quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Saúde em Cuba, em que acreditar? Nos dados fornecidos pelo governo ou na triste realidade?

Cora Rónai se exime de culpa por criticar o regime cubano, mas nos dá subsídios para fazê-lo. Comento abaixo.

Cora Rónai: A saúde em Cuba

Um dos elogios que se fazem à ditadura cubana é que ela teria, ao menos, resolvido a questão da saúde pública. Os baixos índices de mortalidade infantil e a ótima média de vida do país são excelentes e eloquentes indicadores, ainda que dependam de estatísticas governamentais, obviamente muito contestadas pelos opositores do regime. Para cada documentário produzido na ilha louvando as excelências do seu sistema de saúde, há outro, produzido em Miami, que revela uma situação calamitosa.

Não tenho confiança em nenhum dos lados.

Segundo as estatísticas, a expectativa de vida dos cubanos, de 78 anos, igual à dos americanos, é três anos superior à brasileira (75) e 14 anos superior à do Haiti (64), que fica logo ali ao lado. O índice de mortalidade infantil, por sua vez, de menos de cinco óbitos para cada mil nascimentos, seria até melhor do que o dos Estados Unidos (seis), para não falar no Brasil (15). Já segundo os médicos dissidentes, haveria sérias distorções nesses números. Uma acusação que fazem com frequência é que, ao menor sinal de complicação, as grávidas seriam forçadas a abortar, o que influenciaria, é claro, os índices de mortalidade infantil.

O Haiti, acima mencionado, é sempre lembrado pelos defensores da ditadura como exemplo regional do que poderia ter sido o destino de Cuba, se não fosse por Fidel Castro; isso é injusto. Cuba tinha problemas, mas nunca esteve sequer perto de se tornar um Haiti. Na verdade, a ilha já tinha índices de saúde bastante bons antes da revolução. Em 1960, a sua expectativa de vida era de quase 64 anos, num momento em que a média mundial estava em pouco mais de 50, a média da região em 56 e a média dos países ricos em 69. Os índices de mortalidade infantil seguiam essa mesma proporção.

— Eu odeio quando nos comparam ao Haiti! — desabafou a esposa de um diplomata. — Havana se equiparava com países europeus. Nós sempre tivemos uma cultura muito forte e bons índices de educação e saúde.

Conversei muito com as pessoas que ia encontrando aleatoriamente em Havana. E ficou claro para mim que, quando se fala em medicina cubana, há duas coisas diferentes: os médicos, que teriam boa formação e que, sem dúvida, gozam da estima da população, e o sistema de saúde, que não chega a ser a maravilha apregoada pela propaganda oficial.

Um problema sério enfrentado por médicos e pacientes é a falta de material, de suturas a medicamentos e roupa de cama. Outro é a corrupção endêmica: há profissionais que desviam produtos dos hospitais e das clínicas para revendê-los no mercado negro. Não faltam remédios para os turistas e para os cubanos que podem pagar em CUCs, a moeda forte do país, mas, para os cubanos que vivem de pesos, até analgésicos são luxo.

Anotei algumas conversas.

Com uma médica ginecologista: “A nossa formação é muito boa e, sem modéstia, acho que somos ótimos médicos. Mas há um limite para o que podemos fazer. Temos equipamentos sofisticados, mas volta e meia nos faltam as coisas mais simples. Então a parte difícil, que é saber o que têm os pacientes e do que precisam para se curar, está bem resolvida, mas muitas vezes não adianta nada porque simplesmente não temos com que tratá-los”.

Com a dona de um paladar, que antes trabalhava como arquiteta: “A medicina cubana precisa ser revista. É um delírio! O Estado não pode subsidiar toda espécie de tratamento para todas as pessoas, não tem condições para isso. Qual é o sentido de subsidiar cirurgias estéticas, por exemplo? Isso é uma extravagância que ainda faria sentido se todos fossem rigorosamente iguais, mas sabemos que não são. E você sabe como é a natureza humana: acaba que os ricos e os que têm boas conexões conseguem se tratar muito melhor e muito mais rápido do que os pobres. Outra coisa: eu sei cozinhar e hoje posso trabalhar por conta própria, mas um médico, legalmente, não pode. É proibido. Não existem clínicas particulares. Mas os médicos não conseguem viver com o que ganham oficialmente. De modo que quem tem amigos médicos se encontra informalmente com eles, se consulta, depois dá um presentinho. Cubanos de Miami vêm e se operam aqui, a um preço muito acessível, mas acabam pagando aos médicos por fora. Virou uma bagunça”.

Com uma professora aposentada: “O padrão da saúde pública cubana em Havana não é ruim. No interior, no entanto, é outra conversa. Mas eu diria que o que é bom mesmo é a formação dos médicos, e os próprios médicos, muito competentes e humanos. O sistema em si, porém, é arcaico, e está muito comprometido”.

Com o dono do carro antigo em que dei uma volta de uma hora por cerca de US$ 35, técnico de indústria açucareira por profissão: “Minha filha é médica, meus dois sobrinhos são médicos. Ganham bem em relação aos demais trabalhadores, mas os seus salários não chegam a US$ 70 mensais. Não conseguiriam viver se não tivéssemos este carro na família. Há uma quantidade imensa de médicos cubanos pelo mundo, milhares no Brasil, como você sabe. É bonito isso, mas a consequência é que os médicos que ficam em Cuba acabam sobrecarregados. Nos plantões em que deveriam trabalhar três médicos, trabalha um. E este um trabalha por três, mas por um único salário. Sobram médicos cubanos no mundo, mas faltam médicos cubanos em Cuba”.

Cora não fez críticas e nem sequer se deu conta do que disse, limitando-se a transcrever opiniões de cubanos. Simplesmente lavou as mãos, como faz todo cubanófilo arrependido - todos eles ainda sentem um pingo de saudade, não sei se de Fidel ou da juventude que tinham quando acreditavam nele.
.
Ora, é impossível crer que se tenha uma medicina ao menos razoável quando há “um problema sério enfrentado por médicos e pacientes [que] é a falta de material, de suturas a medicamentos e roupa de cama [e] outro [que] é a corrupção endêmica: há profissionais que desviam produtos dos hospitais e das clínicas para revendê-los no mercado negro”.

O outro é meio subjetivo, mas também meio óbvio. Todos sabem que no ensino em Cuba, a maior parte do tempo das aulas é dedicado à doutrinação política em detrimento das matérias pertinentes, do maternal até o último ano da faculdade (até os ainda fãs de Cuba admitem isso), portanto, é lógico afirmar que a competência dos médicos - e outros profissionais - formados na ilha-presídio é bastante duvidosa. Mas vai saber. De repente eles usam o vodu ou, quem sabe, um espiritismo mais sofisticado, incorporando os doutores fritz da vida, para justificar tanto prestígio.

Quanto aos dados estatísticos, só trouxa acredita.

Cá pra nós, é piada!


5 comentários:

  1. Ricardo
    Eu recebo o blog cubano 14ymedio, onde também escreve a Yoani Sanchez. Se quiser, posso pedir para que eles enviem também para vc.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não tem um endereço para acessar o blog?

      Excluir
    2. Obrigado,Magu. Eu dou uma passada por lá de vez em quando e tenho Yoani no twiter também.

      Excluir
  2. Milton
    Mil desculpas. Demorei para ler sua pergunta:

    http://www.14ymedio.com/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Concedo-lhe apenas 999 desculpas, para não dizerem que sou frouxo.

      Excluir