segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Desde quando casamento gay é tradição gaúcha?

David Coimbra: Os gays de Livramento

Nunca finquei o salto da minha bota num CTG*. Nunca entrei numa bombacha. Não sei andar a cavalo. Prefiro peixe a churrasco.

Sou a favor do casamento gay. Vejo homens andando de mãos dadas pelas calçadas perfeitas aqui dos Estados Unidos e acho extremamente civilizado. Sou contra qualquer tipo de discriminação sexual.

Feita essas ressalvas, gostaria que alguém me respondesse a uma questão sem qualificar a pergunta ou o perguntador, apenas para esclarecer minha mente obnubilada. A pergunta é a seguinte:

Por que esse casal gay de Santana do Livramento PRECISA casar-se num CTG?

Essas associações, os CTGs, foram feitas pra cultuar TRADIÇÕES. Esse é o objetivo. O troço se chama Centro de Tradições Gaúchas. O CTG é um clube, é uma entidade particular, privada, um CTG não é público, nem estatal. Eu, particularmente, não vou a CTG porque não tenho nenhum interesse em cultivar tradições. Eles, lá os gaudérios, eles têm.

Cerimônias de casamento heterossexuais são realizadas em CTGs, porque fazem parte das tais tradições deles. Casamentos homossexuais não fazem parte das tradições deles. Nem usar tênis. Nem cantar samba. Nem ser vegetariano.

Eu não sou vegetariano, mas eventualmente calço tênis ou canto sambas. Se quiser fazer isso, não o farei num CTG, porque nos CTGs eles não querem que as pessoas façam isso. É como ir a um casamento de camiseta. Todo mundo de terno, e eu de camiseta. Vou me sentir mal, e haverá quem ache que estou desrespeitando o casal em núpcias.

Se essas duas mulheres nubentes de Livramento fossem minhas amigas e me convidassem para o casamento delas, eu vestiria um bom terno e uma vistosa gravata, embora não goste de vestir ternos e gravatas. Faria isso por consideração a elas.

Mas elas pretendem realizar o casamento delas num Centro de TRADIÇÕES Gaúchas, embora, como já disse e todo mundo sabe, casamentos gays não façam parte das tradições gaúchas, mesmo havendo milhares, quiçá milhões de gaúchos gays, inclusive dançando a dança do pezinho nos CTGs.

Vou repetir: um centro de TRADIÇÕES é feito para que se cultuem as TRADIÇÕES. Entre as TRADIÇÕES não está entrar lá de tênis, cantar samba ou realizar casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Logo, quem quer andar de tênis, cantar samba ou casar com alguém do mesmo sexo não fará isso num centro de TRADIÇÕES.

Quando uma juíza determina que um casamento gay seja celebrado num centro de tradições, ela está afrontando essas tradições, está afrontando a própria natureza do tal centro. Ela, a juíza, não está promovendo a tolerância, está fazendo uma provocação. Tanto é provocação que, aparentemente, gaúchos defensores das tais tradições preferiram tocar fogo no CTG a vê-lo abrigando um casamento gay. O que é uma vasta ignorância e um crime, é óbvio, mas dá bem a medida do quanto essas pessoas se sentiram insultadas.

Um casamento é um ato de amor, é uma cerimônia de congraçamento, onde deve haver harmonia e alegria. Mas esse casal quer celebrar sua união em meio à hostilidade, numa entidade em que não são realizados casamentos gays, precisamente porque lá não é um lugar de diversidade, de novidades ou modernidades: lá é um lugar de culto a tradições, e as tradições são sempre as mesmas, ou não seriam tradições. As tradições são até anacrônicas, porque não são mais desse tempo, são de outro, de um tempo que não existe mais. Só que há quem goste disso.

Por que, então, casar-se nesse lugar? Para quê?

Casem-se, gays. Casem-se! Vivam o seu amor na plenitude, andem de mãos dadas pelas ruas, como fazem os gays de Nova York e Boston, namorem, troquem beijos apaixonados, sejam felizes para sempre, e deixem os gaudérios com suas tradições, sua picanha gorda, sua milonga, sua dança do balaio e com seu passado que talvez jamais tenha acontecido. Eles estão lá no clube deles, cultuando as tradições deles, achando que o Rio Grande é o melhor lugar do mundo e que não existe homem mais homem do que o gaúcho. É para isso que serve CTG. Deixem os tradicionais com suas tradições, mesmo que sejam antiquadas.

Eles gostam! O problema é deles. O mundo já está cheio de conflitos, as confusões nos procuram. Para que ir atrás delas?

12 comentários:

  1. (argento) ... Taí! - morri de inveja por não ter escrito algo tão claro ... (argento)

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  2. Foi realizado um evento no CT. O evento era a realização de vários casamentos e não promovido nem organizado pela juíza. Havia apenas UM par de homossexuais, que NÃO escolheram casar num CTG, apenas faziam parte da lista dos pares que teriam a união registrada oficialmente.

    A diretoria do CTG não foi obrigada a ceder o local e poderia estabelecer uma restrição para "casamento" de homossexuais.

    Por acaso foi o par de lésbicas quem organizou o evento? Foi o par de lésbicas quem alugou ou CTG? Incendiar o CTG é respeitar as tradições gaúchas?

    Mas tem outras questões: CTG é religião? CTG é idealismo? CTG é doutrina? A sede do CTG é uma edificação civil ou é um TEMPLO?

