sexta-feira, 19 de junho de 2015

“Intelequituais” brasileiros preocupadíssimos em saber se Mário de Andrade era bicha. Pobre cultura...

Mário aos 28 anos
Fala sério! A matéria sobre cultura brasileira que mais bombou nas últimas semanas foi acerca da revelação de uma carta escrita há 87 anos por Mário de Andrade e endereçada a seu amigo Manuel Bandeira, guardada a sete chaves na Fundação Casa de Rui Barbosa, na qual Mário supostamente fez bombásticas revelações a Bandeira acerca da sua (homo)sexualidade. Detalhe: da tal carta, já se conhecia uma parte, ou seja, apenas o trecho sobre homossexualidade era “proibido”.

A coisa foi conduzida em ritmo hitchcockiano, com data e hora marcadas para ao trecho ser revelado pela fundação, que, finalmente, o liberou para consultas ontem.

Ei-lo, na grafia original:

“Mas em que podia ajuntar em grandeza ou milhoria pra nós ambos, pra você, ou pra mim, comentarmos e eu elucidar você sobre a minha tão falada (pelos outros) homossexualidade? Em nada. Valia de alguma coisa eu mostrar o muito de exagero que há nessas contínuas conversas sociais? Não adiantava nada pra você que não é indivíduo de intrigas sociais. Pra você me defender dos outros? Não adiantava nada pra mim porquê em toda vida tem duas vidas, a social e a particular, na particular isso só me interessa a mim e na social você não conseguia evitar a socialisão absolutamente desprezível duma verdade inicial. Quanto a mim pessoalmente, num caso tão decisivo pra minha vida particular como isso é, creio que você está seguro que um indivíduo estudioso e observador como eu, ha-de estar bem inteirado do assunto, ha-de te-lo bem catalogado e especificado, ha-de ter tudo ‘normalisado’ em si, si é que posso me servir de ‘normalisar’ neste caso. Tanto mais, Manú, que o ridículo dos socializadores da minha vida particular é enorme. Note as incongruências e contradições em que caem.: O caso da ‘Maria’ não é típico? Me dão todos os vícios que, por ignorância ou por interesse de intriga, são por eles considerados ridículos e no entanto assim que fiz duma realidade penosa a ‘Maria’, não teve nenhum que não caçoasse falando que aquilo era idealização pra desencaminhar os que me acreditavam nem sei o quê, mas todos falaram que era fulana de tal.

Mas si agora toco neste assunto em que me porto com absoluta e elegante discrição social, tão absoluta que sou incapaz de convidar um companheiro daqui, a sair sozinho comigo na rua (veja como eu tenho a minha vida mais regulada que máquina de previsão) e si saio com alguém é porquê se poderia tirar dele um argumento para explicar minhas amizades platônicas, só minhas. Ah, Manú, disso só eu mesmo posso falar, e me deixe que ao menos pra você, com quem apesar das delicadezas da nossa amizade, sou duma sinceridade absoluta, me deixe afirmar que não tenho nenhum sequestro não. Os sequestros num caso como este onde o físico  que é burro e nunca se esconde entra em linha de conta como argumento decisivo, os sequestros são impossíveis.

Eis aí uns pensamentos jogados no papel sem conclusão nem sequência. Faça deles o que quiser”.

Essa bombástica revelação certamente vai mudar definitivamente o rumo da nossa já fantástica cultura!

3 comentários:

  1. Um pesquisador de Princeton (EUA) não está muito longe disso:
    http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2015/06/1644815-bandos-de-babuinos-tomam-decisoes-democraticamente.shtml

    O esperto considerou decisão democrática o ato de ir na direção onde tem mais indivíduos, quando significa tomar decisão saber o porque está decidindo daquele jeito, enquanto que democracia significa a liberdade para discordar, ou seja, exatamente o contrário daquilo que a pesquisa mostrou.

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    1. (argento) ... "brilhante conclusão científica!?", chimpanzés e outros animais caçadores e carnívoros em bando, não gastaram um tostão furado em pesquisa pra descobrir como dirigir a caça, democraticamente, ao local mais propício ao abate ...

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  2. (argento) ... hehehehehe, "faz-me rir" o que querem os "Ideologistas do Gênero", fruto direto do "politicamente correto" ... "declaro, para os devidos fins, que não comi ou fui comido por Mario de Andtade, nem por ele feito de corno; a bem da verdade, eu, Zé Mané, Povão, inculto e mantido Ignorante, pelo MEC ou Minc, nem sei quem é (ou foi), esse tal de Mário de Andrade."

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