Carlos Newton da Tribuna na Internet
Reportagem de Diego Escosteguy, editor-chefe da Época, sobre
a delação premiada do senador Delcídio do Amaral, ex-líder do governo, faz um
escarcéu no site da revista acerca de uma conta aberta em Liechtenstein por
Inês Maria Neves Faria, mãe do senador Aécio Neves. Como se sabe, aos
procuradores da Lava Jato, Delcídio disse que fora informado “pelo ex-deputado
federal José Janene, morto em 2010, que Aécio era beneficiário de uma fundação
sediada em um paraíso fiscal, da qual ele seria dono ou controlador de fato;
que essa fundação seria sediada em Liechtenstein“.
A reportagem desperta invulgar interesse, qualquer um quer
ler com sofreguidão, para saber se foram confirmadas as atividades corruptas do
candidato que enfrentou Dilma Rousseff nas urnas em 2014, especialmente as
propagadas denúncias sobre Furnas, que vira e mexe voltam ao noticiário. Mas o
texto é uma frustração, cheio de incertezas:
“Delcídio diz que não sabe dizer ao certo, mas que “parece
que a fundação estaria em nome da mãe ou do próprio Aécio Neves; que essa
operação teria sido estruturada por um doleiro do Rio de Janeiro”. Delcídio
disse não saber se há relação entre essa fundação e as acusações que fez ao
tucano – entre elas, de ser beneficiário de propinas em Furnas e de ter agido
para interferir nas investigações da CPI dos Correios, da qual o petista foi
presidente, em 2006. Janene era um dos líderes do esquema em Furnas, segundo as
investigações”.
A reportagem é extensa e escandalosa. Desperta muito
interesse, mas acaba caminhando para um anticlímax, porque revela que a conta
era conjunta da mãe com a irmã de Aécio, Andréia, e o então deputado federal
consta apenas como beneficiário e nem tinha autorização para movimentá-la. Além
disso, não se tratou de “conta secreta” ou “empresa offshore”, nada disso.
O mais incrível é que a matéria gira em torno de Aécio
Neves, embora a suposta “ocultação de patrimônio”, por falta de declaração à
Receita Federal, somente pudesse ser atribuída à mãe e à irmã. Ainda mais
interessante é o fato de o suposto crime levantado pela revista se referir à
decepcionante soma de 30 mil francos, que à época equivaleriam a míseros 30 mil
dólares, que nada significavam para uma mulher riquíssima como Inês Maria
Neves, viúva do empresário e banqueiro Gilberto Faria, figura famosa no jet set
nacional. E nem precisavam ser declarados à Receita, porque a lei exigia
registro apenas de quantias acima de 100 mil dólares.
E a surpreendente matéria termina de forma melancólica, nos
seguintes termos:
“Em 23 de fevereiro de 2010, o procurador Rodrigo Poerson –
dez meses após seus colegas de andar na Procuradoria da República do Rio
acusarem Muller de operar uma “central bancária paralela” – assinou despacho em
que pede o fim das investigações sobre a conta da fundação Bogart & Taylor.
(O MPF se recusou a fornecer cópia do parecer; Época teve que obter o documento
na Justiça.) Nele, em três páginas, Poerson acolheu integralmente os argumentos
da defesa de Inês Maria. E disse ser inviável conseguir a colaboração de
Liechtenstein. Ele desconsiderou os documentos assinados por Inês Maria, que
previam a abertura da conta, e a própria natureza das fundações em
Liechtenstein – para criar uma fundação, é necessário depositar 30 mil francos
suíços numa conta aberta em nome dela. Diante do parecer de Poerson, em 26 de
fevereiro de 2010 o juiz federal Rodolfo Hartmann, do Rio de Janeiro, não teve
opção senão arquivar o processo. Ele fez a ressalva de que, se o Ministério
Público tentasse conseguir mais provas, reabriria a pasta amarela”.
Bem, o que a opinião pública quer saber é se Aécio está ou
não envolvido em corrupção, se realmente participou de esquemas montados no
governo de Minas ou em estatais como Furnas. Mas não há qualquer informação a
respeito nesta “denúncia” da Época, que mais parece se tratar de matéria
plantada para evitar nova candidatura do senador mineiro, vejam a que ponto
caiu o jornalismo brasileiro. E a reportagem de denúncia rapidamente sumiu do
site da IstoÉ, substituída por uma arrasadora nota oficial da assessoria do
senador mineiro.
Tradução simultânea: a briga pela candidatura tucana em 2018
será de baixíssimo nível, com golpes na linha da virilha, como se dizia
antigamente. Essa baixaria mostra que a política brasileira se tornou um
deserto de homens e ideias, como advertia um grande brasileiro chamado Oswaldo
Aranha, que deveria ter sido presidente em 1945, substituindo Getúlio Vargas,
mas perdeu o bonde da História.
Se Aranha tivesse sido candidato e vencido a eleição, o
respeitável público agradeceria, porque o presidente então eleito, Eurico
Dutra, era uma vaca fardada, como dizia o general Mourão Filho, e fez um
governo decepcionante, que só veio a ser suplantado agora pela gestão tenebrosa
de Dilma Rousseff, a mulher sapiens.
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