Em comentário, Razumikhin exibe o fantástico currículo de Daniel
Ortega.
Há 33 anos, José Daniel Ortega Saavedra tornou-se um símbolo
da guerrilha de inspiração marxista, na vanguarda de um levante popular contra
uma das mais corruptas e sanguinárias ditaduras latino-americanas apoiada pelos
Estados Unidos: o governo de Anastasio Somoza, na Nicarágua.
Líder da Frente Sandinista de Libertação Nacional, Ortega
comandou a derrubada do ditador, que estava há 43 anos no poder e passara a
dominar mais de dois terços das atividades de produção e de comércio na
economia nicaraguense.
Três décadas depois de abandonar o fuzil, Ortega é o homem
mais poderoso da Nicarágua e, pela segunda vez, ocupa a Presidência da República.
Tornou-se, também, um dos homens mais ricos do país. A família Ortega já
rivaliza com a família Somoza em fortuna acumulada durante o exercício do
poder.
Em patrimônio, o velho guerrilheiro está cada vez mais
parecido com o antigo ditador: sua família passou a controlar cinco redes de
televisão, múltiplos empreendimentos na internet, redes hoteleiras, além de
deter a hegemonia na produção de gado e de leite.
O principal negócio dos Ortega é o lucrativo monopólio
privado estabelecido sobre o petróleo enviado pela Venezuela ao governo
nicaraguense em condições maternais (preço subsidiado e pagamento de 50% em 30
dias, com 25 anos para saldar a outra metade). São 10 milhões de barris de
petróleo por ano, uma dávida financeira de Hugo Chávez com recursos do caixa
dois da petroleira venezuelana PDVSA.
Ortega continua a ser uma figura simbólica, mas agora como
anti-herói, o oposto a tudo aquilo que a guerrilha sandinista projetou como
imagem e grupos organizados da esquerda simpatizante fez ecoar pela América
Central e do Sul, no final dos 70.
Entrou para o clube de presidentes latino-americanos que,
chegando ao poder, rapidamente ascenderam à categoria de milionários, sempre em
circunstâncias obscuras e sob o escudo da veemente pregação contra o
"capitalismo", o "imperialismo" e, sobretudo, contra os
"inimigos do povo, golpistas" que em algum momento cobraram mais
transparência na condução dos negócios com o dinheiro público.
É expressiva a lista de governantes latino-americanos que
multiplicaram sua fortuna em pleno exercício do poder. A presidente argentina
Cristina e seu falecido marido, o ex-presidente Néstor Kirchner, constituem
caso exemplar: chegaram ao poder, em 2003, com um patrimônio familiar declarado
de US$ 1,9 milhão e neste ano, segundo a mais recente declaração de bens feita
pela presidente, a riqueza dos Kirchner somou US$ 17 milhões. Ou seja, em pouco
mais de 110 meses de poder, a fortuna da família presidencial foi multiplicada
por nove.
Não se conhecem dados oficiais sobre o patrimônio do ex-presidente
da Venezuela, mas é notória a exuberância de riqueza e dos hábitos de luxo que
alguns integrantes da família Chávez fazem questão de divulgar. A rarefeita
transparência das contas públicas venezuelanas deixa entrever no orçamento
governamental que em 13 anos no poder Chávez habituou-se a custosas mordomias,
que incluem entre outros gastos "de gabinete":
● US$ 10,4 milhões (US$ 866,6 mil por mês) em despesas com
festas, alimentos, bebidas e “relações sociais”;
● US$ 320,3 mil (US$ 26,7 mil mensais) em roupas e sapatos;
● US$ 151 mil (US$ 12,5 mil ao mês) em produtos de toilette;
● US$ 408 mil (US$ 34 mil mensais) em lavanderia;
● US$ 3,2 milhões (US$ 266,6 mil ao mês) em manutenção de
“residências”.
Em patrimônio e em mordomias, Ortega e Cristina e Chávez
contrastam com a sobriedade do presidente uruguaio, José Mujica, cuja
propriedade declarada e avaliada em US$ 240 mil se resume a um carro velho
(fusca) e a um pequeno sítio nos arredores de Montevidéu.
Observação minha: Mujica não bate bem da cabeça.
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