sexta-feira, 19 de junho de 2015

Saudades de ser xingado...

Comentários de 2006 no site petralha "O Informante".

Ricardo Froes | 07.03.06 - 4:19 pm | #
Tive frouxos de riso ao ler a afirmação do deputado Edson Santos “que o governo não tem conseguido dar visibilidade aos seus feitos e avanços”, quando o que mais vejo e ouço são auto-elogios aos programas sociais, à economia, à educação e, pasmem, até às estradas. Lula, quando faltam obras, às vezes inaugura até duas vezes a mesma coisa só para aparecer, e o deputado ainda reclama de falta de visibilidade. Segundo ele “isto acontece porque nossa preocupação é maior com o realizar do que com o divulgar”. Pela madrugada!

Parece que o mentir descaradamente agora foi definitivamente incorporado ao programa do PT.

luiz claudio pinheiro | 07.04.06 - 12:41 am | #
O leitor Ricardo Fróes está cego, é vítima da desinformação. É preferível considerar as coisas assim; do contrário, seria forçoso concluir - perdão por usar a mesma linguagem - que mentiroso descarado é ele. A elite branca e o esquerdismo inconseqüente podem repetir suas ladainhas o quanto quiserem, mas o fato é que o governo Lula tem forte caráter popular. [...] Por que? O Bolsa-Família e demais programas sociais podem explicar parte do fenômeno, mas não haveria redistribuição de renda, e todo esse castelo de popularidade já teria ruído, não fosse o cenário de forte valorização dos salários, em especial do mínimo, ao lado da consistente geração de emprego e da recuperação do mercado formal de trabalho. Tem gente que não se dá conta de que o salário mínimo, entre dez/02 e maio/06, teve uma valorização de 65,5% em relação à cesta básica. Em janeiro/03, quando Lula tomou posse, a cesta básica (média nacional, apurada pelo Dieese) custava R$ 143,54. Após três anos e cinco meses, ela subiu apenas R$ 13,68 (+9,5%), e fechou maio/06 em R$ 157,22 - muito abaixo de qualquer índice de inflação. No mesmo período, o salário mínimo passou de R$ 200 para R$ 350 (+75%), e portanto valorizou-se 65,5% em relação à cesta básica. Em janeiro/03, um salário mínimo comprava 1,39 cesta básica. Em maio/06, ele foi suficiente para comprar 2,22 cestas básicas. [...] Nossa dívida externa líquida foi reduzida em 40%, de U$ 165 bilhões para U$ 100,2 bilhões, em apenas três anos (até dez/05). [...] Já era, já passou, estamos livres, fora daqui o FMI. Ainda temos dívida, mas muito menor, e estamos longe da inadimplência. Reconhecem isso, os barões da elite branca? [...] Omitem a situação financeira trágica deixada pelo sr. FHC, que endividou criminosamente o País, além de tê-lo privatizado em benefício político próprio e de sua turma de tucanos emplumados. Fingem ignorar, e solenemente, que os banqueiros reinam, e há muito tempo, não só no Brasil, mas em todo o mercado internacional. Não vêem que a dívida diminui (e portanto a dependência em relação aos banqueiros também), que os juros diminuem, que a inflação diminui, enquanto aumentam os salários, o emprego, as reservas soberanas do País. [...]

Ricardo Froes | 07.04.06 - 4:45 pm | #
Vamos fazer de conta que Lula não faz uma política populista desmedida e que não gasta o dinheiro público à tripa forra para fazer propaganda dessa política. Vamos fingir que Lula é realmente inocente nessa história de mensalão e também vamos fingir que o mensalão não existiu. Vamos ignorar todas as acusações infundadas sobre o governo, lulinhas, gamecorps e tudo mais porque, como bem disse Luiz Claudio, ainda existe muito a ser dito, o espaço é curto e eu quero me referir a alguns dados não pertinentes ao tema do artigo, mas que foram abordados no comentário anterior, já que parece que essa aula de lulismo foi direcionada a mim.

