terça-feira, 2 de julho de 2013

As cartas não mentem jamais

Cético ao extremo, à beira do niilismo, minha descrença em deuses, religiões, fenômenos paranormais, sobrenaturais, OVNIs, seres extraterrestres, espiritismo, etc., é total e absoluta, mas ao classificar a “cirurgia espiritual” que esse tal João de Deus fez em Lula como embuste, me veio à memória um episódio que vivi e para o qual até hoje não tenho explicação.

Voltando no tempo (e como!) até meus quinze ou dezesseis anos eu e meu melhor amigo e parceiro de violão - conhecemo-nos desde o berço - estávamos juntos praticamente todos os dias, fosse tocando, conversando, jogando xadrez ou cartas. Era uma turma grande que se reunia na casa do Luiz (seu nome) - só as quatro irmãs dele já era uma “turma grande”.

Nessa época, influenciados pelo pai do Luiz, espírita, que tinha uma boa literatura sobre paranormalidade, fenômeno cujos estudos ainda engatinhavam, nós trocávamos muitas ideias sobre o assunto até passar da teoria à prática. Foi um frenesi de tentar enxergar auras, tentar mover copos, tentar viagens astrais, tentar ver discos voadores, tentar levitar objetos e outras “brincadeiras”. Nunca deram em nada.

Foi então que a revista Planeta, uma publicação que eu colecionava e só tratava desses assuntos, trouxe Cartas de Zener como encarte. As Cartas de Zener eram usadas para experiências ligadas à percepção extra-sensorial, principalmente no estudo da clarividência. Eram cinco cartas com as figuras de uma cruz grega, um círculo, um quadrado, uma estrela de cinco pontas e três linhas onduladas (figura). Uma coisa bem simples.

Ficávamos um em frente ao outro, às vezes tentando “mandar” a imagem da carta para que ela fosse lida e às vezes tentando “adivinhar” a ordem das cartas viradas para baixo. Mas nada disso produziu algum resultado que possa ser classificado como outra coisa a não ser coincidência.

Foi por aí que, após encerrarmos uma partida de Mau-Mau (jogo de cartas), estávamos conversando ainda na mesa e resolvi pegar o baralho com o qual jogáramos e tentar fazer o mesmo que fazíamos com as Cartas de Zener. Peguei a primeira carta e tentei “mandar” para o Luiz. E não é que ele acertou, o valor e o naipe?! E foi assim com as quatro ou cinco primeiras cartas, depois ele começou a errar e errou tudo.

Como eu não sou de desprezar a Matemática, fui para casa e fiquei com aquilo na cabeça: um baralho tem 52 cartas, portanto a probabilidade dele acertar a primeira carta era de uma em 52; a segunda, em seguida, era de uma em 2.704; e a quarta, uma em 7.311.616! Pombas! Isso era incrível!

Chato que sou, no dia seguinte cheguei na casa do Luiz decidido: nada de Mau-Mau!, o negócio é transmissão de pensamento! Peguei o baralho, praticamente obriguei o Luiz a sentar-se em frente a mim, comecei a “mandar” as cartas e, para nosso imenso espanto, as 52 cartas foram devidamente “recebidas”. Luiz tinha acertado todas! Aquilo não tinha sido, definitivamente, uma coincidência. Então invertemos a coisa e Luiz passou a me “mandar” as cartas: um fiasco! Nenhuma carta fora “recebida” por mim. Teria sido ele o mau “mandador” ou eu o mau “receptor”? Naquela noite fui para casa frustrado comigo, mas essa frustração não iria terminar aí.

Não satisfeito, dia seguinte continuamos, já estabelecendo que eu “mandaria” e Luiz “receberia”. Desta vez sugeri que ele fosse para o seu quarto e eu ficasse na sala, com o intuito de dificultar as “transmissões”. O resultado foi igual: Luiz acertou tudo.

Foi aí que eu tive a ideia de, ainda com ele no quarto, não olhar as cartas, não “mandar” mais as imagens, sem avisá-lo. A essas alturas, duas das irmãs de Luiz, que já estavam impressionadíssimas com a “brincadeira”, testemunharam-no declinar, uma por uma, todas as 52 cartas do baralho fechado, sem que ninguém as visse ou mesmo as tocasse. Embaralhei tudo e, de novo, Luiz repetiu a proeza, sem um erro!

Definitivamente frustrado por ter me descoberto um inútil no processo, obviamente fiquei abismado. Como explicar? Resolvi então ficar mais um pouco até que o pai de Luiz chegasse - ele chegava por volta de meia-noite - para relatarmos o fato e buscar uma explicação plausível, já que ele era conhecedor do assunto. Pois bem, a resposta que tivemos, para o espanto de todos, foi uma solene bronca daquelas! Disse ele que nós, de maneira nenhuma, deveríamos “brincar” com esse tipo de coisa porque estaríamos despertando forças espirituais incontroláveis. E proibiu que repetíssemos a “brincadeira” e tentássemos qualquer outra experiência semelhante.

Abusado que sou, tentei argumentar contra tamanho disparate dizendo que não estávamos evocando qualquer espírito, que aquilo tinha sido feito no ambiente mais saudável possível, mas de nada adiantou. O cara foi irredutível.

Como nunca fui de me impressionar, no dia seguinte lá estava eu propondo mais uma rodada de adivinhação. Infelizmente, Luiz era obediente demais para o meu gosto e, depois daquele sermão, nunca mais quis “brincar” de clarividência.

Pois é. Até hoje, sempre que esse episódio me vem em mente eu fico pasmo. Como explicá-lo? E se eu não fosse cético, qual seria a explicação?

Em todo caso, eu prefiro conviver com uma dúvida que aceitar respostas que não podem ser comprovadas, que são aceitas apenas pela fé.

2 comentários:

  1. Pois eh, o tal do curandeira Joao de Deus eh analfabeto, mas para o lula parece que eh melhor que os medicos do Sirio/Libanes que passaram 8 anos em cima dos livros e ainda estudam, pois um medico nao pode deixar de estudar, a medica corre e ele tem que correr atras.
    Eu nao acredito em curandeiros e muito menos em operacoes onde colocam a mao suja dentro do corpo de alguem.
    Credo!!!! Nao
    Vamos esperar que se o lula for curado ele inclua um curandeiro em cada hospital como opcao, assim o paciente tem alternativa.

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  2. Parece uma casca de banana, mas antes de me esborrachar no chão, expresso a minha fiel concordância com o príncipe Hamlet, quando tenta explicar ao amigo Horácio a fantasmagórica experiência vivida.

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