Vamos botar os pingos nos “is”. Já critiquei Aécio várias
vezes aqui, muito mais pelo seu comportamento social pouco ortodoxo para quem
tem grandes ambições do que pela sua linha política e também para sua aparente
falta de “punch”, característica dos tucanos de mangas rendadas, que preferem a
elegância do discurso que atinge a pouquíssimos brasileiros, à porrada escancarada
de um Lula, que fala sempre o que lhe vem à cabeça, nem sempre com bons resultados,
é verdade, mas que são muito melhor absorvidos pelo povo (aliás, como o
apedeuta anda muito quietinho ultimamente para não pagar mico, tenho a
impressão que Dilma já é carta fora do baralho).
Mas não me lembro exatamente quando - talvez há uns seis
meses -, escrevi alguma coisa aqui sobre a sua postura segura, sobre seu pensamento
concatenado e lógico e sobre suas ideias liberais claras, vistas por mim
em uma extensa entrevista na TV. Sem dúvida, trata-se de um senhor político -
quando quer -, com uma invejável capacidade de comunicação, que sabe falar sem
empolação e que só precisa ser mais direto com o povo em geral para deslanchar
como um candidato forte.
Ah, sim: mais porrada, por favor.
Aécio Neves: o discurso de um liberal pragmático
Por Rodrigo Coanstantino
Cheguei em Porto Alegre e fui direto para o Fórum da
Liberdade, na PUC. Perdi o evento de abertura, mas cheguei exatamente na hora
da palestra do senador Aécio Neves. Não posso dizer que foi uma grande
surpresa, pois tenho acompanhado suas colunas toda segunda na Folha, seus
discursos e quem são seus conselheiros mais próximos. Ainda assim, foi uma
grata surpresa, principalmente pelo tom enfático de sua mensagem de cunho
claramente liberal (ok, damos um desconto pelo fato de ele saber qual o público
ali presente).
O que mais chamou a minha atenção foi o fato de que Aécio
não teve papas na língua, não se mostrou um minuto sequer inseguro, tendo de
ficar em cima do muro, como costuma ocorrer quando se trata de tucanos. Seu
recado não poderia ter sido mais claro: o projeto que defende é de profunda
mudança em relação ao quadro atual, que ele considera um completo fracasso
justamente pelo excesso de intervencionismo estatal e má gestão
(incompetência).
Aécio chegou a dizer frases inteiras que eu costumo usar em
meus artigos, mostrando a visível inclinação ao liberalismo. Por exemplo: disse
que quer taxa do BNDES para o Brasil todo, não apenas para meia dúzia de
“amigos do rei” que hoje se beneficiam dos subsídios. Afirmou com todas as
letras, sendo ovacionado, que o estado já ajuda muito se não atrapalhar a
iniciativa privada no processo de criação de riqueza.
Colocou muita ênfase na questão da meritocracia na gestão
pública, algo que em seu caso não é conversa da boca para fora, pois foi
efetivamente implementado em Minas Gerais com evidente sucesso. O país precisa
de mais governança, algo que claramente desapareceu por completo com o PT no
poder.
Criticou duramente o Mercosul, uma aliança ideológica que
tem feito acordos com países insignificantes do ponto de vista comercial.
Defendeu uma mudança radical, que o Brasil volte a fechar acordos de livre
comércio com países desenvolvidos, sem essa camisa de força ideológica
(bolivariana). Atacou o aparelhamento e a destruição de agências reguladoras e
de estatais, citando o caso lamentável da Petrobras.
Repetiu sua promessa de campanha: reduzir pela metade a
quantidade de ministérios. Uma secretaria com grandes poderes seria criada para
essa transição, com prazo de vida determinado e curto. Os impostos seriam
simplificados e reduzidos posteriormente. Chega de um governo de coalizão sem
base programática alguma. O governante precisa ter a coragem de tomar medidas
impopulares sem olhar para a curva das pesquisas o tempo todo.
Segundo Aécio Neves, o aprendizado do PT nesses últimos anos
custou muito caro ao país. O partido demonizou a vida toda as privatizações, as
concessões, a iniciativa privada, apenas para sucumbir à realidade depois, mas
atrasado e de forma malfeita. O país não aguenta mais tanta mediocridade e
incompetência!
Sobre a pressão do “volta Lula”, Aécio repetiu o que havia
dito em entrevista recente: não está preocupado com quem será o candidato do
lado de lá, uma vez que quer derrotar o modelo que está em curso, responsável
pela perda de credibilidade do Brasil no mundo todo e pelo resultado econômico
sofrível. Não se vendeu, porém, como um messias salvador da Pátria, e sim como
alguém que pretende construir um projeto sério e viável ao lado de nomes
renomados e respeitados em cada área.
Sobre a segurança, chegou a levantar a bandeira de redução
da maioridade penal para 16 anos em casos de crimes graves e recorrentes. Há
projeto do senador Aloysio Nunes, do seu partido, nessa linha. Foi uma vez mais
ovacionado pelo auditório lotado, com cerca de 2 mil pessoas.
Em outro momento muito feliz, Aécio Neves disse que está
cansado de escutar por aí que o estado fez isso e aquilo pelas pessoas, uma vez
que quem realmente faz é o próprio cidadão por si mesmo. Em tom enfático,
bradou: chega de paternalismo!
Repito: foi uma mensagem mais liberal do que eu esperava,
mesmo levando em conta o local da palestra. Aécio Neves, com seu jeito mineiro
de ser, veio comendo pelas beiradas, devagar, com calma e sem estardalhaço. Mas
agora parece ter se dado conta do que está em jogo, e vem subindo o tom, vem
batendo com mais força e vontade no PT e em seu modelo equivocado de política.
Parece disposto realmente a adotar medidas impopulares para ajudar a colocar o
país no rumo certo.
Foi bem persuasivo e convincente, pois notei que até meus
amigos mais libertários ficaram um tanto impressionados e contentes com o
discurso, a mensagem liberal, e o tom – principalmente o tom. Nem mesmo a
presença de um delinquente sem educação que começou a faltar com o respeito e
ofender o senador foi capaz de estragar o clima de euforia com suas belas
palavras – música para os ouvidos de todos aqueles que não suportam mais o
estrago que o PT vem causando ao país.
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