Primeiro os números. Exibidos assim, friamente, realmente são um prato cheio, embora eu não veja vantagem nenhuma em se comparar o atual governo com o que os petistas e lulistas chamam de pior governo da história do Brasil. Em todo caso, vamos em frente. 

Em junho de 1994, a inflação foi de 46,58% (IGP-DI), que projetada para um ano daria algo em torno de 9.700%. Aí veio o Plano Real. Segundo o IBGE, nos quatro primeiros anos de FHC o IPCA foi 22,41%, 9,56%, 5,22% e 1,65% respectivamente, contra 9,3%, 7,6%, 5,69% e aproximadamente 4% projetados para 2006, nos quatro primeiros anos do governo Lula. É fácil enxergar, até para o mais empedernido petista, quem realmente tirou o Brasil do sufoco e sustentou, durante seus quatro primeiros anos de mandato, uma estabilidade econômica invejável depois de tantos anos de hiperinflação. Lula, quando assumiu, pegou um mar de almirante e teve pelo menos o bom senso de não mudar muito a rota, além de ter sido beneficiado pela estabilidade econômica mundial, ao contrário do governo anterior, que teve que segurar vários pepinos importados.

Fatos um pouco mais subjetivos, como pagamentos antecipados da dívida externa também são citados com vanglória, embora à luz dos analistas do mundo inteiro, o dinheiro usado para quitar as dívidas antecipadamente teria rendido muito mais do que os juros cobrados se fossem pagos em seu vencimento. Um erro proposital que rendeu frutos ao seu público-alvo: os pobres que não incomodam e os seguidores da cartilha acham agora que Lula, além de herói, é mágico e criou dinheiro do nada. As privatizações, tão malvistas pelos defensores do inchaço estatal e tão criticadas por terem sido supostamente sub-avaliadas, têm hoje na Vale o exemplo do quanto estava errado quem era contra. Em nove anos de gestão privada, paga mais em impostos do que o valor da sua mais justa avaliação na época, bateu o recorde de lucro anual na América Latina e gera 30% a mais de empregos que quando era do Estado, com a vantagem de não ser mais encosto de parentes de políticos. Quanto às roubalheiras nas privatizações, é claro que houve, afinal vivemos até hoje em um país capitalista e não podemos ser tão inocentes a ponto de ignorar os atravessadores, como Daniel Dantas que até hoje transita livremente entre as hostes palacianas, tendo como advogados grandes amigos de Lula e Dirceu.

A rigor, Lula nunca foi de esquerda, nem de direita e nem nunca teve planos concretos sobre coisa nenhuma a não ser sobre si próprio. Quem o conhece sabe que aquele sindicalista que vociferava em público em defesa dos seus companheiros fazia conchavos espúrios quando se reunia com os empresários, com a burguesia e com o poder. Sempre foi assim e não seria de outra maneira para ter sido escolhido por Petrônio Portela como o “enfant gaté” do sindicalismo junto à ditadura. Sempre foi o “morde e sopra”, o arame liso, que cerca mas não machuca. E continua assim até hoje. O único perfil que foi mudado em três anos e meio de Lula foi o seu próprio, mostrando a faceta despótica até então desconhecida, daquele que nada vê ao seu redor e defende seus comandados até a situação ficar insustentável para, então, livrar-se deles como se joga lixo fora, tal e qual fez com Palocci e Dirceu. Mas o perfil do povo continua o mesmo, apenas com a variante de, a título de distribuição de renda, receber esmolas que, a rigor, não alteram em nada a sua situação caótica de saúde, educação, cultura, saneamento, transporte e segurança. Estão aí os dados em qualquer jornal para quem quiser ver (me refiro a dados oficiais, divulgados pelo MEC, outros ministérios e secretarias).

