domingo, 21 de julho de 2013

O Enigma Olavo de Carvalho, por Milton Valdameri

Milton Valdameri, amigo e ex-companheiro do “Observador Político”, me mandou esse artigo escrito por ele abordando uma forma no mínimo curiosa de “interpretar” Olavo de Carvalho. Confesso que em minha relação que oscila entre a admiração e a aversão pelo filósofo, nunca me passou pela cabeça que os resquícios marxistas de Olavo ainda estivessem aflorados, mas como não sou seu espectador habitual, limitando-me apenas a ler seus artigos e só eventualmente dar uma espiada em seus vídeos de palestras, vou dar uma olhada no vídeo recomendado por Milton para tentar emitir uma opinião um pouco mais segura sobre o assunto.

A princípio, por alto, a analogia com Gramsci faz sentido. Mas vamos ao artigo.

Há alguns anos acompanho o jornalista Olavo de Carvalho, tanto no programa True Outspeak como no site Mídia Sem Máscara. Não há como negar que o Olavo traz ao público muitas informações importantes para a compreensão do processo político em andamento no Brasil e no mundo, além de contar um vários colaboradores valiosos, com destaque para a jornalista Graça Salgueiro.

Entre os méritos de Olavo de Carvalho, está a divulgação da existência do Foro de São Paulo, que até o momento (julho de 2013) é praticamente ignorado pelos maiores veículos de informação, mas há muitas contribuições significativas, como por exemplo a forma de atuação dos movimentos pró aborto.

Olavo de Carvalho foi militante marxista ligado ao grupo de Marighela, mas tornou-se voz discordante e iniciou uma militância pelo conservadorismo. Olavo desvenda para seus leitores e ouvintes o comportamento revolucionário, o pensamento de Gramsci e os segredos do marxismo em geral. O grande enigma é: Olavo de Carvalho deixou de ser marxista?

Nos primeiros contatos com o trabalho de Olavo de Carvalho, a oposição ao marxismo apresenta-se de forma explícita, sendo praticamente impossível supor a presença de algo favorável ao marxismo naqueles textos, áudios ou vídeos. No entanto o contexto formado pelo conjunto da obra resulta numa idolatria ao marxismo, levando o público ao comportamento marxista como forma de combate ao marxismo.

Não há nada que esteja mais de acordo com a revolução de Gramsci do que a obra de Olavo de Carvalho, a revolução invisível e silenciosa desenvolve-se sem que o público ou seus colaboradores percebam, desenvolve-se como se o protagonista não estivesse percebendo a revolução que ele próprio está conduzindo. Esta é dimensão do enigma: Olavo de Carvalho continua marxista ou apenas não percebe que aquilo que ele faz nada mais é que marxismo?

Reunir as evidências que mostram o marxismo de Olavo de Carvalho, em todos os textos, áudios e vídeos, exige muito tempo e resulta numa longa lista de citações, além de uma complexa demonstração ligando a análise de uma citação com as análises de outras citações, desmontando o método de Marx, que nada mais é que o método dissociativo.

Felizmente os eventos de junho de 2013, as manifestações que aconteceram no Brasil, resultaram num vídeo que foi disponibilizado na internet. O vídeo é uma aula do Curso on-line de Filosofia, proferido pelo Olavo de Carvalho, portanto é algo ensinado aos alunos e não apenas uma opinião jornalística. O vídeo estava disponível no YouTube (http://www.youtube.com/watch?v=CRENnVnRWTQ&feature=player_detailpage) em 18 de julho de 2013.

Olavo começa uma análise da situação dizendo que “o marxismo, enquanto ciência e técnica da ação revolucionária, não depende em nada da base econômica que nominalmente o sustenta”. A idolatria ao marxismo fica imediatamente explícito ao considerar o marxismo uma “ciência e técnica”, sendo também imediatamente confirmada ao dissociar a base econômica marxista do marxismo como “ciência e técnica”. A única técnica existente no marxismo a dissociação, ou seja, o método dissociativo, que é chamado pelos marxistas, inclusive pelo Olavo de Carvalho, de dialética.

Olavo prossegue dizendo que “essa ciência e essa técnica são de uma exatidão assustadora e não podem ser compreendidas só com a leitura dos pais fundadores do movimento, ou com a da sua crítica liberal”.  A idolatria ao marxismo mostra-se mais uma vez de forma incontestável, desta vez o marxismo não é apenas uma “ciência e técnica”, mas é também de uma “exatidão assustadora”.

O método dissociativo está novamente presente, desta vez dizendo como NÃO é possível compreender, mas dizendo que é necessário acompanhar a evolução do pensamento marxista, ou seja, o marxismo acaba sendo dissociado do próprio Marx, que só pode ser compreendido através de autores e estudiosos que surgiram muito tempo depois e estudaram o próprio Marx. A “ciência de exatidão assustadora” não permite que alguém estude Marx e chegue a mesma conclusão que os autores citados pelo Olavo, é necessário estudar a conclusão para chegar ao estudo inicial. Essa “ciência de exatidão assustadora” não permite chegar ao ovo partindo da galinha, estuda o ovo para chegar até a galinha. A exatidão deve estar baseada no fato de que o galo não põe ovos.

Se existe algo que não é possível encontrar no marxismo, é exatidão, nunca houve nem haverá um marxista apresentando algo com exatidão. O marxismo nada mais é que uma insanidade, chamada de dialética pelos marxistas, que jamais forma uma raciocínio lógico e não tem qualquer relação com dialética de fato.