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    1. (argento) ... muito a ser explicado, neste "evento" ... enquanto isso, a Massa foi "motivada", como sempre, Movida, mais uma vez ... para isso serve a Massa de Manobra

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  3. Só uma pergunta: quem tacou fogo no troço? Já descobriram? Foi homofobia?

    A verdade é que enquanto não houver uma razão fortuita ou um culpado, a imprensa está sendo escrota na sua correção política.

    E Milton, se o lugar é um centro de tradições de um povo, é no mínimo uma questão de bom senso que não se realize um casamento gay lá, afinal, qual é o povo que gostaria de ter como tradição os casamentos homossexuais?

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    1. (argento) ... não faz parte do Sistema de Crenças cristão ou muçulmano - os que atualmente Hegemonizam a Moral corrente - o Casamento Gay (argento)

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    2. Primeiro: CTG não é o centro de tradições de um povo, as pessoas que frequentam o CTG não fazem a menor ideia do que era o gaúcho. Não existe um povo gaúcho, os gaúchos e os "rio-grandenses do sul" possuem origens totalmente distintas, mas os "rio-grandenses do sul" resolveram chamar a si mesmos de gaúchos por razões que eu desconheço.

      Gaúcho significa bastardo, chame um deles de bastardo e eles se ofendem, chame de gaúcho e eles sentem orgulho. Gaúcho também significa andarilho e vagabundo. Os gaúchos surgiram com a guerra civil na Argentina, onde espanhóis e índios do sul (pobre) se uniram contra o norte (rico) e venceram a guerra, tornando o norte pobre e o sul rico.

      Gaúchos eram os filhos dos soldados que engravidaram mulheres durante a guerra e nunca mais voltaram a vê-las. Os gaúchos tinham dificuldades de convivência em suas comunidades, então passaram a procurar trabalho em outros lugares, passando a serem chamados de andarilhos. Como eles tinham dificuldades para conseguir trabalho, acabaram sendo chamados também de vagabundos.

      Segundo: foi constatado que o incêndio foi criminoso.

      Terceiro: ninguém ficou incomodado com o incêndio, mas sim com a presença de um par de homossexual no CTG. Portanto se o motivo não foi o par homossexual, os "CTGeanos" estão considerando aceitável o incêndio se for por esta razão.

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  4. (argento) ... Gaúcho ... etmologia, quattro LINK, deu preguiça, após almoço:

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Ga%C3%BAcho

    http://www.paginadogaucho.com.br/hist/gaucho.htm

    http://mundoestranho.abril.com.br/materia/qual-e-a-origem-de-termos-como-carioca-e-gaucho

    http://etimologias.dechile.net/?gaucho

    há mais - nada é "definitivo" (argento)

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  5. Tá maluco, Milton? De onde você tirou essa fantasia toda sobre a palavra "gaúcho"?

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    1. (argento) ... foi só um surto, passou, afinal, Todos foram Absorvidos, ... até os gays, os há Gaúchos

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    2. O termo originou-se na região conhecida como Banda Oriental, um território correspondente ao que são o Uruguai e o Rio Grande do Sul atuais, encontrada pela primeira vez escrita num documento oficial da administração espanhola em 1771, numa comunicação do Comandante de Maldonado, Dom Pablo Carbonell ao Virrey Juan José Vértiz: "Muy señor mío; haviendo noticia quie algunos gahuchos se havian dejado ver a la Sierra mande a los tenientes de Milicias Dn Jph Picolomini y Dn Clemente Puebla, pasasen a dicha Sierra con una Partida de 34 hombres..." Em 1780 em um documento de Montevidéu "que el expresado Díaz no consentirá en dicha estancia que se abriguen ningunos contrabandistas, bagamundos u ociosos que aqui se conocen por Gauchos." (8 de agosto de 1780)

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    3. Coisa mais estranha, né? Pelo que me consta, gaúcho, termo indígena, significa 'nativo rural do Rio da Prata', o habitante da zona rural (pampas) do Uruguai e da Argentina, que se dedica à criação de gado, peão de estância, bom cavaleiro e, last but not least, habitante da zona rural do Rio Grande do Sul e, por extensão, de todo o estado; rio-grandense.

      Tal menção de Dom Pablo Carbonell ao vide-rei me parece que é apenas uma tentativa de desmoralizar quem o estava incomodando.

      O fato é que não há a menor sombra de dúvida que o riograndense do sul assumiu o termo "gaúcho" como gentílico e o ostenta com orgulho até maior que o desejável, cagando e andando para Don Pablo, e assumindo sim, que o CTG é um cetro de tradição de um povo, o povo gaúcho.

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    4. Essa "tradição" começou nos anos 80 e está ligada ao separatismo, antes disso usar bombacha era motivo de piada. O principal ícone da música gauchesca era o Teixeirinha, que foi sumariamente ignorado pelos CTGs.

      O termo gaúcho passou a ser usado com o sentido de vaqueiro por que era esse o trabalho que eles conseguiam, eles usavam bombacha por que durante a guerra os revolucionários compravam bombachas da Inglaterra, que tinha um estoque enorme, mas não tinha para quem vender, então vendiam baratinho para o revolucionários argentinos que não tinham dinheiro para produzir uniformes.

      O termo foi utilizado pelos rio-grandenses por que os gaúchos, tanto os vaqueiros como os "bagabundos" participaram da revolução farroupílha. Os membro dos CTGs são descendentes de italianos e alemães em sua maioria, existem negros e mulatos, mas não sei se existe algum descendente de espanhol com índio.

      Eu sou do sul, convivi com o surgimento dos CTGs e dessa "tradição" baseada em uma história que não existiu.

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