Eu, dentro da minha ignorância sobre o assunto e baseado
apenas no que li, tenho certeza que, em nome dos ecochatos e do politicamente
correto, estão pintando um simples pecador como sendo o diabo. Já falei isso
antes aqui em “Recuperação do Rio Doce não é um bicho de sete cabeças”.
Sacha Calmon: Mineração e histeria ecológica
Terá ocorrido no Brasil um desastre atômico? O vazamento da
barragem da Samarco, 10ª exportadora do Brasil, e seus 4 mil empregos diretos
viraram acontecimento megacatastrófico, sem sê-lo, e gerou histeria jurídica
punitiva irracional, que bem pode ter efeitos sociais danosos, piores que a
passagem da enxurrada dos rejeitos.
A enxurrada jamais foi tóxica nem continha metais pesados
perigosos. Para sanar tanta desinformação, é útil explicar que o minério
extraído pela Samarco é o itabirito, cuja composição é, grosso modo, a
seguinte: 54% ferro, 34% sílica (areia), 1% alumina (terra), 0,5% manganês,
0,2% calcário, 0,2% magnésio e 0,05% fósforo - elementos encontrados no corpo
humano, afora outros nada tóxicos. Para separá-los e concentrar o teor do
ferro, é preciso um processo industrial chamado flotação, feito, simplesmente,
com amido de milho.
Onde a toxidade e os metais pesados? O ferro resultante da
flotação (65% + 1% de sílica) afunda e a borra sobe com a ajuda do amido de
milho. Os rejeitos nas barragens são compostos aquosos de terra e areia
(sílica, alumina, calcário), um pouquinho de fósforo, manganês, ferro
dissolvido e magnésio, além de resquícios insignificantes de outros elementos.
Os rejeitos são mais parecidos com as terras marginais
desbarrancadas pelas enchentes dos rios do que os rejeitos químicos de dezenas
de indústrias (couro, plástico, borracha), arsênico das garimpagens de ouro, de
siderúrgicas e de fornos de gusa, que ficam na beira do Rio Doce e afluentes,
inclusive indústrias de celulose de alto teor de toxicidade, sem falar nos
esgotos não tratados de dezenas de cidades e lugarejos da bacia do Rio Doce, em
Minas Gerais e no Espírito Santo.
O dramático da enchente foi o volume grande e denso que
varreu a superfície dos rios e as margens até o oceano. Enquanto passava a
massa de rejeitos, diminuiu o oxigênio das águas matando peixes e depositou-se
nas margens. Mas passou uma vez só como tsunami. A cor barrenta posterior sobe
do leito e vem da lavagem pelas águas dos barrancos cheios de lama. Houve
mortandade de peixes como na Lagoa Rodrigo de Freitas? Nem de longe. O gado
morreu em massa nos bebedouros dos rios? Ninguém relatou tamanha destruição.
A água já está potável e os peixes já são vistos em cardumes
na água doce. Pescadores, com caniços lançados no rio (a provar que estariam
pescando), se queixam da falta do pescado. No mar, o dano foi mínimo, a mancha,
com a cor barrenta de todo rio, não ameaça a vida marinha. Nenhum relatório
comprova o desastre. O Rio Amazonas entra no oceano 80 quilômetros adentro com
a água barrenta vista a olho nu da estação espacial.
O que precisa acabar são os desatinos jurídicos e o perverso
intento de que cabe à Samarco, sozinha, salvar o Rio Doce, que está morrendo há
muito tempo. Contra a Samarco e, em certos casos, contra a Vale e a BHP
Billinton (acionistas), existem 150 ações individuais e 34 coletivas,
verdadeira babel. Um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) já foi assinado com
o Ministério Público e depositados, aqui e acolá, R$ 1,8 bilhão, afora as
inúmeras ações reparadoras da Samarco: reforço das barragens, reconstrução de
pontes, recuperação de bacias hidroelétricas, dinheiro, casas, roupas,
remédios, água mineral ou caminhões-pipa para as cidades ribeirinhas,
indenizações e reparações e mais um rol de providências, desnecessário
enumerá-las, até porque me falta legitimidade para tanto. Falo por minha conta
e risco e pelo que me relatam os engenheiros de minas, meus amigos.
