terça-feira, 1 de abril de 2014

Luiz Felipe Pondé: Melhor impossível?

Muito bom o artigo de Pondé. Gosto de gente cujas convicções não excluem os méritos de outras e até os reconhece.

Você lembra do filme com Jack Nicholson chamado “Melhor É Impossível”? Há uma cena em que ele, um obsessivo-compulsivo (diríamos, um caso grave de TOC), de repente, saindo do analista, se dá conta: “E se melhor do que isso for impossível?”. Referia-se a seu quadro tenso, cheio de rituais obsessivos, mas rasgado por um esforço cotidiano de enfrentá-lo.

Pois bem, outro dia, em meio a uma aula com alunos de graduação, discutindo se é melhor ser religioso ou não, essa questão apareceu: “E se a vida não puder ser melhor do que isso?”. Ou: “E se uma vida melhor for impossível de se conseguir?”. Que vida é essa da qual falávamos? O que pensa um jovem de 20 anos acerca do que seja qualidade de vida?

A questão se apresentou quando ouvíamos uma menina, religiosa, dizer o quanto melhor era a qualidade de vida que se tinha vivendo dentro de uma comunidade religiosa. Melhores amizades, melhor namoro, meninos mais honestos, melhores férias, melhor convívio com os pais, enfim, melhor tudo que importa, apesar de nunca ser perfeito.

Os semiletrados pensam que jovens gostam de ser “livres”.

 Risadas? Jovens querem famílias estáveis, casa com segurança, futuro garantido, um grupo para dizer que é seu, códigos que os definam de forma clara e distinta, enfim, de um quadro de referências que torne o mundo significativo e seu.

Quando encontram, aderem de forma muito mais direta do que pessoas com mais de 30. Estas já começam a entrar no desgaste cético que a vida impõe a todos nós. Da louça que lavamos, do sexo meia boca que fazemos à arte que cultivamos.

Basta ver o caráter dogmático do movimento estudantil pra ver esse tipo de adesão direta e sem medo dos jovens. Às vezes temo que mais atrapalhamos os jovens do que os ajudamos com o conjunto de exigências que fazemos a eles: sejam diferentes, mudem o mundo, rompam com tudo, inventem-se. Woodstock foi um surto do qual eles já se curaram, mas nós não.

Mas, de volta a: “E se a vida não puder ser melhor do que isso?”.

O problema era: É melhor viver sem religião ou viver aceitando um código religioso claro?

E vejam: no dia a dia, os poucos jovens religiosos que conheço no meio que frequento costumam ser melhores alunos, mais atentos ao que se fala em sala de aula, menos inseguros com relação a temas como sexo, drogas e rock and roll, assim como também quando se fala de futuros relacionamentos. Enfim, parecem saber mais o que querem e serem menos permeáveis às modinhas bobas que existem por aí.

A conclusão parece ser que uma adesão a uma vida religiosa sem exageros de contenção de comportamento nutre mais esses meninos e meninas ao redor dos 20 anos do que a parafernália de teorias que a filosofia ou as ciências humanas produziram nos últimos séculos.

É como se as religiões tradicionais (como digo sempre, se você quiser uma religião, pegue uma com mais de mil anos...) carregassem uma sabedoria mais instalada, apesar de silenciosa, com relação ao que de fato eles precisam.

E se tivermos alcançado algum limite nas utopias propostas para a modernidade? E se o surto do século 18 pra cá tiver se esgotado como fórmula e chegarmos à conclusão que, como pequenos ajustes aqui e ali, pequenas correções de percurso (um cuidado com os recursos do meio ambiente, uma sensibilidade maior aos riscos de um materialismo extremado, maior longevidade, beijo gay na novela das nove), a vida se impõe em seu ritmo como sempre se impôs aos nossos ancestrais?

E se o velho ritmo de nascer, crescer, plantar, colher, reproduzir e morrer, com variações criadas pela Apple, for tudo o que temos? E se for justamente essa “perenidade do esforço” impermeável às modas de comportamento a realidade silenciosa da vida?

E se o Eclesiastes, livro que compõe o conjunto de quatro textos da Bíblia hebraica (que os cristãos chamam de Velho Testamento) conhecidos como Sabedoria Israelita (Provérbios, Eclesiastes, Livro de Jó e Cântico dos Cânticos) estiver certo, e não existir nada de novo sob o Sol? E se tudo for, como diz o sábio bíblico, vaidade e vento que passa?

11 comentários:

  1. Nunca saberemos, ninguém nunca voltou para contar. Melhor aceitar que "tudo é só isso".

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  3. Um monte de bobagens. Por que o Sr. Pondé não vai até a Venezuela e aparece ao lado do Sr. Maduro em cadeia nacional, dizendo que talvez a vida não possa ser melhor que isso?

    “É melhor viver sem religião ou viver aceitando um código religioso claro?”. Seja qual for a resposta, ela mostrará uma vida que pode ser melhor que a outra, mas a pergunta também deve ser feita da seguinte forma: qual delas não pode ser melhorada?

    Talvez o Sr. Pondé não saiba, mas existem mais de trinta mil interpretações diferentes para o cristianismo, portanto o Sr. Ponde descarta o cristianismo como código religioso adequado para sua “proposta”.

    Talvez o Sr. Pondé também desconheça a existência de países que vivem sob um código religioso claro, por isso também desconhece o quanto a vida nesses países pode ser melhor, substituindo o código religioso por um código racional.

