de São Paulo: “A reação da presidente Dilma Rousseff na corrida eleitoral mostra que previsões feitas por analistas políticos, algumas delas baseadas em trabalhos empíricos, vêm se mostrando acertadas”. E atribuiu o fato (que era factóide) à duração da propaganda na TV, elogiando “a competência de sempre do marqueteiro João Santana”.

Um cientista político da Fundação Getúlio Vargas alegou o seguinte: “A subida da candidata do PT é causada pelo fato de que no atual nível de aprovação (considerada como a soma de ótimo e bons), Dilma já fica numa zona mais confortável em termos de possibilidade de reeleição”.

Outro especialista perguntou e ele mesmo respondeu: “Mas por que a popularidade de Dilma se recuperou a partir de níveis bem medíocres, e que indicavam dificuldade de reeleição, há apenas poucos meses? Há, na verdade, um padrão de evolução da popularidade presidencial que aproximadamente se repete em 2013 e 2014 (mas apenas do final do primeiro semestre em diante), sugerindo algum fator sazonal. No ano passado, o pior momento foi, como em 2014, aproximadamente na metade do ano, na sequência das manifestações de junho. A partir daí, a popularidade teve gradual e moderada recuperação nos meses seguintes, como parece estar acontecendo este ano também”.

Fator sazonal? Como são criativos esses analistas… Mas vamos à opinião de um conhecido jornalista político, que afirmou: “Três fatores contribuem para equilibrar o cenário eleitoral no segundo turno: a propaganda positiva na TV que aumenta a popularidade do governo e dá coesão à base de apoio do PT, a propaganda negativa que rebaixa o teto da oposição, e uma cisão religiosa que distancia eleitores católicos de evangélicos”, vejam como são delirantes esses supostos analistas.

Muitas outras peruadas foram postadas nos mais importantes sites, para explicar a “subida” de Dilma, quando estava acontecendo justamente o contrário: na verdade o confronto entre as pesquisas Datafolha e Ibope no primeiro turno mostrava que Marina se estabilizara e voltara a subir (31% para 36%), enquanto Dilma parara de subir e começara a cair (caindo de 39% para 36%). E no segundo turno Marina continua vencendo a eleição, com 47% a 43%.

E la nave va, cada vez mais fellinianamente.

2 comentários:

  1. (argento) ... poizé, não faltam "razões" para mover, moldar a Massa-Alvo-das-Balas-Perdidas, assim como pessoas ou instituições dispostas a faze-lo ... (medo / culpa / ganãncia)

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  2. (argento) ... tem um lado perverso nas "pesquisas" que querem justificar o injustificável ou induzir uma "realidade-fictícia", tava lendo "Um País de Analfabetos Científicos" ... no enttanto, estes "analfabetos científicos" usam, com proficiência, aparelhos celulares, computadores, "hackeiam contas em bancos", quebram senhas, usam multiplos aparelhos com tecnologia de ponta, ... e são considerados "analfas científicos" ... estranho, não?

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