Percival Puggina: Devoção a nossa senhora da presidência…
“Em 2014 acompanhamos um intenso período eleitoral, onde a
reeleição da Presidenta da República, Dilma Rousseff, foi conquistada com muita
luta e ação da militância na rua. Agora é tempo de organizar a casa
internamente, de compor quadros administrativos do governo e de seguir
avançando com a conquista de direitos e de espaços para o povo. Nesse sentido,
os movimentos sociais, organizações e conjuntos, protagonistas dessa corrida
exitosa se colocam a disposição e manifestam o desejo de participação nas decisões
do governo de coalizão que vem se desenhando, afim reafirmar suas lutas,
bandeiras e anseios.”
Se você pensou que esse texto fosse de alguma organização
juvenil do PT ou do PCdoB, qualificando-se e se disponibilizando para ocupar
cargos no governo Dilma, enganou-se. Esses maus tratos ao idioma são as
palavras iniciais da Carta Aberta da Pastoral da Juventude da Igreja Católica,
divulgada há poucos dias. Tem mais, se você pensou que isso acontece fora do
alcance da CNBB, enganou-se novamente. O site da PJ afirma, a quem interessar
possa, o vínculo e o apoio que tem da Conferência:
“Merece destaque aqui a presença efetiva da organização da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, no Setor Juventude, seja através dos
bispos acompanhantes das PJs ou dos assessores e assessoras. Junto a essa
presença e apoio, figura-se com muita importância os centros e institutos de
Juventude, que através da Formação, Assessoria e Pesquisa, sempre se colocaram
como estrutura de apoio à organização das Pastorais da Juventude”.
Se você pensou que a devoção filial a nossa senhora
presidenta é uma peculiaridade dos jovens, com tolerância das autoridades
episcopais que os acompanham e daqueles que desde o interior da CNBB os
assessoram, errou de novo. A própria Conferência não deixa por menos. O texto a
seguir foi extraído da “Análise de Conjuntura” apresentada pela assessoria da
CNBB à 20ª Reunião do Conselho Permanente Ampliado, que se reuniu em agosto de
2014 (em plena campanha eleitoral). Tais análises são rotineiras, elaboradas
por assessores da entidade e, não raro, contam com a colaboração de membros de
governos petistas. Lá pelas tantas, examinando a conjuntura econômica do país,
dizem assim os assessores (a íntegra está no site da CNBB, em Publicações):
“A sensação de um clima inflacionário espalhado pela mídia,
baseando-se sobre os gastos ditos excessivos, sobretudo sociais, visa difundir
um temor da volta da inflação, temor que é responsável por uma difusão da
inflação. Entretanto, a taxa de inflação de agosto pode ficar mais baixa ou
próxima daquela de julho (0.01%), contrariamente às previsões dos analistas do
mercado financeiro. A aproximação das eleições acirra a disputa
econômico-financeira entre governo e especuladores. A imprensa não está contribuindo
para o debate político-econômico, substituindo a informação pela ideologia da
crise permanente. A mídia, porta-voz das elites financeiras, informa que o
Brasil está indo à falência. As manchetes dos jornais (impresso e TV) não param
de denunciar erros na política governamental que teriam provocado ondas de
desconfiança.”
É visível o intuito falsamente profético do texto, bem como
a absoluta conversão dos autores à boa nova petista e a seus apóstolos da
Papuda. De resto, tem sido assim a história da CNBB e seus organismos há meio
século. Só para que não pairem dúvidas sobre a semelhança entre essas falsas
profecias e as da “quarta estrela de Jacó”: a inflação nos meses seguintes a
julho subiu constantemente de 0,25% a 0,78% e em janeiro pulou para 1,24%. Ah!
antes que me esqueça: na conjuntura analisada pelos assessores da CNBB não há
uma única palavra sobre corrupção, Petrobras, ou qualquer outro escândalo da
pauta nacional.
Este é mais um que se soma às dezenas de artigos nos quais,
há décadas e em vão, denuncio os mesmos problemas nas mesmas estruturas da
minha Igreja em nosso país.
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