quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Vamos organizar um perdão coletivo dos ex-comunas que acordaram a tempo, mas se esqueceram do mea-culpa

Logo depois que eu postei que Jabor deve um pedido de desculpas por apoiar o PT, Rodrigo Constantino também cobrou em post as desculpas de Miriam Leitão por motivos semelhantes. Só não sei que mea-culpa foi esse do Jabor que Rodrigo cita.

Miriam Leitão fala da tortura que sofreu na ditadura e quer pedido de desculpas. Legítimo, mas e o seu pedido de desculpas?

A jornalista Miriam Leitão decidiu revelar as supostas (aprendi com os jornalistas a usar o termo quando não há provas) torturas que teria sofrido durante o regime militar, incluindo ficar numa cela escura com uma jiboia e quase ser estuprada por vários soldados. São relatos chocantes, e não tenho motivos para duvidar de sua veracidade. Diz ela:

Minha vingança foi sobreviver e vencer. Por meus filhos e netos, ainda aguardo um pedido de desculpas das Forças Armadas. Não cultivo nenhum ódio. Não sinto nada disso. Mas, esse gesto me daria segurança no futuro democrático do país.

Uma postura decente. Miriam tem direito a um pedido de desculpas formal, e não resta a menor dúvida de que houve vários abusos e torturas por parte dos militares, o que é inadmissível. Segundo ela, seu único crime era integrar o PCdoB e fazer proselitismo entre os estudantes, além de ser namorada de outro militante, de quem estava grávida de um mês quando foi presa. Sendo verdade, isso não configura crime algum.

Infelizmente, o debate sobre nosso passado está tomado por emoções fortes e muitos interesses, tudo isso turvando a razão. A postura maniqueísta precisa ser abandonada. Compreender o contexto daquela época de Guerra Fria e ameaça comunista não é o mesmo que transformar os militares em santos, tampouco poupar aqueles que realmente praticaram tortura. Estes deveriam ter sido punidos pelos próprios militares decentes – grupo em maioria.

Por outro lado, a vitimização dos antigos comunistas, que tentam se pintar como legítimos democratas que do nada foram atacados por militares autoritários, não se sustenta por um segundo. Aquela turma jovem sonhava com o modelo cubano ou soviético, nada parecido com uma democracia. Alguns, como Fernando Gabeira, Arnaldo Jabor e Ferreira Gullar, fizeram uma dolorosa mea culpa de suas lutas juvenis equivocadas. Outros não. Querem pedidos de desculpas, mas não querem pedir desculpas.

Miriam Leitão, que gosta de um discurso de vítima em outras áreas (cartada sexual, racial, indígena etc), aproximou-se dos tucanos e passou a defender uma social-democracia nos moldes europeus, afastando-se assim do velho comunismo do passado. Com isso, passou a ser “acusada”, junto com os próprios tucanos, de “neoliberal” pela antiga esquerda mais radical. Não se conforma com isso.

Tanto é verdade que faz de tudo para ser “perdoada” pelos antigos companheiros. Mesmo quando precisa bater nos mais caricatos, nos “petralhas”, acaba atacando os conservadores e liberais também, como Reinaldo Azevedo e eu mesmo, para ficar bem na foto, posar de “neutra”. É um problema geral do tucanato: a lógica e a experiência os levaram mais para a direita, mas seus corações permanecem na esquerda. São prisioneiros emocionais do passado.

Acho, como já disse, que Miriam tem todo direito ao seu pedido de desculpas. Se sofreu o que diz mesmo, nada justifica isso. É uma postura covarde daqueles militares envolvidos. Mas ela não era uma heroína. Não era uma jovem democrata que defendia a liberdade. Era uma comunista, do PCdoB, entoando hinos marxistas e usando como símbolo a foice e o martelo.

Se essa turma tivesse logrado sucesso naquela época, o Brasil hoje seria uma imensa Cuba, algo que ainda não nos livramos justamente porque os comunistas ainda existem, sob o manto de bolivarianismo ou socialismo do século 21. Portanto, cabe perguntar: e o seu pedido de desculpas, Miriam, não teremos?