Mas, infelizmente, não há nenhum outro candidato que seja menos ruim que Lula. Alkmin é uma piada de mau gosto, Heloisa Helena é um erro em essência e o resto é resto mesmo. Pior ainda é imaginar que o Congresso não vai se renovar, que, segundo o TCU, 2.900 políticos que estariam impedidos de se candidatar podem se valer da frouxidão da Justiça para fazê-lo e ter a certeza que daqui a quatro anos e pouco PT e PSDB estarão juntinhos no poder. Quem viver, verá.

luiz claudio pinheiro | 07.06.06 - 10:32 am | #
Vamos fingir, sr. Ricardo Fróes, vamos fingir que Lula traiu seu compromisso histórico de governar para a classe trabalhadora, e que o apoio popular ao presidente é fruto do mensalão, do esmolão que ele paga aos mais pobres, [...] vamos fingir mais ainda, sr. Ricardo Fróes, vamos fingir que o nobre objetivo da cruzada de denúncias contra o mensalão é restaurar a moralidade, e que depois do PT ser derrotado eleitoralmente o Brasil voltará a ser governado por gente honesta como antes.

Vamos fingir mais longe, sr. Ricardo Fróes, [etc....] Aqui abro um parênteses, Fróes, porque o sr. citou alguns índices de inflação da década de 90, mas não chegou a 2002. Vamos refrescar nossa memória, começando pelo IGPM: em outubro/02, o índice atingiu 3,87% - veja bem, foi no mês, não no ano; em novembro/02, subiu para 5,19%; e em dezembro/02 fechou em 3,75%. Então, o IGPM acumulado no último trimestre de 2002 foi de 12,83%. Hoje, o IGPM acumulado dos últimos 12 meses está em 0,87%, quase quinze vezes menor que o acumulado apenas no últimos três meses do governo FHC! Vamos agora ao IPCA: outubro/02, 1,31%; novembro/02, 3,02%; dezembro/02, 2,10%. IPCA acumulado no último trimestre de 2002: 6,43%. Projetados para doze meses, esses números representam um índice anualizado de quase 28%. Foi esse o “mar de almirante” que Lula teve que navegar ao tomar posse. Hoje, o IPCA acumulado dos últimos 12 meses (junho/05 a maio/06) está em 4,23%, com tendência à queda.

O que mais desejamos fingir, sr. Ricardo Fróes? Ah sim, vamos fingir que a privatização da Vale do Rio Doce, empresa que detém a titularidade das nossas reservas minerais, foi um excelente negócio para o povo brasileiro, pois o Brasil livrou-se desse patrimônio, recebeu 3 bilhões de dólares em pagamento, e hoje tem a alegria de ver esse pujante empreendimento privado transnacional faturar a cada ano um valor aí, sei lá, perto dos 15 bilhões de dólares, é sempre difícil memorizar os resultados de uma grande empresa privada, mas com certeza é um privilégio para nós brasileiros sabermos que a Vale fatura por ano várias vezes mais o valor pago, e com financiamento do BNDES, na privatização; pois é, Ricardo Fróes, e aqui podemos fingir também que o governo Lula não recuperou a dignidade e o papel do BNDES como órgão de fomento do nosso desenvolvimento industrial, e podemos fingir também que FHC não havia rebaixado esse banco para outras missões, como financiar as privatizações e até mesmo algumas casas noturnas para executivos em São Paulo. [...]

Ricardo Froes | 07.04.06 - 4:45 pm | #
Eu quero fingir mais só mais uma coisa, Sr.Luiz Claudio Pinheiro: que o Sr. não entendeu que, ao comparar os dois governos, eu usei os períodos correlatos, ou sejam os quatro primeiros anos de cada, apenas para estabelecer parâmetros mais justos.

Encerrados os fingimentos, vamos ao que interessa.

