domingo, 1 de junho de 2014

Vou ter que molhar meu Hollywood?

Governo federal regulamenta lei antifumo

“Está proibido o fumo naquela varanda do restaurante, no toldo da banca de jornal e na cobertura do ponto de ônibus.” Arthur Chioro, ministro da Saúde.

Sem sacanagem, chefia, debaixo do guarda-chuva pode?...

Faço minhas as palavras de Reinaldo Azevedo:

Lei sobre consumo de cigarros é autoritária. Ou: Um país em que o legal é tratado como ilegal, e o ilegal, como legal

O governo federal já havia decidido seguir o estado de São Paulo e proibir o fumo em lugares fechados. A lei já existia havia três anos e precisava ser regulamentada. Agora foi. Entrará em vigor em seis meses. Vou repetir agora a crítica que fiz quando o então governador José Serra enviou um projeto à Assembleia com esse conteúdo em 2008: o cigarro faz mal, sim, mas a decisão é autoritária. Desnecessariamente autoritária.

Vamos ver. O ordenamento legal deve obedecer a uma lógica, e, nesse particular, tudo anda pelo avesso no Brasil. O tabaco não é uma substância considerada ilícita. Isso não impede que seu consumo seja regulamentado, obedecendo a critérios de saúde pública e, vá lá, até de boa educação. É claro que o fumo num ambiente fechado, no transporte público ou num restaurante pode incomodar os não fumantes - e, a depender do caso, até os fumantes. Assim, seja em razão dos malefícios à saúde, seja em razão das regras da boa convivência, é aceitável que se criem restrições.

Mas vamos ver. Desde que um fumódromo seja absolutamente isolado de uma área comum de convivência, proibir o cigarro por quê? O que há nisso além de certa vocação autoritária de impor o “bem” pela via da força coercitiva do estado? A lei, em vigor em São Paulo e agora no Brasil inteiro, proíbe que se fume sob um toldo.  Que sentido há nisso além da “glória de mandar”?

“Ah, estamos concorrendo para a saúde pública à medida que desestimulamos o cigarro…” Sei. Levado o princípio a efeito, aonde isso nos conduz? Quando é que o estado vai decidir proibir as gorduras, os carboidratos, os refrigerantes, o ovo…? Chegará a hora em que se vai criar uma ração pública - sugiro o nome “Vitória”, em homenagem ao gim do livro “1984”, de George Orwell -, devidamente balanceada, com todas as vitaminas e proteínas para formar pessoas saudáveis. Aí vale a velha piada: viveremos 200 anos, mas parecerão 400!!!

Sou fumante, sim, como sabem, e acho que não se deve fumar. Não recomendo. Certamente faz mal à minha saúde. Ainda não me incluo entre os arrependidos (refiro-me a pesquisa recente que evidencia que quase 90% dos consumidores de tabaco estão nessa categoria), entre outras razões, porque nunca tentei parar. Sei que não é fácil. Entendo que não posso sair por aí a exercer, de forma absoluta, a minha vontade “no que se refere” (como diria Dilma) ao cigarro ou a outra coisa qualquer - afinal, convivemos com os outros.

Mas é preciso distinguir, então, o que é uma regra de civilidade - e de saúde pública - de uma prática segregacionista, que invade direitos individuais. Se um bar ou restaurante quer receber fumantes, colocando na porta a advertência de que, naquele local, o tabaco é permitido, por que a lei há de impedir se a substância não é ilegal? Vênia máxima, isso não faz sentido. “Ah, mas nós queremos que todos vivam mais…” Bem, não será o estado a cuidar disso, acho eu.

De resto, noto que há uma coisa curiosa. O mundo que é cada vez mais intolerante - e o Brasil também - com uma substância lícita se torna, com velocidade ainda maior, mais tolerante com as substâncias ilícitas. Vá perguntar ao ministro Artur Chioro, da Saúde, o que ele pensa da Cracolândia, em São Paulo. Seus aliados políticos, do PT, transformaram a região numa área livre para o consumo de crack - e de qualquer droga -, sem nenhuma das restrições que haverá contra o cigarro. Ao contrário: a política de Fernando Haddad está estimulando o consumo à medida que passou a injetar mais dinheiro entre os consumidores, com o seu aloprado programa “Braços Abertos”.

