quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Entre 1968 e 2016, tudo é igual, só que o bandido virou mocinho e vice-versa

“Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.”

O tempo passa e as coisas continuam as mesmas, só que de cabeça para baixo.

Essa parte de um longo poema do brasileiro Eduardo Alves da Costa, escrito em 1968, tem uma história curiosa: Roberto Freire, na epígrafe de um de seus livros, o atribuiu ao poeta russo Wladimir Maiakovski. O equívoco foi corrigido, mas a falsa autoria pegou. Esses versos foram transformados em pôster pelos líderes estudantis que combateram a ditadura militar, nos anos 70, transformados em inscrição da camiseta amarela da campanha pelas Diretas Já, nos anos 80, transformados em corrente na Internet nos anos 90 e, traduzidos para vários idiomas, ganhou o mundo.

Com a internet, a coisa degringolou. Aí o autor já não era nem Eduardo nem Maiakovski, mas Gabriel García Márquez, Bertolt Brecht, Wilhelm Reich e Leopold Senghor, entre outros.

Curiosidades à parte, os versos são mesmo de Eduardo Alves da Costa - até que apareça mais uma atribuição indevida para encher o saco - e faz parte do seu livro de poemas “No Caminho com Maiakóvski”, daí talvez a confusão.


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