Luis Fernando
Verissimo: A intenção do carnaval
“Ninguém está acima da lei” foi o refrão que acompanhou a
ida do Lula, à força, para depor na semana passada. Perfeito. Numa república
democrática, ninguém deve se considerar acima da lei, nem ex-presidentes. Mas
faltou um adendo: “Nem juízes”.
A condução coercitiva determinada pelo Moro foi, mais do que
um circo desnecessário, uma ilegalidade. Pela lei, a condução coercitiva é
usada quando uma intimação não é atendida. Não foi o caso do Lula, que já tinha
deposto três vezes sem necessidade da força. Se uma ação policial é descabida e
fora da lei e, mesmo assim, é realizada, e com estardalhaço, resta especular
sobre o que motivou a ação e o estardalhaço. Foi só para humilhar o Lula? Foi
uma deliberada demonstração de força, tão compulsiva que se fez mesmo em
desafio à sua evidente ilegalidade e sua previsível repercussão?
É difícil acreditar que a Polícia Federal não tivesse outro
canto de São Paulo para ouvir o Lula a não ser o Aeroporto de Congonhas, com
sua implícita pequena distância, de avião, de Curitiba e da prisão, se a
polícia assim quisesse. E, no fim, ainda tivemos a espantosa declaração do Moro
de que o método e o local do depoimento do Lula tinham sido escolhidos para
proteger o ex-presidente.
Ninguém está imune a ela, de acordo, mas a biografia de
alguém deveria valer alguma coisa ao se avaliar sua posição, acima ou abaixo da
lei. Para ficar só nos ex-presidentes: o Fernando Henrique Cardoso, pelo seu
histórico de intelectual engajado e homem público - não importa o que você
pensa do governo dele -, não merece ver sua vida privada transformada numa
novela das nove e ter que dar explicações sobre um assunto que é só da conta
dele e da família dele. Da mesma forma, o Lula, pela sua história, pelo que ele
representa, deveria ter outras considerações além da pequena regalia de não
precisar usar algemas. Ou talvez a intenção do carnaval fosse essa mesma, a de
mostrar para quem o idolatra que, só porque foi presidente, tem adega com
vinhos caros e pedalinhos pras crianças, ele continua um torneiro mecânico
iletrado sem direito a rapapés.
Quer saber de uma coisa, Verissimo? Enchi o saco! Cansei de argumentar sobre opiniões de gente sem caráter!
Lula “continua
um torneiro mecânico iletrado sem direito a rapapés”, sim! Uma jararaca
peçonhenta para quem todo castigo - incluindo submetê-lo a vexames - será pouco!
E vá esfregar esse rabo gordo nas ostras!
(argento) ... pergunta ao Veríssimo: "A Lei (e a polícia) não visa a proteção de Todos?"
ResponderExcluirEu poderia citar um três juízes e uns três procuradores que deveriam mesmo é estar na cadeia, posso até apresentar as provas que os incriminam, mas como o Brasil vive em regime de autoritarismo, eles continuaram “autoridades”. Mas consigo encontrar nenhum abuso ou qualquer outro motivo para dizer que o Juiz Sérgio Moro esteva se colocando acima da Lei, muito pelo contrário.
ResponderExcluirSobre a condução coercitiva do Lula, é um procedimento que já foi realizado mais de uma centena de vezes na Operação Lava Jato, só apareceram imbecis para reclamar quando aconteceu com o Lula. Não sou jurista, mas vou tentar explicar aos imbecis (que são juristas e estão reclamando, não ao Veríssimo):
O Lula foi testemunha de uma ação da polícia federal, não poderia ser intimado para ser testemunha de algo que iria acontecer, é como testemunhar um acidente, a testemunha pode ser lavada à delegacia naquele momento, mesmo contra sua vontade. O Lula tem ligação direta com os objetos da busca e apreensão, mas não a Marisa, por isso um foi depor e outro não. Se o Lula não estivesse em casa a condução coercitiva perderia o efeito, ele teria que ser intimado.
Mas eu gostei da parte que reclama do lugar onde o Lula foi levado para depor, próximo ao avião que o levaria à Curitiba. Até aonde eu sei ele foi levado para o salão presidencial do aeroporto. Neste ponto eu concordo com o Veríssimo, ele deveria ter sido levado para uma delegacia comum, como qualquer outro cidadão seria. Mas tenho a leve impressão que não foi isso que Veríssimo quis dizer.