Assistido às reprises da Escolinha do Raimundo - a original,
gravada entre 1990 e 1995 -, que, aliás, não perco, a gente tem uma boa ideia
de como era fluido e natural o humor da época, afinal, não tão distante assim,
sem o patrulhamento imbecil de negrismos, gayzismos, feminismos, indigenismos,
estrangeirismos - principalmente judeus, turcos e portugueses - e por aí afora.
A Escolinha tinha tudo isso que hoje talvez seja impensável
reproduzir com fidelidade: um judeu e um turco pães-duros, uma portuguesa e duas
gostosas burras, um viado e uma ninfomaníaca, uma crioula que satirizava os
ainda incipientes “movimentos negros”, um bêbado, um índio, um sindicalista
agitador e muitos outros mais “incorretíssimos”, que nos proporcionavam
gargalhadas legítimas sem parar. Claro que a genialidade do Chico Anísio e o
talento incontestável do elenco, que atuava livre para criar, eram fundamentais.
Um exemplo desse descompromisso com o “correto” foi a piada
de anteontem do João Canabrava (Tom Cavalcanti), impensável de ser gravada hoje:
Canabrava, bêbado, como sempre, chega meio triste e Raimundo
lhe pergunta:
- O que houve seu João?
- É que minha mulher se queimou todinha. Ficou pretinha -
respondeu Canabrava.
- Impossível! - retrucou Raimundo - Acabei de ver sua mulher
na secretaria da escola e ela estava absolutamente normal!
E Canabrava:
- Xiiiii... Então tracei a empregada!
Confesso que ainda não assisti por inteiro a nenhum dos
remakes da Escolinha que estão fazendo e nem sei quais são todos os personagens
que foram “ressuscitados” - parece que, pelo menos o judeu, o turco, o
português e a crioula não existem mais -, mas posso garantir que não há nos
novos scripts nada nem parecido com essa piada.
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