Eu acho que não é preciso esclarecer que, ao citar os IGPMs e IPCAs de outubro, novembro e dezembro de 2002, o Sr. foi, no mínimo, tendencioso ao omitir referências ao “risco-Lula” do período pré-posse, quando então o país ficou à mercê dos ataques especulativos de todo o planeta, tanto que a taxa de risco-Brasil (uma idiotice medida pela especulação internacional) partiu de 400 pontos em Maio até alcançar os 2.400 pontos em setembro. Em Dezembro, já beirava os 1.200 pontos para, em Maio de 2003, passado o susto por completo, voltar aos 400.

Para os desmemoriados eu só queria lembrar que além de pôr fim à hiperinflação e manter a disciplina fiscal e monetária em meio a algumas crises internacionais muito sérias, FHC conseguiu que o Congresso aprovasse uma Lei de Responsabilidade Fiscal que controla severamente os gastos dos governos locais, estaduais e federal, um instrumento utilíssimo se fosse bem aplicado.

FHC modernizou e reduziu a Administração Civil e privatizou estatais ineficientes, entre as quais os bancos estaduais que alimentavam a inflação com empréstimos irresponsáveis aos governos dos Estados. A Vale foi uma delas e, depois da choradeira, quando os renitentes resolverem enxugar as lágrimas e esquecer um pouco as ideologias, vão ver que está bem melhor assim para todo mundo, incluindo seus 20 mil funcionários (na época da privatização eram 15 mil). De mais a mais, essa história de que a Vale tem a titularidade das nossas reservas minerais é inverossímil, ou então a Constituição mudou, porque o Artigo 20/IX diz que são bens da união “os recursos minerais, inclusive os do subsolo”.

Porém, quando FHC assumiu as dívidas dos estados e teve que proteger a moeda, a dívida interna aumentou e levou as taxas de juros a um nível que até hoje limita as opções do país. Isso teve um custo inevitável em termos de desemprego, já que os empregadores cortaram funcionários mas, aos poucos, a situação está se normalizando.

O PT contestou ferozmente a maioria dessas reformas durante os oito anos do governo anterior. Atacou FHC com todas as armas e insistia em um modelo econômico que tomasse por base a ênfase no social. Mas tudo que havia sido feito eram providências necessárias para dar competitividade à economia brasileira, e Lula hoje entende o fato, embora tenha se oposto a todas as medidas quando foram anunciadas.

Nos últimos quatro anos do governo de FHC, a disciplina fiscal foi devidamente incorporada à política econômica e o Brasil passou a registrar superávits cada vez maiores em relação ao PIB. A adoção do superávit fiscal e a ênfase na política de exportação começaram no governo anterior e os grandes superávits comerciais surgiram em razão das medidas tomadas por FHC, inclusive na agricultura. O governo Lula continuou com a política de superávit fiscal e tem todos os méritos por ter tido a coragem de peitar meia dúzia de palpiteiros.

A situação do Brasil hoje é bem parecida com a do Chile nos anos 80, quando uma crise fez com que muitos achassem que o modelo que se costuma chamar erradamente de “neoliberal” tinha feito água. Mas o Chile decidiu preservar seu modelo e fazê-lo funcionar. Acho que Lula entendeu o exemplo, está fazendo um governo de continuidade nesse sentido, com mudanças modestas e ponderadas e, por enquanto, ainda administra com alguma facilidade a decepção dos esquerdistas de seu partido, apesar de alguns já terem abandonado o governo e aderido a grupos mais radicais como o caso das feras do PSOL.

Oxalá Lula saiba continuar aproveitando os anos positivos da economia mundial. A explosão chinesa, o descaso fiscal dos EUA, a demanda gerada pela guerra do Iraque, e a produtividade dos americanos, fizeram as taxas de juros tão baixas e os preços de matérias-primas tão altos que só não aproveita quem não quer. Porém, há que se preocupar mais com a gastança do dinheiro público. A incapacidade administrativa agravada pela tendência a substituir profissionais por gente do partido ou da própria distribuição de “comandos” a partidos aliados políticos é preocupante. A boa gestão dos gastos públicos é essencial para que se possa equilibrar o orçamento e proporcionar melhoras sociais.

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