sábado, 19 de abril de 2014

Nada mudou

Há oito anos eu escrevi esse comentário em um site petralha onde eu debatia. Mudou alguma coisa?

Entrar nesse site muda meu mundo. Aqui não há problemas de segurança, o povo é feliz, ganha-se muito dinheiro sem se pagar impostos escorchantes, o país é auto-suficiente em petróleo graças ao Vosso Guia, o FMI é uma página virada, os juros são baixíssimos, o mensalão é mentira, Humberto Costa não é sanguessuga, Dirceu, Delúbio e Genoíno são inocentes, Lula Filho é um honesto empresário que venceu por seus próprios méritos e etecetera coisasboas ltda..

Pena que eu não possa viver integralmente nesse “País das Maravilhas” criado por Luiz Inácio. De vez em quando eu tenho que acordar e voltar para o Brasil, cujo governo quer instituir o racismo, onde se paga 12% ao mês de juros, onde já não se pode sair mais sossegado em lugar nenhum e para lugar nenhum, onde 50 mil funcionários públicos nomeados garantem o aparelhamento do Estado, onde intelectuais(?) afirmam que mensalão não é crime ou que a ética não importa e onde o ensino já não tem mais mérito.



Outro, da mesma época e no mesmo site, quando fui “xingado” de burguês:

Em que país você vive? A que classe pertence? Não é burguês? Será um burocrata do serviço público? Militar? Ou será algum alto membro da “corte” que nos governa?

Minha burguesia é feita de trabalho, que resulta em algum dinheiro, que me permite manter alguns “luxos” necessários e que também ajuda a sustentar compulsoriamente os “luxos da corte” e todas aquelas quadrilhas de mensaleiros e sanguessugas, muitos deles com passagens significativas pelo atual governo. Você, pelo visto, ou não paga impostos ou não dá valor ao seu trabalho ou vive à custa do meu dinheiro.

Minha burguesia permitiu que eu educasse quatro filhos, com muito esforço para pagar colégios decentes, em um país onde, principalmente hoje, não se dá valor nenhum à educação. Mas temo por todo esse esforço ter sido completamente em vão, porque os números que não interessam ser ditos pelos apologistas da banalização mostram uma realidade trágica por trás da euforia pelos pagamentos ao FMI e pelos 4,3 milhões de empregos formais criados (segundo a promessa de campanha, seriam 10 milhões, mas deixa isso pra lá).

Os tais 4,3 milhões de empregos de que tanto se orgulham os “companheiros”, foram criados única e exclusivamente para pessoas de baixa escolaridade – analfabetos e pessoas até o quarto ano do ensino fundamental – e muitos deles em estatais, mas atualmente o número de demissões entre os mais escolarizados é maior que o de contratações, o que prenuncia um futuro negro para a já combalida classe média que sempre sonhou em ver os filhos com um canudo de doutor na mão. Enquanto se abre a porteira para a desqualificação as exigências para os recém-formados em universidades vão de título de mestrado ou doutorado ao domínio de línguas e de informática, de especialidades e tecnicalidades a um longo tempo de experiência e como remuneração, salários ridículos de até quatrocentos reais.

Mas coitados de mim e dos demais burgueses... Nós pensamos errado: lugar de doutor é dirigindo táxi, é na camelotagem ou então como caixa de um banco. Estudar é pra trouxa nesse país onde se faz a reforma de ensino ao contrário, com o nivelamento bem por baixo, só faltando uma medida provisória que obrigue esse estorvo que é a burguesia a emburrecer seu filhos que estudaram demais. Méritos, para quê? Isso não nos pertence mais! Afinal, nenhum país próspero cresceu por causa da qualificação do ensino, não é mesmo? Muito menos a classe média foi responsável por progressos e riquezas em lugar nenhum. Bom mesmo é Cuba.

Eu quero é ser pobre! Eles são felizes com Lula. Abaixo a burguesia!

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