No decorrer do vídeo é possível observar tanto a “exatidão assustadora” do marxismo como a “exatidão assustadora” do próprio Olavo de Carvalho. Diz o Olavo: “nenhuma ação comunista tem jamais, repito... jamais, um objetivo único e linear. Todas as decisões do comando comunista são sempre de natureza dialética e experimental. Jogam sempre com uma multiplicidade de forças em conflito, não interferindo jamais no quadro antes de ter uma visão bem clara das contradições em jogo e dos múltiplos sentidos em que elas podem ser trabalhadas”.

A exatidão do Olavo, mostrando a exatidão do marxismo, é igual à exatidão da Dilma Russef, ou seja, é assustadora. Olavo mostra que a exatidão do marxismo não é apenas assustadora, mas também é experimental em todos os seus atos e jamais, repito... jamais, deixa de ser assustadora. Olavo aprofunda seu raciocínio e revela: “se os protestos tem um objetivo político determinado, este só é definido na mente dos seus planejadores estratégicos maiores, em termos muito gerais e vagos”. A exatidão do marxismo fica cada vez mais assustadora, além de ser uma exatidão experimental, é também uma exatidão de termos muito gerais e vagos.

Foram analisados menos de dez minutos de um vídeo com aproximadamente uma hora de duração, o restante do vídeo deve ser analisado por aqueles que lerem este artigo, tanto para concordar, questionar, contestar ou refutar qualquer argumento ou afirmação que aqui tenham sido apresentados.

Ressalvo que esta crítica não diminui os méritos do Olavo de Carvalho, que são muitos, nem tem por objetivo julgá-lo ou induzir alguém a fazer julgamentos. Trata-se apenas de uma situação que, no meu entendimento, deixa dúvidas sobre o Olavo ser marxista, mesmo que involuntariamente. A mordacidade existente no texto é indispensável, pois critica um trabalho de alguém famoso pela mordacidade, inclusive pelo uso de palavrões (supostamente abandonados recentemente).

Reafirmo meu respeito ao jornalista Olavo de Carvalho e espero que ele seja respeitado por todos aqueles leram este artigo. Da mesma forma respeitarei todo e qualquer comentário e aceitarei debater sobre marxismo tanto com o próprio Olavo de Carvalho como com qualquer outra pessoa.

Milton Valdameri

8 comentários:

  1. Parei de ler no 3o. parágrafo, logo que o autor indaga se Olavo teria ou não deixado de ser marxista. Mas, em seguida, temendo estar sendo (mais) um intolerante, insisti e me obriguei a prosseguir na leitura do texto. Por entre a curiosidade e a decepção com o autor, li até o final do 4o. parágrafo e foi o bastante.
    Lamento e não voltarei a esse assunto.

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  2. Tudo bem, Razu, mas posso saber por quê?

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  3. Olavo não disse que o marxismo era uma verdade ao dizê-lo exato. Falácias também são exatas. Trata-se de um texto bom esteticamente falando, mas pobre filosoficamente pensado.

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  4. ACHO QUE O MILTON EXAGEROU NA DOSE DA VODKA...RS...
    MUITO CONFUSO O TEXTO

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  5. Não achei o texto confuso nem pobre. Talvez apenas um pouco extenso. Além disso, assistindo à "aula" do Olavo, dá para sacar claramente a ênfase que ele dá ao marxismo. Quanto ao caráter marxista das ideias dele como sendo sua expressão habitual, é uma opinião a ser considerada.

    Em um outro vídeo, Olavo faz duras críticas a Jabor, dizendo que apesar de todos o considerarem como um comuna arrependido que se bandeou para a direita, ele apenas trocou a esquerda radical pela esquerda norte-americana e que mudar de lado "não é assim", vapt-vupt, que uma transformação desses requer uma análise crítica aprofundada.

    Ora, aplicando o mesmo raciocínio do Olavo, pode-se perfeitamente dizer que ele, autodeclarado ex-comunista, também pode carecer de tal análise. Principalmente considerando-se o tamanho do ego de ambos, Olavo e Jabor, eu até arriscaria afirmar que se houve mudanças nas abordagens ideológicas dos dois, elas necessariamente teriam sido apenas no sentido de se tornarem mais palatáveis, já que ambos são inteligentes e detestariam ser confundidos com o lixo que é a intelectualidade esquerdista. Mudar de raciocínio, jamais.

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  6. Sem dúvida o artigo causou impacto, foi considerado bom esteticamente por um e confuso por outro. O comentário mais impressionante é aquele que afirma que existem falácias exatas, eu sinceramente gostaria de conhecer um exemplo de falácia exata.

    Milton Valdameri

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  7. "Trata-se apenas de uma situação que, no meu entendimento, deixa dúvidas sobre o Olavo ser marxista, mesmo que involuntariamente".

    Cara, ou o Olavo tem a "exata" noção de quem é, do q escreve e do que pensa, ou realmente a involuntariedade tomou conta do ser. Já venho observando isto que o Milton nos mostra já tem algum tempo. Sou um admirador do Olavo, mas me proponho, não somente com relação à ele, à contestar e refutar certos posicionamentos, coisa que é muito propagada pelo mesmo. Mesmo que ele admire bastante tais ideais, então a luta interna transparece como ojeriza pessoal, logo, ele repudia seu apreço (sem admitir)tendo consciência das falácias inerentes ao contexto, mas deixando, sem perceber, que o monstro pode trancar o médico a qualquer hora!

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