7 comentários:

  1. Comentando fora do tema:
    http://reaconaria.org/eleicoes2014/reacacast-eleicoes-2014/

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  2. Dentro do tema:
    Atualmente estou cursando o segundo período do Curso e Aquacultura da UFMG. Hoje mesmo tive uma aula, pela manhã, da disciplina "Setor Agrário e Organização Social no Brasil". Alguns irão classificar isso como "marxismo sendo ensinado dentro das Universidades", mas a história é bem outra:
    Estou conseguindo vislumbrar, conseguir os dados e entender "de verdade" as origens da fome e da miséria espalhada em todos os países da América Latina.
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    A expressão neoliberalismo contida no texto carrega atrás de si toda um contexto histórico que explica detalhadamente onde estamos enquanto nação (povo) e porque estamos (povo e países) nesta situação e vivendo esta estratificação social vigente e esta disparidade na distribuição da renda.
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    No Brasil, aos "Coronéis" devemos a manutenção da unidade de toda extensão territorial do Brasil a um alto custo: somente votavam aqueles que sabiam escrever o nome e, para que não escrevessem o nome em cédulas "erradas" eram reunidos no curral onde deviam votar sob olhares atentos, daí a expressão "voto de curral". Os mais reticentes (os "do contra") eram amarrados e castigados até que votassem sob "livre e espontânea pressão" no candidato do Coronel, daí a expressão "voto de cabresto".
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    Os "Coronéis" comandavam milícias próprias e a soma de todas estas milícias compunham a Guarda Nacional que garantia a integridade do território. As famílias dos Coronéis uniam-se em casamentos e em acordos políticos para manutenção do "status quo". Como consequência destas e de outras mazelas temos atualmente o comando do agronegócio Brasileiro concentrado em apenas nove famílias, temos Renan, Sarney e Collor ainda ocupando cargos de comando na nação. A distribuição e a concentração das terras nas mãos de poucos explicam o resto da artimanha que construiu muitas nações de "excluídos".
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    Falar de Liberalismo, neoliberalismo ou comunismo sem situar estar expressões dentro do contexto histórico faz parte da manutenção da ideologia da elite. Que elite? A mesma de sempre, que concentra em suas mãos terras, o capital, a produção e os preços. A mesma elite que direciona os votos de cabresto e de curral, a mesma elite que mente sobre a existência do poder e do Estado pois na verdade o Estado (e as ações deste) são ela mesma!
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    Nos tempos em que Míriam Leitão se dizia comunista era contra esta elite que ela lutava. A Míriam Leitão neoliberal deve ter encontrado espaço para continuar a mesma luta de antes, contra o mesmo inimigo. O resto é só ideologia (um conjunto de ideias mentirosas, procurando justificar o injustificável).

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    1. (argento) ... há, da mesma forma, os oligopólios em comunicação (mídia) exercidos por 6 famílias, de forma direta e mais 4 ou 5 de forma indireta ...

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    2. (argento) dos votos de curral cuidam os que dominam, a distribuição de terras, bolsas e os que promovem a favelização; dos votos de cabresto cuida a Mídia ... (argento)

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  3. Quem tem o treinamento necessário e utiliza as ferramentas corretas (cérebro pensante, conhecimento e capacidade de concatenação) está em pleno período fértil: Campanha eleitoral na mídia.
    Basta observar o que dizem os candidatos. Alguns chegam a elencar e prometer aquilo que denomino de "proposta inócua cuja única finalidade é catar votos dos desavisados".
    São propostas genéricas resumidas em frases pequenas que apontam melhoramentos ou até solução milagrosa em áreas de interesse do grande público, mas nunca apontam "como será feito", "em que prazo", "como será o processo de implantação", "de onde virá o financiamento".
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    Maioria dos candidatos comportam-se como psitacídeos e vivem repetindo as palavras de ordem ensinadas pelos que cuidam do marketing da campanha eleitoral.

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  4. Eleição: 84% dos parlamentares concorrem em outubro
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    Ao todo, 479 deputados e 38 senadores disputam algum mandato eletivo este ano.
    Qual o motivo de "tantos" estarem pleiteando continuidade na vida pública?
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    Lista completa dos candidatos

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  5. (argento) ... Poder, Controle e Salário - necessariamente nesta ordem! (argento)

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