Um povo emburrecido e irresponsbilizado é a arma da esquerda

Zuenir Ventura: De pernas para cima

Não só a natureza está imprevisível, oferecendo às vezes quatro estações no mesmo dia e ventania como essa recente. Também o quadro eleitoral está esquisito

Uns poucos dias fora, sem acompanhar direito o noticiário, e uma volta cheia de surpresas, a começar pela entrada na Lagoa Rodrigo de Freitas pelo túnel, de carro. Um susto. Era irreconhecível para mim aquela paisagem de árvores, algumas com raízes, cobrindo automóveis e dezenas de grandes galhos arrancados violentamente por uma ventania de quase 100km/h. Não fiquei sabendo se tinha ocorrido um tufão, um furacão ou o quê. Mas, para uma cidade que se orgulha de não conhecer essas pragas naturais, foi assustador. Os relatos davam conta de vidros de janelas quebrados, falta de luz, caos no trânsito, prejuízos e muito medo. Vera, minha secretária, disse que se deitou e cobriu a cabeça para não ouvir o impressionante barulho do vento uivante. Transtornos semelhantes aconteceram em outros bairros, como Ipanema, Copacabana, Jardim Botânico, Botafogo, Joá.

Mas não só a natureza está imprevisível, oferecendo às vezes quatro estações no mesmo dia e ventania como essa recente. Também o quadro eleitoral está esquisito, com viradas inesperadas. Numa semana, Marina surge como a grande favorita, assusta os adversários levando-os a “ressuscitar o medo”, produz mudanças nas campanhas e sua arrancada parecia irreversível. Parecia, porque já encontrei Dilma reagindo nas pesquisas, toda animada e prometendo fazer até o que não fez durante o seu governo: mudar o Ministério, se eleita. A única constante na disputa presidencial é a queda de Aécio Neves, o que para mim é meio inexplicável. Bom de TV, administração aprovada em Minas, jovem, simpático, por que não emplaca? Ele já fala inclusive que “eleições se perdem”.

No Rio também houve uma reviravolta, com Pezão crescendo sete pontos no Datafolha e empatando tecnicamente com Garotinho, que perderia no segundo turno tanto para o candidato do PMDB quando para Marcelo Crivella, do PRB. Se esta última hipótese acontecer, vai parecer que a disputa será não para governador, mas para pastor. Aliás, um dos momentos mais divertidos dessa campanha foi a troca de acusações entre os dois numa rádio evangélica. Revidando a indireta do “irmão” (“há candidato respondendo a 70 ações”), Garotinho lembrou que o adversário fora acusado de desvio de dinheiro quando ministro da Pesca e que “quem tem mais processo é o bispo Macedo” (tio de Crivella). Alegando ser vítima de perseguição política, Garotinho evocou ainda um precedente de respeito: “Você conhece alguém mais processado do que Jesus? Mais caluniado do que Jesus?”

Se os dois irmãos disputarem o segundo turno, Jesus vai ser muito requisitado.

Eu também não entendo a queda de Aécio Neves: “bom de TV, administração aprovada em Minas, jovem, simpático, por que não emplaca”? Aliás, a bem da verdade, eu até entendo sim: um povo cada vez mais emburrecido e irresponsabilizado pelo governo do PT não pode mesmo ter a mínima noção da importância de um voto.