O súbito interesse pela política demonstrado pela classe
média anda produzindo uma série de confusões tipicamente sintetizadas pelo
ditado popular que diz que quem nunca comeu melado, quando come se lambuza. Mas
até que a lambança não é tão grave assim: é melhor aprender errando que não
aprender nunca.
Ainda outro dia, uma amiga que sempre fez questão de se
manter alheia a tudo que diz respeito à política e se orgulhava disso por achar
que, desta forma, estava manifestando sua indignação pela situação do país, me
veio com a bandeira do “referendo sim, plebiscito não”. Estranhei, é claro, tão
repentina mudança, sobretudo por se tratar de um assunto até certo ponto complexo
para quem, dias atrás, confessava sua ignorância no assunto.
Minha pergunta foi inevitável: por quê?, o que, obviamente,
foi seguido por uma argumentação meio sem pé nem cabeça, tipo “maria-vai-com-as-outras”.
Mesmo assim insisti no tema e perguntei se ela sabia a
diferença entre um plebiscito e um referendo. Ela não sabia, mas, para meu
espanto, ela, que de burra não tem nada, sacou uma resposta perfeita, baseada
apenas em um raciocínio léxico e lógico: “Sei lá, mas referendar significa aprovar
alguma coisa que já existe, não é? E plebiscito, portanto, deve significar aprovar
uma proposta. Acertei?”
Sim, ela tinha acertado na mosca - embora não tenha
justificado a opção, mas pelo menos raciocinou -, o que lhe valeu um pequeno
sermão dado por mim, dizendo, entre outras coisas, que essa sua participação tardia
contribuiu bastante para permitir que as coisas chegassem ao ponto da
amoralidade política absoluta que chegaram, que a recusa de pessoas intelectualmente
preparadas como ela em participar da vida política do país foi uma tentativa de
suicídio coletivo, já que as vítimas dos desgovernos do PT são sempre as que mais
pensam, mais produzem riquezas e mais pagam impostos.
Indignar-se por omissão em política é dar um tiro no próprio
pé, principalmente porque é deixar que esse cenário seja dominado por ignorantes,
imbecis, aproveitadores e ladrões que, por absoluta incapacidade produtiva em
todos os setores da vida de um país, só lhes resta como forma de sobrevivência o
parasitismo à nossa custa.
Tá ficando bom!
“O maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam”
ResponderExcluirArnold Toynbee
A gente não se interessar por política é o que eles mais querem!