    “Não acreditar em um mundo melhor” é uma estupidez defendida por olavistas e outros imbecis de plantão. O primeiro a defender tal estupidez foi o retardado (no sentido literal) Karl Marx: “a sociedade não pode ser melhorada, só pode ser destruída”.

    Mas a novidade muito mais velha que isso, a mentalidade medieval era exatamente essa. Portanto é muito fácil avaliar o que o Sr. Pondé diz, basta ter um bom conhecimento de história e comparar se a vida melhorou ou não depois da idade média, se a vida medieval podia ou não ser melhor do que aquilo.

    Luiz Felipe Pondé é um pseudo filósofo, que se baseia em sensações ao invés de se basear em conhecimentos, basta assistir a participação dele no Roda Viva, onde a Marília Gabriela ficou encantada com essa característica do entrevistado.

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    1. Milton, você precisa urgentemente de um intérprete. E olha que esse do Pondé é mais transparente que ar rarefeito. Nada do que você comentou tem relação com o texto, que é sobre o indivíduo, tanto que ele começa com o personagem de um filme (ótimo, por sinal) que sofria de TOC, uma doença exclusivamente particular, e não de problemas de relacionamento com religiões ou ideologias políticas.

      Não há nada no texto que possa remeter a Maduro, Marx ou as trinta mil interpretações da Bíblia. Mesmo a religião, no caso, entra como objeto secundário, genérico. A própria citação do Eclesiastes serve apenas como realce e poderia ser perfeitamente dispensada ou substituída por alguma coisa dos Vedas ou do Bhagavad Gita.

      O que ele diz se resume na frase: “A conclusão parece ser que uma adesão a uma vida religiosa sem exageros de contenção de comportamento nutre mais esses meninos e meninas ao redor dos 20 anos do que a parafernália de teorias que a filosofia ou as ciências humanas produziram nos últimos séculos”. Portanto, ele não conclui nada e deixa para nós a dúvida. Para Pondé apenas “parece”...

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  4. Ricardo, vale o que está escrito. Buscar uma interpretação que torne o texto coerente é exatamente igual a buscar uma interpretação contrária. Quando alguém diz que a conclusão “parece ser” alguma coisa, significa que nada do que foi exposto permite chegar a uma conclusão, é contraditório em si mesmo.

    “Woodstock foi um surto do qual eles (jovens) já se curaram, mas nós (velhos) não”. Desde quando ELES é sobre o indivíduo e onde o Woodstock se encaixa nesse monte de bobagens?

    Trinta mil interpretações do cristianismo está diretamente ligado ao “código religioso claro”, mencionado no texto. O foco do texto é justamente o “talvez a vida não possa ser melhor que isso”, Marx acreditava que a sociedade não podia ser melhorada, ligação mais direta que isso não há. Por acaso a posição do Maduro não é exatamente essa, de que a situação da Venezuela é a melhor possível?

    A adesão a uma vida religiosa nutre os alunos mais aplicados tanto quanto nutre imbecis que dizem não saber se Terra se move ao redor do Sol, ou que a teoria da evolução é “apenas uma teoria”. Ponde tomou como referencia bons alunos ligados à religião, mas descartou que 85% dos melhores cientistas do mundo não são ligados à religião.

    Ricardo, o texto não tem nada a ver com o indivíduo, tem haver com eles e nós, religiosos e não religiosos. O indivíduo citado no início do texto não é o objeto do texto, a situação daquele indivíduo foi usada para diferenciar coletividades, os religiosos que chegam a mesma conclusão que ele e “os outros”.

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    1. Você continua não entendendo. O que é que a situação da Venezuela tem a ver com o indivíduo, mesmo um venezuelano, que é o foco do texto? O sujeito pode ser comunista, nazista, tropicalista, ou qualquer outro "ista", independentemente de ser bem ou mal resolvido como pessoa. Eu, por exemplo, apesar dos meus 25 anos de síndrome do pânico, sempre fui um sujeito em paz comigo mesmo, porque melhor que aquilo era impossível, e procurei moldar minha vida de acordo com as limitações bioquímicas do meu cérebro. Passei por ditadura, democracia e por isto que ora se apresenta sem mudar meu comportamento.

      É só isso que o texto aborda. Ah, e embora ateu, não descarto que uma religião ou crença, sei lá, talvez pudesse ter minimizado meu sofrimento com essa doença - não curado, é óbvio -, mas as minhas convicções nunca me deixaram sequer aventar a possibilidade.

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    2. Certo, eu continuo não entendendo. Então me explique o seguinte: o semiletrado Pondé conclui “que parece” que a adesão à uma vida religiosa sem exageros nutre os jovens que ele considera melhores que os outros, então é necessário uma referência para saber quando o tal código religioso torna-se exagerado, para ser possível evitar o exagero. Existe um código religioso que estabelece esse limite, ou será necessário recorrer à herética razão?

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    3. Razão e fé não são obrigatoriamente mutuamente excludentes. Ambas podem conviver sem conflitos em uma pessoa, desde que não se tente explicar uma pela outra.

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  5. Ôh!, Miltom, algumas vezes, em alguns textos, não há o Quê Interpretar; é um "Papo-Cabeça", é pra deixar Fluir. - a mente, quando tomada por um desejo, procura encontrar "algo", vai encontra-lo; mesmo que para isto tenha que ocultar A Luz!.
    Vale o ditado (nem sempre, algumas vezes a sorte ajuda): "quem procura acha, mesmo que não ache aquilo que procura". (argento)

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  6. Correção: "EISEGESE" (argento)

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