Os incessantes gritos de “Não vai ter golpe!” vindos da
plateia interromperam o espetáculo “Todos os Musicais de Chico Buarque em 90
Minutos” durante a apresentação na noite deste sábado, 19, em Belo Horizonte.
Parte do público não aceitou um comentário do ator e diretor Claudio Botelho
contra a presidente Dilma e o ex-presidente Lula e, por causa da confusão, o
espetáculo foi interrompido antes do fim.
“O governo militar interrompeu uma apresentação de Roda
Viva, em 1969. E agora vocês interromperam o nosso Roda Viva”, disse Botelho,
antes de sair de cena. As reações negativas, porém, convenceram Chico Buarque
de Holanda a decidir, na tarde deste domingo, 20, a não mais liberar os
direitos de sua música para os espetáculos de Botelho e sua empresa.
“Sempre faço improvisos em um determinado momento do
espetáculo, incluindo comentários políticos, criticando de Dilma a Eduardo
Cunha, e nunca enfrentei nenhuma reação negativa, ao menos, no Rio de Janeiro”,
disse Botelho.
O momento a que ele se refere acontece quando seu personagem,
o dono de uma companhia de teatro itinerante, chega a uma cidade onde não
encontra ninguém na praça. Pelo texto original, ele diz: “Onde estão as pessoas
dessa vila? Assistindo novela?”. Em seguida, vem o momento do improviso e, no
sábado, Botelho acrescentou: “Ou será
que estão assistindo à prisão de um ex-presidente? Ou de uma presidente ladra
que vem sendo vítima de impeachment?”
Nesse instante, ouviram-se duas ou três vaias. “Depois
viraram dez, até que, de um determinado ponto do teatro, onde estavam cerca de
200 pessoas (o Sesc Paladium tem capacidade para aproximadamente mil pessoas),
começaram os gritos de ‘Não vai ter golpe’. Minha primeira reação foi a de rir.
‘Mas até na minha terra isso acontece, gente?’, eu falei. Não adiantou. Uma turma
se aproximou até perto do palco, com um olhar raivoso que poucas vezes vi, e
continuou gritando. Houve quem pedisse silêncio, dizendo querer ver o
espetáculo. Cantamos mais duas músicas, mas foi impossível continuar”, conta o
ator.
Pois é. Tem muita gente por aí defendendo Botelho sem se dar
conta que ele deu uma de porralouca quando resolveu chamar Lula e Dilma de
ladrões, mesmo sabendo que nesses tempos de cólera a plateia de um espetáculo
sobre Chico é quase que obrigatoriamente formada por uma maioria petralha, já
que quem é de oposição, ainda que inconscientemente, tende a boicotar o
espetáculo. Foi tremendamente imprudente.
Já o resultado disso, com o Chico político, o Chico Merda,
proibindo que suas músicas fossem executadas, era perfeitamente previsível. Mas
tem muita gente que, apesar de concordar que Chico Merda cometeu uma
arbitrariedade, acha que “é preciso saber separar o ser humano do artista”. Só
que separar, hoje, o Chico Buarque do Chico Merda, fica difícil, pelo menos
para mim, já que a cada música que ouço dele automaticamente me vêm as imagens
de um boné do MST, uma propaganda política de Dilma e uma forte tendência a
achar que suas letras, feitas no período dos militares no poder, ficam muito
melhores se as aplicarmos à atual situação política do País.
Num tempo
Página infeliz da nossa história
Passagem desbotada na memória
Das nossas novas gerações
Dormia
A nossa pátria mãe tão distraída
Sem perceber que era subtraída
Em tenebrosas transações (Vai Passar)
Acorda amor
Eu tive um pesadelo agora
Sonhei que tinha gente lá fora
Batendo no portão, que aflição
Era a dura, numa muito escura viatura
minha nossa santa criatura
chame, chame, chame, chame o ladrão
Acorda amor
Não é mais pesadelo nada
Tem gente já no vão da escada
fazendo confusão, que aflição
São os homens, e eu aqui parado de pijama
eu não gosto de passar vexame
chame, chame, chame, chame o ladrão (Acorda Amor)
(argento) .. é, retratam com perfeição o momento atual ...
ResponderExcluir(argento) ... aliás, faz tempão, não saímos do "MomentoAtual" - estamos "congelados", acho. desde 1500 ...
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