Fala sério! Só na cabeça de um babaca como Obama pode passar
a ideia de querer ser fotografado junto à imagem de um assassino (sim, ele pediu).
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Vilma Gryzinski: A
triste farsa da visita de Obama a Cuba
Como saber se um acontecimento é ou não histórico? Primeira
dica: se o principal envolvido começar a classificar um determinado ato seu de
histórico, ele definitivamente não é. Na verdade, é apenas propaganda. Foi isso
que fez Barack Obama em sua visita a Cuba, ensombrecida pela tepidez com que
falou a e sobre os pobres dissidentes cubanos e confraternizou
entusiasticamente com o ditador Raúl Castro.
Como Napoleão exibia de seus generais e Margaret Thatcher de
seus ministros, políticos não precisam ser apenas bons no que fazem. É preciso
que também tenham sorte. Tão bafejado pelos fados no início de sua carreira
política, Obama ultimamente tem dado azar. Americanos e cidadãos de outros
países foram estraçalhados em vários pedaços pelos terroristas que atacaram em
Bruxelas num dos vários momentos em que ele demonstrava afeto e consideração
pelo octogenário Raúl, exultante em pegar carona na popularidade do visitante.
Deve ser um plano do Estado Islâmico para aborrecer o
presidente americano. Ele estava num jogo de golfe quando o vídeo do primeiro
jornalista americano decapitado pelos terroristas foi divulgado. Entediado,
interrompeu o jogo para falar rapidamente e voltou ao que interessava. Em Cuba,
reservou exatamente 50 segundos para falar da atrocidade praticada pelos
muçulmanos radicais na Bélgica.
Reatar relações com Cuba pode vir a se comprovar como uma
boa manobra diplomática do ponto de vista dos interesses americanos. Para o regime
cubano, é vital. Com a perda do petróleo e da proteção dos padrinhos
bolivarianos da Venezuela, Cuba, como uma das tantas jineteras que seduzem
turistas, precisa procurar outro senhor que a ajude. Em termos regionais,
também interessa aos Estados Unidos preparar e estabilizar o catastrófico
fim do regime venezuelano que se
avizinha.
Não é impossível que o tratamento brutal reservado aos
poucos dissidentes cubanos se abrande, pelo menos por algum tempo, embora a
corajosas integrantes do grupo Damas de Branco tenham levado pancada com Obama
já em Cuba. O encontro do presidente com dissidentes, que estavam emocionados,
foi morno e, da parte dele, covarde.
O jornal inglês The Guardian acompanhou dois dissidentes que
assistiam pela televisão o principal discurso de Obama em Havana. Ailer
González e Claudio Fuentes ficaram estarrecidos. Ao final do palavrório cheio
de vento sobre o futuro, Fuentes, que havia apanhado da polícia no dia
anterior, perguntou: “Quem ele pensa que é? Um guru? Esse discurso é um presente
para Raúl Castro.”
Obama já havia criticado os Estados Unidos – atenção, o país
que ele preside – por não ter sido mais bonzinho com Cuba e exaltado a farsa da
saúde e da educação que o regime comunista provê aos cubanos. Enquanto ele
falava, a maioria da população provavelmente sonhava com frangos.
Outro fato falsamente “histórico” foi a entrevista coletiva
de Obama e Raúl Castro. Um jornalista americano perguntou se existiam presos
políticos em Cuba. Adivinhem o que o ditador respondeu. Ele também disse que se
o entrevistador desse os nomes dos presos, seriam libertados. O jornalista
deveria então apresentar a lista com 89 nomes elaborada pela Comissão Cubana de
Direitos Humanos e Reconciliação. Dos 89, onze estão em liberdade vigiada e um
em prisão domiciliar. Adivinhem se o jornalista ficou calado, achando que já
tinha feito sua pergunta “histórica”.
Obama poderia ter feito toda a política de abertura a Cuba
sem precisar aparecer ao lado do ditador, com o grafite gigante de Che Guevara
ao fundo. Poderia até ter viajado a Cuba, para contrabalançar a visita muito
mais importante à Argentina sob a presidência de Mauricio Macri, ao qual os
Estados Unidos estão dando excepcionais manifestações de apoio. Não precisava
levar a Cuba a mulher e as filhas, sempre uma prova de consideração além do
script nas visitas de estado, mas Michelle provavelmente quis usar seu
guarda-roupa novo, ao estilo tropical chique, cheio de vestidos estampados e
decotados.
Obama não deveria, acima de tudo, ter ido ao jogo de
beisebol que estava na agenda, mas deu o
azar de ser precedido pelos atentados na Bélgica. Obama foi assim mesmo, todo
saltitante de camisa branca e óculos escuros, imitando o homem que talvez
gostaria de ser, Jay Z, o ex-traficante que virou milionário da música e se
casou com Beyoncé. O casal Obama praticamente surrupiou o estilo de Jay Z e
Beyoncé quando visitaram Cuba. Só faltou o charuto, que Obama deve ter fumando
escondido da mulher.
Na Argentina, o presidente americano deu outra coletiva,
respondendo a perguntas sobre terrorismo e Estado Islâmico. Reiterou que sua
prioridade é combater os radicais muçulmanos – só o fato de ter que reiterar
isso já indica a tibieza com que trata o assunto. E criticou, sem dizer os
nomes, as propostas dos pré-candidatos republicanos Donald Trump e Ted Cruz,
que já falaram em suspender a entrada de refugiados vindos da Síria e outros
países muçulmanos, para prevenir a infiltração de terroristas como os que
atacaram na Bélgica, ou fazer terra arrasada nos territórios sob controle do
Estado Islâmico.
Ambas as propostas podem ser realmente autodestrutivas. Mas
ressalte-se o fato de que depois das atrocidades de Bruxelas, com uma dezena de
vítimas americanas, Obama falou mal de adversários políticos internos. Foi
outra prova de confusão política, falta de iniciativa e inapetência para
enfrentar o enorme problema representado hoje pelo terrorismo islâmico. O que
os dissidentes cubanos, tão poucos e tão acossados, poderiam esperar que viesse
daí?
A visita de Obama a Cuba foi chamada pelos sicofantas de
hábito de Cubama, um neologismo em inglês que não tem as mesmas conotações em
português. Mesmo sem querer, criaram o nome certo para o homem certo no lugar
errado.
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