domingo, 14 de junho de 2015

Xico Sá fica brabinho porque a imprensa não comentou homenagem a Lula em Roma

“Rapaz, imprensa brasileira é safada, em todos os sentidos, mas principalmente nesse: Lula foi homenageado como o cara que combateu a fome no mundo, elogiado até na casa das denecessidades, e não sai uma vírgula no Brasil: bando de imprensa safada.”
Xico Sá, o ogro mais incensado do momento, com fama de poeta, grande jornalista e - pasmem - conquistador, protestando no twitter contra o boicote da imprensa brasileira ao ex-presidente Lula, que foi homenageado como o maior lutador contra a fome no mundo, neste fim de semana, em Roma, quando, segundo ele, foi qualificado como “o maior e mais apaixonado lutador contra a fome no mundo” pelo norte-americano Kenneth M. Quinn, que foi embaixador dos EUA e hoje preside a World Food Prize Foundation, instituição cujo trabalho é premiar os indivíduos que contribuíram significativamente para o combate à fome no planeta.

Interessante que na imprensa italiana não saiu nem uma notinha de rodapé sobre o “grande estadista”.

Mas, voltando ao Xico, que eu não conhecia até o ano passado quando, em rápidas passagens pelo programa “Saia Justa”, no GNT, dei com sua grotesca figura dando pitacos no meio de quatro mulheres supostamente debatedoras de coisas sérias, sempre evidenciando sua forte tendência à imbecilidade própria da esquerda. Não dei muita bola, mas de lá para cá ele virou figurinha carimbada das TVs a cabo da Globo, participando de todos os debates possíveis e imagináveis da emissora e sendo santificado por parte da esquerda festiva.

Mas Xico tem uma historinha interessante ocorrida em 2014. Ele, que escrevia no caderno de esportes da Folha, cismou em declarar seu voto em Dilma em seus artigos e o jornal vetou, argumentando que seu espaço ali não era para isso, que há uma política interna da casa, e recomendou que escrevesse para o caderno de opinião. Xico subiu nas tamancas e pediu demissão, mas espalhou que foi demitido e censurado, gerando uma comoção da elite burguesa contra o jornal “golpista” da elite burguesa.

Em novembro de 2014 a ombudsman (não seria ombudswoman?) da Folha explicou melhor o caso:

Onde termina a liberdade de opinião e começa o proselitismo partidário? A Folha tropeçou ruidosamente na questão nesta semana, com o pedido de demissão do colunista Xico Sá, de “Esporte”.

Na sexta (10), Xico enviou uma coluna em que declarava voto em Dilma Rousseff (PT). A Secretaria de Redação vetou, lembrando que o espaço não podia ser usado para isso: ele deveria mudar o texto ou publicá-lo na seção Tendências/Debates, na pág. A3. Ele rejeitou a proposta e anunciou sua demissão nas redes sociais, com posts em que acusava a “imprensa burguesa” de contar mentiras e investigar só um lado.

Nunca chegou a acusar o jornal de censura, mas foi essa a versão que se espalhou, provocando indignação e, sobretudo, incompreensão dos critérios do jornal.

“Poucos minutos de pesquisa revelarão dezenas de colunistas fazendo o mesmo em seus espaços cotidianamente. Meu Deus, a Folha publica semanalmente Janio de Freitas e Reinaldo Azevedo!”, escreveu o leitor Marcel Davi de Melo, sintetizando o tom dos protestos.

É realmente uma situação difícil de entender. Qualquer leitor atento é capaz de identificar as preferências dos colunistas, escancaradas nas defesas que fazem de um determinado candidato ou nos ataques ao seu adversário. Para a direção do jornal, porém, isso não se enquadra no conceito de proselitismo.

“A crítica e o elogio a programas de governo, candidatos e partidos, bem como a expressão das inclinações político-ideológicas do colunista, não estão incluídos na restrição, que incide tão somente sobre proselitismo partidário (fazer propaganda de uma agremiação) e declaração de voto”, explicou a Secretaria de Redação.

Bem, mas achar que o ambiente político permite discernir uma coisa da outra é flertar com a irrealidade. Quem realmente acredita que atacar ou defender sistematicamente um partido, como fazem alguns colunistas, não é “fazer propaganda de uma agremiação”?

Para piorar o que já é confuso, na mesma segunda-feira (13) em que se espalhou a notícia da demissão, o caderno “Eleições” publicou texto no qual Gregorio Duvivier declarava seu voto no PT. “Alguns podem e outros não?”, perguntaram leitores.

Nesse caso houve falha de controle, admitiu o jornal. Toda coluna é desembargada pelo editor ou por um secretário, e a de Duvivier escapou do filtro. O lapso é sintoma de que a sutileza do critério não foi bem compreendida nem internamente.

A Secretaria de Redação diz que a regra foi estabelecida para prevenir que as colunas regulares do jornal se transformem em palanques em época de eleição. “Foi instituída também com a finalidade de estimular seus autores a estabelecer um diálogo qualificado com leitores de todos os matizes ideológicos e partidários, inclusive com aqueles, majoritários no público que lê a Folha, que não demonstram afinidades político-partidárias.”

Além de não evitar o palanque, a norma caducou diante da multiplicação de colunistas e do acirramento da polarização partidária. Soa ingênuo crer que todos os autores estão interessados em dialogar com leitores de todos os matizes ideológicos. Parte deles está contente em pregar só para a sua plateia.

E soa contraditório que um jornal que se orgulha de pôr em prática a mais ampla liberdade de opinião tente enquadrar o pleno exercício dessa liberdade no capítulo final da saga eleitoral. É mais ou menos como tentar passar a tranca depois que a porta foi arrombada.

Desde a quarta (15), estive procurando Xico Sá por telefone, e-mail e por um amigo em comum. Queria ouvir sua versão e pedir autorização para publicar no site a coluna suspensa, para conhecimento de todos os leitores. Não houve resposta.

Xico é uma pessoa querida, mas não posso deixar de mencionar duas atitudes que me incomodaram no episódio de sua saída.

A primeira é que sua “saraivada de posts de escárnio e maldizer nas redes sociais”, como ele definiu em longa nota no Facebook, embolou na mesma vala de suspeição e descrédito todos os jornalistas. No seu “espasmo de ira”, retratou os colegas como pusilânimes que se sujeitam a contar mentiras para produzir um “jornalismo safado”.

A segunda foi escrever que mentiu muito quando era repórter de Folha e “Veja” e que um dia vai contar “tudo o que sabe” sobre assuntos que os grandes jornais não deixam publicar. Conte mesmo, Xico. Insinuações vagas não melhoram o jornalismo, pioram a política e mancham sua biografia.

Pois é. Este é o Xico Sá. Bem que eu desconfiava.

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