Com US$ 550 milhões do BNDES, Dilma renova fôlego da
Odebrecht na crise, que expõe empreiteiras atropeladas pela ganância em
negócios com a Petrobras
A decisão do governo Dilma Rousseff de financiar a
construção de térmicas a carvão na República Dominicana levou alegria ao
Palácio Nacional, em Santo Domingo, e à sede da Odebrecht, na Praia de
Botafogo, no Rio. Os seis mil quilômetros que separam os edifícios foram
abstraídos no mapa de interesses dos governos e da empreiteira brasileira.
Dilma ajudou a revigorar a campanha do presidente dominicano
Danilo Medina em sua batalha doméstica para mudar a Constituição, para poder
disputar novo mandato em 2016.
E renovou o fôlego da Odebrecht em plena crise, detonada
pelas investigações sobre corrupção na Petrobras, que expõe as construtoras em
indigência de caixa e de crédito.
O empréstimo de US$ 550 milhões do BNDES Social à República
Dominicana foi autorizado na terça-feira, 30 de dezembro. Negócio regular, mas
peculiar. Em valor ultrapassa a soma do apoio dado pelo BNDES nos últimos 17
anos às exportações para países vizinhos como o Chile. Equivale à metade dos
financiamentos do banco à Venezuela durante os governos Hugo Chávez e Nicolás
Maduro, até setembro.
É pouco mais de meio bilhão de dólares para duas usinas
térmicas a carvão. Créditos a esse tipo de indústria, altamente poluidora,
estão praticamente banidos do cardápio de instituições internacionais, como o
Banco Mundial.
No BNDES, a prioridade é a venda do “conteúdo nacional”. O
banco repassa os recursos diretamente à exportadora — no caso Odebrecht, em
consórcio com a italiana Tecnimont e o empreiteiro dominicano Manuel Estrella.
Dinheiro na mão, subsidiado, não tem preço. Principalmente
numa etapa em que empreiteiras se veem asfixiadas pela suspensão de pagamentos
governamentais e pelas sequelas da própria ganância nos negócios com Petrobras.
É o motivo da romaria ao escritório paulistano de Lula: “A
gente vai lá para o ex-presidente procurar a amiga dele ( Dilma) e dizer:
‘Amiga, veja o que você faz. Obrigação tem que pagar’” — contou o dirigente da
UTC/Constran João Santana à repórter Andreza Mattais. O êxito com Lula é medido
pelos repasses do BNDES.
Alguns sentem-se privilegiados, outros descartados. Na
UTC/Constran, Camargo Corrêa, OAS e Mendes Júnior prevalece a ansiedade. Uma
década de suas obscuras — às vezes, tenebrosas — transações com agentes
públicos e líderes políticos pontuam as mais de 50 mil páginas de processos
sobre a corrupção na Petrobras.
A Odebrecht emerge em dezenas. O ex-diretor da estatal Paulo
Roberto Costa, por exemplo, confessou ter recebido US$ 31,5 milhões. A
empreiteira nega, com veemência. Alguns dos seus concorrentes refletem sobre a
autoincriminação, apostando na atenuação das penas.
Em abril devem sair as primeiras sentenças. Começará uma
nova fase, a dos processos contra outras empreiteiras.
A régua para punição de empresários foi criada pelo Supremo
Tribunal Federal no mensalão, ao estabelecer 40 anos em regime fechado para a
banqueira Kátia Rabello, do Rural, e conceder o regime semiaberto ou prisão
domiciliar aos políticos condenados.
Caso o juiz Sérgio Moro decida seguir o exemplo de rigor do
tribunal superior com os empresários do mensalão, o Supremo ficará exposto à
própria contradição na hora de sentenciar políticos envolvidos em corrupção na
Petrobras.
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