Vejam o absurdo |
Uma semana após 500 pessoas invadirem o galpão onde
funcionou, até meados da última década, a fábrica de plástico Tuffy Habib, no
Complexo do Alemão, uma decisão judicial determinou a reintegração de posse do
imóvel. Apesar da ordem expedida a pedido dos advogados do proprietário,
ninguém foi removido. A invasão aconteceu na madrugada do dia 23 de março deste
ano e, como nada foi feito desde então, o número de moradores se multiplicou
por mais de dez. Hoje, vivem ali, segundo cálculos da associação da nova
favela, 1.992 famílias, que construíram seus barracos colados uns nos outros.
Enquanto nada acontece, moradores vão sobrevivendo em
condições subumanas. O prédio de 12 mil metros quadrados não tem água potável,
nem sistema de coleta de esgoto. No andar superior do galpão, há três banheiros
para serem compartilhados por cerca de 1.200 famílias. A água sai com ferrugem
do encanamento, e a energia elétrica é conseguida graças a ligações
irregulares, denunciadas por emaranhados de fios sobre os barracos. Nos últimos
meses, foram registrados cinco incêndios no local. Em todos os casos, moradores
conseguiram evitar que o fogo se alastrasse.
Já no andar de baixo, as demais famílias estão espalhadas
por casebres que lembram as piores favelas de Nova Déli, capital da Índia. O
mau cheiro é insuportável. Um sistema improvisado de canos com diâmetro menor
que dois centímetros é a única maneira de conseguir água (com ferrugem),
recolhida em baldes e garrafas pelos moradores.
Ao lado da saída de água, há uma tampa de acesso à rede de
esgoto. O local, segundo moradores, é usado como banheiro. Alguns invasores
fizeram buracos no chão, dentro dos barracos, também para serem usados como
banheiros. Na parte de cima do galpão, como há canos de gás, os moradores não
puderam fazer o mesmo.
Entre os moradores, já há casos de tuberculose e pneumonia.
Alguns deles também sofrem com problemas de pele. Por causa da incidência de
casos, uma equipe da Unidade Pronto Atendimento (UPA) do Morro do Alemão fará
nesta quinta-feira uma visita ao local, para conversar com moradores e saber
como o problema pode ser combatido.
Autoridades devem se reunir ainda este mês para decidir
quando vai acontecer a operação de reintegração de posse. O Globo.
Vejam bem: “autoridades devem
se reunir...”. Pombas, é muita safadeza! A reintegração de posse foi resolvida
em março, sendo que até agora nada aconteceu a não ser piorarem as condições de
habitabilidade e as “otoridades” não sabem nem se vão se reunir para cumprir
uma ordem judicial!
É uma esculhambação geral, que começa pelo motivo da invasão.
É o seguinte: com a implantação da UPP do Alemão, os alugueis na favela
triplicaram de preço, muita gente ficou sem ter como pagar e resolveu invadir a
tal fábrica. Tudo bem, mas eu pergunto: desde quando é justo que alguém que se
apossa de um pedaço de terra urbano faça dele algum outro uso que não seja para
moradia e lucre com isso?
A cidade do Rio de Janeiro tem a quantidade absurda 1.243
favelas! Os últimos dados percentuais disponíveis indicam que 20% da população
da cidade vive nelas. Considerando que há 6 milhões de habitantes na cidade,
temos 1,2 milhão de favelados (se considerarmos a áera metropolitana são 2,4
milhões). Não há como precisar quantos deles moram em imóveis alugados, mas
estima-se que na Rocinha, por exemplo, sejam 30%.
A tolerância que se deve ter com uma favela é exatamente a
necessidade dos pobres terem um lugar para morar, já que o poder público, assim
como faz em todas as outras áreas de atendimento à população, não dá a mínima
para a questão habitacional. Não faz o menor sentido alguém tomar posse de um
bem alheio e usá-lo para obter lucro. Isso é ilegal, imoral, desumano e, pelo
visto, as autoridades não estão nem aí para o problema. Há favelados
espertinhos que fizeram fortuna se apropriando de terrenos públicos ou de
terceiros, construindo e alugando ou mesmo vendendo o que não é seu. Na Rocinha, por exemplo, há muitos desses e
todos os moradores de lá sabem quem são. Há prédios de até oito andares por lá!
Como a presença política sempre se limita às trocas de
favores – vota em mim que eu te deixo sossegado – a perspectiva que se tem é
que esse percentual aumente, já que os políticos não estão nem aí para dar
educação ao povo, nem no sentido da cidadania, para fazer saber ao povo o que
lhes é de direito.
Se eu tivesse tendências terroristas, aconselharia aos
favelados que pagam aluguéis a tomarem na marra o que lhes é de direito moral e
formal em vez de ficarem fazendo protestos violentos, cujos atingidos são
sempre quem não tem nada a ver com isso.
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