sábado, 13 de julho de 2013

Ateísmo é crença


A postura de certos ateus me incomoda tanto quanto a de certos crentes que insistem em tentar provar que existem deuses, almas, espíritos, milagres e tudo o mais. E incomoda até porque temo ser confundido com algum membro do “ateísmo”, uma (des)crença mais absurda que qualquer outra, já que ela tenta provar uma “não existência”.

Seguindo essa linha, eu me permito a “heresia” de discordar até de Bertrand Russell que, em um artigo chamado “Existe um Deus?”, criou a analogia do “bule de chá”, cuja finalidade é mostrar que a dificuldade de desmentir uma hipótese não torna esta verdadeira, e que não compete a quem duvida desmenti-la, mas quem acredita nela é que deve provar sua veracidade.

Disse ele:

“Muitos indivíduos ortodoxos dão a entender que é papel dos céticos refutar os dogmas apresentados – em vez dos dogmáticos terem de prová-los. Essa ideia, obviamente, é um erro. De minha parte, poderia sugerir que entre a Terra e Marte há um bule de chá de porcelana girando em torno do Sol em uma órbita elíptica, e ninguém seria capaz de refutar minha asserção, tendo em vista que teria o cuidado de acrescentar que o bule de chá é pequeno demais para ser observado mesmo pelos nossos telescópios mais poderosos. Mas se afirmasse que, devido à minha asserção não poder ser refutada, seria uma presunção intolerável da razão humana duvidar dela, com razão pensariam que estou falando uma tolice. Entretanto, se a existência de tal bule de chá fosse afirmada em livros antigos, ensinada como a verdade sagrada todo domingo e instilada nas mentes das crianças na escola, a hesitação de crer em sua existência seria sinal de excentricidade e levaria o cético às atenções de um psiquiatra, numa época esclarecida, ou às atenções de um inquisidor, numa época passada.”

Tudo bem, seu Bertrand, mas pau que dá em chico também dá em francisco. Tentar provar que o bule existe não é mais impossível que provar que ele não existe.

Aqui, vou fazer um parêntesis: se Russel, que morreu em 1970, escrevesse esse artigo hoje, certamente ampliaria bastante seus horizontes quanto à analogia, localizando o bule de chá perto dos confins do universo, já que hoje talvez tenhamos condições tecnológicas de detectá-lo numa órbita entre a Terra e Marte.

Mas, voltando, para provar que o bule não existe (devidamente atualizado e colocado em qualquer lugar do universo), simplesmente teríamos que esquadrinhar tudo que existe, uma impossibilidade óbvia, portanto, o cético poderia continuar não acreditando no bule, mas jamais poderia asseverar que ele de fato não existe.

Assim é com os deuses. E como os ateus não conseguem provar as suas não existências, o “ateísmo” não pode ser considerado como sendo baseado na razão - afirmação orgulhosa e furada de dez entre dez dos seus militantes - e não passa de mais uma seita, crença, fé ou religião como outra qualquer.

Se para mim deus não existe, este é um problema exclusivamente meu: nunca me convenci (ou nunca me convenceram), mas nem por isso nego a possibilidade. Os tolos que a negam em nome da Ciência também negam o princípio básico da sua evolução, que são as eternas dúvidas e a certeza que nada é definitivo.

4 comentários:

  1. A impossibilidade de provar que Deus existe ou não, consiste na condição de que somos todos Deuses...

    Não está longe, no Céu, nas nuvens, está em cada um de nós...

    Estarmos aqui já é um milagre...

    Todo aquele que procurar dentro de si mesmo, vai encontrar Divindade maior do que este Deus que as religiões pregam.

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  2. É interessante reparar que as leis da física gravitacional, química, dos materiais etc. (o que conhecemos delas) já existiam antes do Big Bang - se não fosse assim ele(Big Bang) não teria tido condições para existir. Desde que foi esse o evento criador do universo que conhecemos, os cientistas ao criar essa teoria jogaram o real problema para antes dela. A coisica é difícil mesmo.

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  3. O melhor é mesmo nao ter bule de chá. Eu tenho uma maquina Nespresso que faz muito bem a minha vida. Hum!!! Latte machiato com canela, é o maximo.


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