terça-feira, 30 de junho de 2015

Fagundes investe R$ 100 mil do próprio bolso enquanto o Jô mais barato sai a R$ 1,4 milhão do nosso - Longa vida a Antônio Fagundes!

Enquanto a mais barata das quatro produções teatrais dirigidas por Jô Soares agraciadas com dinheiro público, Três Dias de Chuva, levou a bagatela de R$ 1.393.001,60, Antônio Fagundes estréia “Tribos” na quinta-feira Rio, quase dois anos após a peça ter entrado em cartaz em São Paulo, tendo percorrido 26 cidades e reunido mais de 190 mil espectadores, tendo investido R$ 100.000,00 do próprio bolso.

Longa vida a Antônio Fagundes!

Leiam um trecho da entrevista de Fagundes ao Globo:

Você produziu “Tribos” sem patrocínio direto e descartou a possibilidade de captar recursos via renúncia fiscal — mesmo tendo recebido aprovação para captar R$ 1,8 milhão pela Lei Rouanet. O que o fez dispensar patrocinadores e a Rouanet?
Faço 50 anos de teatro (em 2016) e nesse tempo tive uns três patrocínios. Aposto na relação entre o artista e o público. É uma atitude. Sinto que as leis, por vezes, nos impedem de chegar à plateia. Há duas censuras estabelecidas pela Rouanet. Primeiro, você precisa submeter o projeto ao MinC (Ministério da Cultura), que decide se ele pode ou não buscar apoio. Muitos projetos são recusados, então há uma censura. Depois o governo tira o corpo fora, se exime da responsabilidade de gerir o dinheiro público, e entrega aos gerentes de marketing das empresas a função de decidir onde aplicar os recursos. Eu tenho amigos gerentes de marketing, mas eles não entendem nada de teatro. O que eles querem é vender produtos. O que temos hoje é um sistema que privilegia os interesses das empresas. Você olha o cartaz e lê: “Empresa tal apresenta...”. Apresenta com um dinheiro que não é dela algo que ela não fez! Ao aceitarmos a direção dos gerentes de marketing, abandonamos a ideia de uma política cultural, e aceitamos ter nossos espetáculos transformados em brindes de multinacionais. E a tendência, então, é piorar a qualidade artística das peças e afastar o público dos teatros.

Mas como foi possível produzir o trabalho? Quanto você investiu do próprio bolso?
Uma das estratégias foi a redução drástica dos custos de produção, porque alguns preços foram à estratosfera impulsionados pelos aportes via lei. Tudo subiu. Dos custos de equipe ao aluguel dos teatros. Então, realizamos uma produção mais barata. Investi R$ 100 mil, e criamos uma cooperativa entre os envolvidos. Somos 24 pessoas e recebemos da bilheteria. Ninguém ficou rico, claro. Mas há dois anos a peça sobrevive de bilheteria.

A produção conseguiu se pagar em quanto tempo?
No primeiro mês de temporada.

E desde então qual foi o valor médio do bilhete?
R$ 80. Mas 95% (do público) pagam meia-entrada. Então, ficamos com a metade do que seria a nossa bilheteria. É a farra da meia-entrada. Além disso, os aluguéis dos teatros aumentaram, e a estrutura de muitas salas do país só piorou. Existem lugares que são verdadeiros buracos vazios, que você aluga a preços exorbitantes mesmo sem equipamentos. Aí, você precisa alugar equipamentos. E o preço deles aumentou, claro.

Como foi possível superar isso e ter retorno de bilheteria?
Fizemos um mapeamento de praças e teatros aos quais poderíamos ir. Escolhemos teatros grandes e corremos o risco, mas os lotamos. E em lugares com salas de 500 lugares, fizemos até três sessões por dia.

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