Plutão fica a uma distância máxima do Sol (afélio) de cerca
de 7,2 bilhões de quilômetros, mas mesmo estando agora no periélio, a 4,4
bilhões de quilômetros, as informações que saem da sonda New Horizons, que chegou
lá em julho e levou quase dez anos na viagem, levam 3 horas e 53 minutos para
chegar aqui. Portanto, se algo der errado não há tempo para corrigir, já que a ida
e volta de informações levam quase oito horas.
O que mais me fascina é a precisão com que esses cálculos são
feitos, já que as variáveis espaço e tempo são extremamente complicadoras quando
ambos atingem grandezas cósmicas.
E concordo plenamente com Gullar.
Ferreira Gullar: Vasto mundo
Em meados do ano que acabou, os meios de comunicação divulgaram
a chegada ao planeta Plutão de um foguete espacial da Nasa, que fotografou esse
planeta que, no sistema solar, é o mais distante da Terra.
Para chegar a ele, o foguete viajou nove anos e, chegando
lá, constatou que Plutão era bastante diferente do que supunham os cientistas,
a começar pelo fato de que sua crosta apresenta vastas cadeias de montanhas
formadas por gelo de água, ou seja, semelhante ao gelo que cobre as montanhas
de nosso planeta. Isso significa que existe água em Plutão e, se existe água
ali, não é impossível que exista vida também.
Quase no mesmo dia, outra notícia sobre tema semelhante
chegava até nós: a descoberta de um planeta semelhante a Júpiter, que gira em
torno de uma estrela semelhante ao nosso sol. Haverá vida nesse planeta? Trata-se
de um sistema solar como o nosso, composto de outros planetas, havendo um
talvez com habitantes parecidos conosco?
Bom, afinal de contas tudo é possível, dependendo de nossa
capacidade de imaginar. De qualquer modo, uma coisa é verdade: o ser humano é,
sem dúvida, um bicho extraordinário, tanto por essa necessidade de conhecer
como por sua capacidade de levar à prática essa necessidade.
Pare para pensar: já considerou quanto conhecimento é
necessário para saber como chegar a um planeta como Plutão, a bilhões de
quilômetros de distância? Mas não é apenas a vasta distância que impressiona,
mas, sobretudo, construir uma nave capaz de vencer a força de atração da Terra
e superar as complexas relações de forças cósmicas que terão de ser superadas
para tornar possível a viagem. E sei lá quantos outros problemas estarão
implicados em semelhante proeza, como calcular com precisão o momento em que
esse foguete – a tantos bilhões de quilômetros da Terra- iniciará a manobra
para entrar na órbita de Plutão. Já imaginou quantos problemas estão implicados
em semelhante manobra, operada aqui da Terra, com a ajuda de uns tantos
equipamentos que o homem inventou?
E ao me perguntar isso, não posso ignorar que nós, seres
humanos, habitamos um minúsculo planeta que gira em torno de uma estrela de
quinta grandeza, pertencente a uma galáxia constituída de bilhões de sóis e
constelações, sendo ela, a Via Láctea, uma entre bilhões e bilhões de
constelações. E mais, essas galáxias são quase nada na vastidão do espaço vazio
que constitui o universo. Então, pergunto: o que é o ser humano em meio a essa
talvez infinita vastidão?
Nada? Quase nada? Não obstante, ele é capaz de saber tudo
isso a respeito do universo e ainda criar máquinas que conseguem navegar por
ele e auscultar seus mistérios.
Agora mesmo, um cientista lançou um projeto cujo objetivo é
descobrir se há seres semelhantes a nós no universo. A pergunta que motiva o
projeto é a seguinte: “estamos sós no cosmo?”
Um número considerável de instituições e de cientistas está
disposto a difundir, como for possível, sinais através do espaço cósmico, na
esperança de que alguém que viva em algum planeta, ainda que situado a milhões
ou bilhões de anos-luz de distância, responda a essa patética indagação.
Pensando bem, isso é uma piração. Milhões ou bilhões de anos
para a pergunta chegar a alguém e outros tantos para chegar a nós a resposta.
E em que língua? Como saber se se trata de uma mensagem ou
de meros ruídos cósmicos? Conforme acredito, mesmo que haja outros seres
inteligentes no mundo, dificilmente entenderão nossos sinais e nós os deles. De
qualquer modo, as distâncias são tão fantásticas que jamais seria possível
alguém chegar até nós ou chegarmos nós até alguém de outro sistema solar. É
como se não existissem. Por isso digo que o universo está aí apenas para ser
contemplado e nos maravilhar.
É o que penso, neste começo do ano de 2016, esticado na
poltrona da sala, com a gatinha deitada sobre minhas pernas, no apartamento em
que moro, à r. Duvivier, em Copacabana, Rio de Janeiro, planeta Terra.
"Por isso digo que o universo está aí apenas para ser contemplado e nos maravilhar". É dessa contemplação que nasce o desejo por compreensão e os conhecimentos que temos hoje. Quanto às distâncias cósmicas, elas podem ser menores do que suspeitamos, pelo menos é o que eu sugiro no meu segundo ensaio sobre o enigma quântico, mas que ainda não está completo.
ResponderExcluirAté que me provem o contrário, estou com Gullar, mas também concordo que da contemplação sai o questionamento e dele, as grandes descobertas.
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