Francisco Bosco, o “canhotinha caviar” mais pernóstico que
conheço (lê Baudellaire na praia), e que agora vai ficar impossível, depois que
foi nomeado presidente da Funarte, escreveu em sua coluna do Globo, há mais ou
menos um mês o seguinte texto extraído do artigo “Fragmentos das férias”:
“Meu filho Lourenço, com um ano e
meio de idade, tem mais energia que um atleta de ponta. Além de incansável, é
extrovertido ao ponto do cômico. Se aproxima de qualquer pessoa, para na sua
frente, bisbilhota o seu celular — e sobretudo pede a sua comida. Geralmente é
bem recebido pelos adultos, porque é lindo (não se parece nada comigo), mas nem
tanto pelas crianças mais velhas (‘tirem esse bebê mala daqui’). Nesses dias de
férias, volta e meia passava alguém na praia que eu nunca tinha visto e
comentava: ‘Olha lá o Lourenço!’ Um dia, num passeio a Corumbau, nos sentamos
num bar, à beira da praia, que tinha diversas mesas ao redor. A cada cinco
minutos meu filho aparecia numa mesa diferente, onde era paparicado e roubava
um aipim frito ou uma isca de peixe. Num instante de descuido, eu e minha
mulher o perdemos de vista. Sentimos alguns segundos de pânico até o avistarmos
no centro de uma mesa com dez pessoas, ganhando batatinha frita na boca e os
paparicos de sempre. Quando nos levantamos para ir embora, várias pessoas de
diversas mesas se levantaram: ‘Tchau, Lourenço!’ (E eu fiquei parecendo o pai ‘que
não dá comida pra esse menino, coitado’).”
Fiquei pensando: “Coitado do Lourenço... Os pais acham tão lindo
que ele roube coisas do outros que chegam a ponto de botar no jornal”.
A criança não tem culpa, mas deve ser uma mala mesmo, como
dizem as crianças mais velhas. Não há nada mais desagradável que crianças correndo
soltas em restaurantes, além de ser um perigo, pois já vi muitos acidentes com
garçons por causa de pentelhinhos mal educados.
Isso fora a confissão do tal “um instante de descuido”,
coisa imperdoável para quem se propõe a “tomar conta” de uma criança, nem que
seja por um átimo. Com mais um detalhe: tenho absoluta certeza que não foi só “um
instante de descuido”, mas sim horas e dias a fio, já que, pelo relatado,
deixam o menino solto para fazer toda a sorte de gracinhas, como “roubar”, por
todo canto.
Eu não diria que “o pai não dá comida pra esse menino”. O
que o pai não dá é educação e atenção.
Mais uma para a coleção de "afeto" do Ricardo para com o Papa.
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