Pode-se dizer muita coisa sobre o tabaco - e, reitero, bem não faz -, mas não é uma droga alucinógena, sob cujo efeito se podem fazer essa ou aquela bobagens, não é? Ainda chegaremos à, vamos dizer, excentricidade holandesa, que proíbe substâncias à base de tabaco em qualquer ambiente fechado, mas permite o funcionamento dos “cafés” em que se consome maconha? Não há um só estudo ligando o tabaco à esquizofrenia, mas os há às pencas relacionando a maconha a tal distúrbio.

Ora vejam: marchas em favor da descriminação da maconha são tratadas por nossa imprensa como um grito em favor da liberdade individual e da libertação. Pouco falta para que a sua passeata não seja tratada com a reverência que se dispensava em Roma à passagem das vestais. Já imaginaram se consumidores de tabaco resolvessem fazer um ato contra a discriminação? Seriam tratados a pontapés, como os últimos seres da Terra. Sem contar que há a curiosa categoria, e conheço gente assim, que é absolutamente intolerante com cigarro, mas não vê mal nenhum em fumar (e em que se fume) maconha e em cheirar (e em que se cheire) cocaína.


Um país, o nosso ou outro qualquer, que trata o legal como ilegal e o ilegal como legal está, definitivamente, fora do eixo.

11 comentários:

  1. Foi aí que o cara sacou observando que o fogo amolece e o frio endurece, ... aí meteu o pau no freezer

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  2. Distorção sucinta: quem fuma comercial é viciado e quem fuma alternativo é usuário.

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    1. Eu sou um “viciado” em cigarro e cerveja, mas o Marcelo D2 é apenas um “usuário” de maconha

      http://toma-mais-uma.blogspot.com.br/2014/05/eu-sou-um-viciado-em-cigarro-e-cerveja.html

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  3. Até hoje o burraldino aqui não entendeu a lei Anti Tabaco - e algumas outras - a validade dos argumentos são, no mínimo, questionáveis. Se o tabaco é a Principal Causa do Câncer, me expliquem Por Quê a Incidência de Câncer não Diminuiu!. Como explicar a Baixa incidência de Câncer na China?

    (não quero botar meu pau no freezer)

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    1. Os argumentos dessa gentalha da esquerda são totalmente furados, mas um governo que já é quase uma ditadura não precisa de argumentos. Basta decretar.

      Inventam um número - 200 mil mortos por causa do cigarro - e ninguém contesta, apenas porque o tabaco, efetivamente faz mal. Só que, em vez de proibirem logo a fabricação do cigarro, querem mesmo é trazer o povo cada vez mais sob um cabresto, mas o principal motivo é que eles não querem abrir mão dos 80,42% em impostos sobre o fumo, que geram bilhões para eles botarem no bolso.

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    2. ... Impostos!!! - ninguém quer abrir mão da Grana (Poder-Econômico-Dependência). É ou não é o "Deus" da nova (não tão nova) "Globalization"?, ... e é, também, por isso que tudo acaba caindo em "discussão religiosa".

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    3. ... outra coisa, no caso dos "Lícitos" é o Imposto; no caso dos Ilícitos, Elegem!!!

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  4. Sou ex fumante, reconheço que a fumaça do cigarro me incomoda, mas isso não me dá o direito de implicar com quem fuma tabaco - uma droga licita. Maconha é tolerada, tabaco não; distorção de mentes torpes.

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    1. Parabéns por ser ex-fumante (já fui ex-fumante) - o que perturba é a Fumaça, não necessariamente a do tabaco

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  5. Verdade.Mas o fumo causa câncer e o tratamento de câncer é caro, onera os hospitais públicos e causa prejuízo aos seguros de saúde.Portanto é mais econômico evitar que as pessoas tenham câncer.

    E como é melhor mesmo que as pessoas parem de fumar sou a favor dessa lei.

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    1. Sem querer discordar da Sua Opinião favorável á lei-anti-tabaco, se puder e estiver disposto, responda as questões apresentadas:

      "Se o tabaco é a Principal Causa do Câncer, me expliquem Por Quê a Incidência de Câncer não Diminuiu!. Como explicar a Baixa incidência de Câncer na China?"

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