Existe uma estação de tratamento de esgoto no rio Irajá, que
desemboca na baía de Guanabara, pronta há dois anos e completamente sem uso.
Motivo? O município e o estado ainda não resolveram quem será o responsável
pelo seu funcionamento, é mole?
Detalhe: o rio Irajá é o responsável pelo despejo de 11% do
esgoto da baía de Guanabara, o que em dois anos dá 300 Maracanãs cheios de
merda e outras porcarias. Pezão e Paes deveriam, por castigo, ser obrigados a
tomar um litro por dia do líquido da foz do rio. Se fosse na Arábia, já
estariam degustando o néctar faz tempo...
Por falar no absurdo que é essa pendenga entre estado e
município no Rio de Janeiro, leiam o que eu escrevi há mais de dez anos e
respondam: mudou alguma coisa ou só as moscas já que a merda é a mesma?
“Desconstruindo o Rio 15/03/2005
A fusão do Rio de Janeiro com a
antiga Guanabara foi certamente a principal vilã das disputas políticas, da
posse desse ou daquele patrimônio, da competência sobre esse ou aquele assunto.
Mas há de se convir que ela já completou 30 anos, tempo mais do que suficiente
para que fossem resolvidas todas as pendengas como por exemplo saber se o
mosquito da dengue é municipal ou estadual, se o Theatro Municipal pode
continuar com esse nome, visto que passou a ser estadual ou se o doente vai
morrer no Miguel Couto ou no Souza Aguiar. No entanto nada disso foi resolvido
e a fusão continua sendo desculpa para a incompetência dos políticos que
dominam o município e o estado. É certo que os governos federais que se
sucederam de 1975 até agora, pouco ou nada fizeram para mediar a disputa, porém
se tivéssemos por aqui políticos que fossem apenas razoáveis, tudo já estaria
resolvido faz tempo.
A tragicomédia que se vê hoje no
caso dos hospitais do Rio é um exemplo do desprezo com que são tratados os
eleitores, dos que não dependem do governo e são obrigados a gastar fortunas
com particulares para manterem-se sãos, aos que morrem ou ficam com sua saúde
definitivamente comprometida em razão do caos na gestão da Secretaria Municipal
de Saúde. Entre outras coisas, a Prefeitura desde julho não paga aos
fornecedores de refeições para os hospitais e as cirurgias no Hospital Miguel
Couto ficaram dias suspensas por falta de refrigeração, emergências da maioria
dos hospitais fecharam quando havia dinheiro reservado à Saúde sendo aplicado
no mercado de capitais, enquanto gente morria nas filas (aí eu tenho uma
dúvida: será que caberia acusar o governo municipal de ter cometido alguns
homicídios culposos?). Com a intervenção
– uma das raras coisas corretas feitas pelo ministro Humberto Costa – parece
que as coisas melhoraram, pelo menos até agora, ou até que o prefeito acerte
definitivamente alguma medida mais forte que a de demitir 51 funcionários em
cargos de confiança nos hospitais da Lagoa, do Andaraí, de Ipanema e Cardoso
Fontes. Não duvido que Cesar Maia irá continuar tentando tumultuar a
intervenção até que consiga reinstaurar o estado de calamidade anterior criado
por ele. E todo cuidado é pouco, pois apesar de perverso e megalomaníaco, de
burro ele não tem nada.
Como é impossível uma cidade
resistir a tantos desgovernos, o Rio de Janeiro infelizmente não tem mais
jeito, da saúde ao transporte, da educação à segurança ou da habitação ao
saneamento. Maldita seja a sua vocação para vitrine do Brasil; malditas sejam a
simpatia, a alegria, a beleza e a comunicabilidade do seu povo; malditos sejam
seu sol, seu mar, sua natureza tão bela e maldita seja sua história antiga tão
bela e rica, pois tudo isto atrai toda a sorte de aventureiros inescrupulosos
que disputam os holofotes da cidade para serem vistos pelo mundo. Para esses
crápulas não importam os meios utilizados para se fazerem notar pela mídia.
Desde alterar o fim de um horário de verão à revelia do governo federal até
usar vidas humanas para alimentar picuinhas políticas, vale tudo na briga pela
notoriedade. Tantas fizeram que desconstruíram o Rio.”
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