Do Blog do Deonísio da Silva
Boato: do Latim boatus, originalmente berro do boi, do verbo
boare, berrar, vindo do Grego boáo, gritar. Passou a designar alvoroço,
gritaria, notícia proclamada em altas vozes, em oposição ao rugeruge, ao
sussurro, ao cochicho. Consolidou-se, porém, como notícia falsa. O filólogo e
dicionarista gaúcho Celso Luft (1921-1995) ensina em ABC da Língua Culta: “Como
a tendência semântica é boato=‘notícia infundada’, as combinações ‘boato
verdadeiro’ e ‘boato falso’ vão sendo evitadas”. O Dicionário Caldas Aulete é
implacável: “História ou notícia que se divulga sobre alguém ou algo, sem que
se confirme sua origem ou veracidade”, abonando com este trecho do escritor
fluminense Euclides da Cunha (1866-1909) em Contrastes e Confrontos: “Surdo
boato, dos que por aí irrompem e se alastram, sem que se saiba de onde
partem...”.
Dedéu: de origem controversa, provavelmente de duplicação de
déu, de etimologia desconhecida, significando de casa em casa, de porta em
porta, de lugar em lugar. Dedéu consolidou o significado de muito, em grande
quantidade, como se comprova na expressão “longe pra dedéu”, muito distante. Já
a abonação de déu em déu aparece no diálogo de uma crônica resultante de visita
que o escritor paulista Monteiro Lobato (1882-1948) fez à pianista paulista
Guiomar Novais (1896-1979): “- E deu muitos concertos? - Só em Paris toquei
nuns trinta, em Londres nuns oito, em Berlim noutros tantos, em Lausanne não
sei em quantos; andei de déu em déu.” Persiste a hipótese de que déu seja
variante de deu, do verbo dar, com o sentido de viajar, chegar, ir: “Tomando
tal caminho, deu ou bateu com os costados em tal lugar”.
Forfait: do Francês medieval forfait, que foi ao Inglês
forfeit e voltou ao Francês forfait para designar crime, falta grave, ligado ao
verbo forfaire, fazer fora, isto é, cometer falta, praticar delito. Mas no
Inglês, a língua por excelência do turfe, veio a designar a quantia paga pelo
proprietário quando o cavalo deixa de participar do páreo em que estava
inscrito. Fazer forfait tomou o significado de faltar a um compromisso, mas
também o de bagunça, zoeira, desorganização, por força da controvérsia surgida
nessas compensações. Ainda não houve aportuguesamento da palavra.
Mata-galegos: de matar, do Latim vulgar mattare, adaptado de
mactare, fazer ofertas aos deuses, imolando vítimas e por isso ganhando o
significado de acabar com a vida dos animais e tornando-se, por extensão,
sinônimo de levar alguém à morte; e de galegos, do Latim gallaecus, habitante
da Gallaecia, depois Galécia, Galícia ou Galizia, do mesmo étimo de galaico,
como na palavra composta galaicoportuguês, designando dialeto do Português. Os
galegos da expressão eram imigrantes portugueses que nas crises do começo do
século XIX disputavam os empregos dos brasileiros. Os ônibus cujas traseira e
dianteira eram muito semelhantes, a ponto de serem confundidas, eram chamados
mata-galegos e esta expressão foi parar nos dicionários. Galego designou de início
pessoa de pouca instrução.
Pelada: de origem controversa, talvez de péla, do Latim
pilella, diminutivo de pila, bola, novelo de lã. Pode ter havido mistura com
pelo, pois as primeiras bolas eram de couro cru, com pelos. Designando jogo de
futebol desorganizado, formou-se por catacrese: nos campos onde era e é
praticado falta grama, sobretudo em lugares como a pequena área, que parece
pelada. Dá-se catacrese quando uma palavra, à falta de uma outra específica,
supre esta falta, como em perna da mesa.
E, como agora está muito em moda...
Manifestação: do étimo latino “manifest”, porque apanhado
com o a coisa na mão (manus), em geral produto de roubo. Veio a designar clareza,
evidência.
Protesto: Pro (em favor de ), mais o étimo Latino “test”, de
testemunha, onde protestar significar testemunhar publicamente, não no fórum!
Nas ruas!
Desordem: do prefixo “des”,
indicando o contrário, e do Latim “ordo”, fileira, alinhamento, classe,posto do
soldado na batalha etc. Fiz-se ordem porque procede da declinação “ordine”. O
étimo está em ordinário (do Latim ordinarius, escravo que mandava nos outros,
dava-lhes ordens), extraordinário, coordenador, desordenado, subordinado. E em
ordenação, sacramento pelo qual o bispo faz de um homem um padre, que recebe as
ordens de poder ministrar sacramentos. O padre é ordenado. O bispo é sagrado. O
papa é eleito em conclave (com chave, isto é, a portadas fechadas). Nos cargos
civis, os funcionários não nomeados, designados etc. Nos cargos militares,
recebem as patentes (do étimo latino PATENS, exposto, público: todos devem
saber qual o posto, cargo e nome estão na farda etc).
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