Sexta-feira passada, conversando com um feirante velho
amigo, entre uma cerveja e outra no meu bureau etílico, eu tive uma grata
surpresa. O assunto era política. Eleições, mais precisamente. O Negão mora no
Chapadão, uma das favelas mais brabas do Rio (é assim que eu o chamo - ele me
chama de Branco -, é assim que ele chama as “comunidades” e não me encham o
saco com politicagens corretas!).
Dizia ele que a pressão da milícia e do tráfico - que vivem
aos tiros - no sentido de não se votar em Bolsonaro é uma coisa assustadora por
lá. São ameaças escancaradas aos moradores vindas de ambas as partes. É
qualquer um menos o capitão.
Curioso, perguntei sobre a reação das pessoas e se elas
iriam realmente obedecer as “ordens superiores”. O Negão abaixou a voz e, quase
sussurrando, como se pudesse haver algum dedo-duro por perto, confessou: “Vai
todo mundo de Bolsonaro, mas ninguém diz isso abertamente que ninguém é trouxa.
Não dá mais pra aguentar a pressão por lá. Nossa vida é um inferno! Só o cara
pode dar jeito nessa bandidagem, o resto é um bando de banana podre!”
Aí fiquei matutando sobre o resultado dessa “pesquisa por
amostragem” do Negão - bem mais confiável que os ibopes da vida. Por analogia,
me permiti projetá-la para as trocentas mil outras favelas, não só do Rio, que
vivem situações absolutamente idênticas. Minha conclusão não deixou de ser
animadora, pelo menos no meu ponto de vista.
Além disso, há outro aspecto que diz respeito aos próprios
institutos de pesquisa, desonestos há muito tempo - há quanto não se sabe -,
que foram desmascarados por uma reportagem de pouca repercussão relativa às
pesquisas sobre as eleições de 2010 onde 70% dos municípios escolhidos para as
entrevistas eram governados por prefeitos eleitos pelo PT. Isso é público,
notório e facilmente verificável no site do TSE e foi constatado por mim. O
mais revoltante é que, certamente por causa dessa denúncia jornalística, em
2013 aprovaram uma lei dispensando os institutos de enunciarem previamente os
municípios consultados (lei também acessível no site do TSE). Muito
conveniente. Diga-se de passagem, se alguém se der ao trabalho de consultar o
TSE sobre qualquer pesquisa, vai ver que hoje não há a divulgação prévia nem
posterior dos municípios. Uma esculhambação generalizada.
Visto isto, as perguntas que cabem são: Você já foi
entrevistado por algum instituto de pesquisa? Conhece alguém que já foi? Claro
que a resposta unânime vai ser não, até porque o Ibope, por exemplo, só
entrevista 2.002 pessoas (número cabalístico?) em um universo de 210 milhões
divididas em quase seis mil municípios. A chance de alguém ser entrevistado é
de uma em 105 mil. Ou seja, zero. Pois é. Agora imaginem se algum prostituto,
oops, perdão, instituto de pesquisa iria mandar um que seja dos seus entrevistadores
fazer perguntas aos moradores de qualquer favela. Mesmo se, por algum drama de
consciência dos seus capos, tivessem mandado algum pobre coitado, imaginem (de
novo) se os entrevistados seriam sinceros em suas respostas, submetidos que são
ao patrulhamento dos marginais. Óbvio que não.
Então, por essas e outras, hoje dá para afirmar com alguma
certeza que Bolsonaro despertou a consciência de muita gente que não se
imaginava tê-la, mas tem, sempre teve. Só que faltava confiança, um êmulo. Dá
para afirmar que os institutos de pesquisa mentem. Dá para afirmar que
Bolsonaro com seu discurso rés-do-chão, mas muito objetivo, despertou uma
confiança popular, certamente não tão numerosa, mas comparável à que Lula
conseguiu com suas mentiras - “bolsistas familiares” à parte, claro.
Esse papo me deixou otimista. A galera, enfim, deixou de ser
emprenhada pelos ouvidos pelo lado o que não presta.
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