sábado, 16 de janeiro de 2016

O paraíso da língua portuguesa fica no Brasil - mais precisamente no Rio de Janeiro, na Rua Luís de Camões nº 30

Do Ncultura 


Pelo seu prestígio nos meios intelectuais, pela beleza arquitectónica do edifício da sua sede, pela importância do acervo bibliográfico e ainda pelas actividades que desenvolve, o Real Gabinete Português de Leitura é, a todos os títulos, uma instituição notável e que muito dignifica Portugal no Brasil.

Em 14 de Maio de 1837, um grupo de 43 emigrantes portugueses do Rio de Janeiro e deve-se sublinhar que isto ocorre somente 15 anos depois da Independência do país – reuniu-se na casa do Dr. António José Coelho Lousada, na antiga rua Direita (hoje rua Primeiro de Março), nº 20, e resolveu criar uma biblioteca para ampliar os conhecimentos de seus sócios e dar oportunidade aos portugueses residentes na então capital do Império de ilustrar o seu espírito.

Entre esses homens, cuja maioria era composta de comerciantes da praça, estavam alguns que haviam sido perseguidos em Portugal pelo absolutismo e que tinham emigrado para o Brasil. Era o caso de José Marcelino Rocha Cabral, advogado e jornalista, que iria ser eleito primeiro presidente da instituição.

É possível que ao se preocuparem com o nível de instrução de seus compatriotas e ao quererem incutir em muitos o gosto pela leitura, os fundadores do “Gabinete” tenham sido inspirados pelo exemplo vindo da França, onde, logo seguir à revolução de 1789, começaram a aparecer as chamadas “boutiques à lire”, que nada mais eram do que lojas onde se emprestavam livros, por prazo certo, mediante o pagamento de uma determinada quantia.

Seguindo o exemplo dos “gabinetes de leitura” de raiz portuguesa e ainda na segunda metade do século XIX, surgiram, impulsionados pela maçonaria e pela república positivista, em várias cidades do interior do Estado de São Paulo, instituições semelhantes que também eram denominadas “gabinetes de leitura” e que foram transformadas depois em bibliotecas municipais.

É por essa altura que os dirigentes começam a pensar em construir uma sede de maiores dimensões e condizente com a importância da instituição. Para esse fim, é adquirido um terreno na antiga rua da Lampadosa. E as comemorações do tricentenário da morte de Camões (1880) vão ser o grande pretexto para motivar a “colónia” portuguesa e levar adiante o projecto.

Portugal atravessava crises medonhas: eram os deficits da Corte e a ameaça das grandes potências às colónias da África; eram as mazelas de uma sociedade que não reagia às críticas e farpas dos “vencidos da vida”; eram os “escândalos do tabaco” e as lutas dos partidos; eram os “cortejos do bacalhau” na “baixa” lisboeta para depreciar a Epopeia quinhentista; era a falta de interesse pelas ideias novas que vinham da Europa, a apatia do zé-povinho retratado nas caricaturas mordazes de Bordalo Pinheiro. O projecto escolhido foi o do arquitecto português Rafael da Silva Castro, com seu traço neomanuelino a evocar a epopeia camoniana.


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