Paulo Eboli: Mea Culpa
Chorei muito, outra noite, durante e após o pronunciamento
impronunciável da Dilma.
Ela (que falta faz o “it”, na língua portuguesa!) demonstrou
por A + B… que eu sou o responsável pela crise econômica e política do Brasil.
Claro! Como não eu não havia chegado a essa conclusão antes?
Se não, vejamos:
Leio a Veja e o Globo; assisto a TV Globo; trabalho; nunca
roubei; estudei muito; pago impostos, todos; penso; acredito em mérito; acho
Cuba e Venezuela duas merdas; não gosto do Estado Islâmico; não leio a Carta
Capital; acho o Lula um ladrão safado; gosto de coxinha, inclusive a de
galinha; não acho o Lindberg bonito; meu pai trabalhava; meu avô trabalhava;
minha mulher trabalha; entendo que educação é fundamental; meus filhos
trabalham; acredito que o Roberto Marinho já morreu; pra mim, o MST é um bando
de vagabundos fora da lei; acho o Mercadante uma besta; sou a favor da
extradição do João Santana para a Guiné Equatorial; vou pra rua no dia 15 no
dia 12; me recuso a discutir ideias da Dilma, porque estas não existem; votei
duas vezes no FHC; sou pela versão da descoberta do Brasil por Cabral, não por
Lula; sou contra cotas, sejam quais forem; idem com as bolsas; acho o Chico
Buarque um analfabeto político; e o José de Abreu um farsante; na minha
opinião, Maduro, Evo Morales e Cristina Kirchner, deveriam trabalhar num circo
de aberrações; tenho nojo da Luciana Genro; meu ouvido não é penico; minha
tolerância anda em torno de zero; acho que os comunistas deveriam ser reunidos
num museu e deixados lá, em exposição pública; ser de esquerda ou direita, não
quer dizer nada pra mim; ainda acredito em ética; também em democracia plena;
não ganho nada do governo; acho a justiça brasileira uma bosta; quero o fim da
pobreza, não a sua eternização; acho o Foro de São Paulo um projeto fascista;
detesto mentiras; não gosto de marginais; não voto em bandido; estou de saco
cheio de ser sacaneado!
Como podem ver, a Dilma tem razão.
A situação lamentável do país tem tudo a ver com a minha
existência.
Talvez, com a de vocês também, quem sabe?
No meu caso, eu prometo, daqui pra frente, continuar sendo
exatamente como eu sou.
Viu, Dilma?
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