Cumpre agora à União e aos estados de Minas e Espírito Santo
pensar no emprego das pessoas e conjuntamente ordenar os procedimentos
jurídicos indenizatórios, conceder reduções condicionadas de impostos e abrir
linhas de crédito para a Vale, a Samarco e outras mineradoras usarem ou
venderem os rejeitos como matéria-prima para fazer ecoblocos (construção civil)
e camadas de compactação rodoviária. Fazer do limão uma limonada.
Os aviões caem de vez em quando e nem por isso as companhias
aéreas são fechadas. Minas possui cerca de 600 barragens e os melhores técnicos
barragistas do Brasil. A impressão que se tem é a de que querem acabar com as
mineradoras, preservar a natureza e proibir a mineração. Noutras palavras,
parece que se quer acabar com Minas Gerais, cujo nome evoca, desde as bateias
de ouro e diamantes, o destino natural: minas, ferro, aço, indústrias de
transformação que utilizam o minério e as derivações como matéria-prima, sem
esquecer o nióbio de Araxá.
Mineração envolve risco. Os prejuízos devem ser sanados;
pessoas morreram e bens produtivos foram destruídos bem como casas. Mas que
haja ordem e racionalidade e não o festival desconexo de justiciamentos e
multas bilionárias.
Esse caso é um retrato do Brasil, de um lado os eco chatos, do outro os sem noção. Enquanto um lado tenta mostrar um problema maior que o real, o outro tenta mostrar um problema menor. Juntos conseguem piorar a situação.
ResponderExcluirO acidente ocorreu em 05/11/2015, há mais de dois meses, até agora não apresentarem o PLANO DE EMERGÊNCIA. Li há poucos dias, não lembro onde, que detritos continuam vazando para o rio.
Em 2011, um terremoto com tsunami, no Japão, não teve grupos dizendo que foi maior ou menor, teve grupos recuperando os estragos. No Brasil a recuperação é secundário, primeiro tem que chegar a um consenso sobre o tamanho do estrago.
Calmon não está tentando mostrar: está demonstrando que o risco de contaminação é quase nulo em função dos elementos que vazaram não terem nenhuma toxicidade.
ExcluirPosso até discordar dele quanto à Justiça, que tem que penalizar os envolvidos com o máximo rigor possível, mas que não se esqueça dos governos de minas e federal, a quem cabe, talvez, a metade da culpa.
O link que você botou aí embaixo é uma prova que como sempre os governos só botam tranca depois da porteira arrombada. E tranca vagabunda...
ExcluirO que eu quero alertar, é que o problema é grave o suficiente, mesmo que a toxidade dos detritos seja baixa. Mas no Brasil não precisa de toxidade nos resíduos para piorar uma catástrofe:
Excluirhttp://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2016/01/14/equipamentos-usados-na-limpeza-de-mariana-sao-furtados-em-fazenda.htm
(argento) ... bão, é público (verdade ou não) a contaminação dos rios braZileiros por metais pesados oriundo do esgoto, industrial/residencial, parte diluída nas águas, parte depositada na lama do fundo. O deslocamento da lama da barragem fez revolver o fundo e mistura-los ao total de lama. O que não se tem, e não houve interesse de medir, é a concentração do metal no total da lama deslocada e depositada. Falar apenas que a lama da barragem não continha metais pesados é, no mínimo, desonestidade intelectual. É grave, sim, suficientemente grave, envolveu perda humana e material e, de quebra, inépsias empresarial e estatal ...
Excluir(argento) ... mais, embora a atividade de mineração envolva risco intrínseco, quanto do potencial de risco foi passado ou "compensado" ao povoado? - perguntei e respondo: Picas!
ExcluirAgora a coisa vai:
ResponderExcluirhttp://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2016/01/1730718-apos-tragedia-em-mg-governo-cobra-planos-de-emergencia-de-mineradoras.shtml