sábado, 7 de fevereiro de 2015

Já que a “palmada do Papa” deu caldo, vai um texto mostrando que quem merece a palmada são os pais

Francisco Bosco, o “canhotinha caviar” mais pernóstico que conheço (lê Baudellaire na praia), e que agora vai ficar impossível, depois que foi nomeado presidente da Funarte, escreveu em sua coluna do Globo, há mais ou menos um mês o seguinte texto extraído do artigo “Fragmentos das férias”:

“Meu filho Lourenço, com um ano e meio de idade, tem mais energia que um atleta de ponta. Além de incansável, é extrovertido ao ponto do cômico. Se aproxima de qualquer pessoa, para na sua frente, bisbilhota o seu celular — e sobretudo pede a sua comida. Geralmente é bem recebido pelos adultos, porque é lindo (não se parece nada comigo), mas nem tanto pelas crianças mais velhas (‘tirem esse bebê mala daqui’). Nesses dias de férias, volta e meia passava alguém na praia que eu nunca tinha visto e comentava: ‘Olha lá o Lourenço!’ Um dia, num passeio a Corumbau, nos sentamos num bar, à beira da praia, que tinha diversas mesas ao redor. A cada cinco minutos meu filho aparecia numa mesa diferente, onde era paparicado e roubava um aipim frito ou uma isca de peixe. Num instante de descuido, eu e minha mulher o perdemos de vista. Sentimos alguns segundos de pânico até o avistarmos no centro de uma mesa com dez pessoas, ganhando batatinha frita na boca e os paparicos de sempre. Quando nos levantamos para ir embora, várias pessoas de diversas mesas se levantaram: ‘Tchau, Lourenço!’ (E eu fiquei parecendo o pai ‘que não dá comida pra esse menino, coitado’).”

Fiquei pensando: “Coitado do Lourenço... Os pais acham tão lindo que ele roube coisas do outros que chegam a ponto de botar no jornal”.

A criança não tem culpa, mas deve ser uma mala mesmo, como dizem as crianças mais velhas. Não há nada mais desagradável que crianças correndo soltas em restaurantes, além de ser um perigo, pois já vi muitos acidentes com garçons por causa de pentelhinhos mal educados.

Isso fora a confissão do tal “um instante de descuido”, coisa imperdoável para quem se propõe a “tomar conta” de uma criança, nem que seja por um átimo. Com mais um detalhe: tenho absoluta certeza que não foi só “um instante de descuido”, mas sim horas e dias a fio, já que, pelo relatado, deixam o menino solto para fazer toda a sorte de gracinhas, como “roubar”, por todo canto.

Eu não diria que “o pai não dá comida pra esse menino”. O que o pai não dá é educação e atenção.

Um comentário:

  1. Mais uma para a coleção de "afeto" do Ricardo para com o Papa.

    http://internacional.elpais.com/internacional/2015/02/06/actualidad/1423247459_768332.html

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