Não costumo descer do salto nas minhas colunas, mas hoje
peço licença a você para uma mensagem um pouco mais contundente a uma certa
elite saudosa do mais corrupto governo na história do país. A arte sutil de
ligar o “dane-se” fica para outro dia.
Com a definição antecipada do segundo turno (ou alguém ainda
acredita numa reviravolta?), o Brasil será convidado a dois plebiscitos sobre o
lulismo em outubro. A escolha entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad é a final
de um campeonato que já dura pelo menos três anos, quando os brasileiros foram
às ruas, nas maiores manifestações da história, pedir democraticamente o
impeachment de Dilma Rousseff. Vencemos.
O Brasil provou que, apesar de seus enormes problemas, têm
instituições funcionando e, mesmo com todo aparelhamento da máquina estatal,
conseguiu apear a “mãe do PAC” do poder respeitando todos os ritos
constitucionais e ainda dezenas de intervenções no mínimo curiosas do STF ao
longo do processo, como na definição judicial da ordem de votação. No último ato,
a sessão do impeachment foi presidida pelo ministro Ricardo Lewandowski,
presidente da Suprema Corte na época e insuspeito em termos de oposição ao
lulismo.
Depois do impeachment, tivemos uma recuperação econômica
acima da expectativa mais otimista, apenas interrompida pela tentativa de
derrubada do governo engendrada pelos irmãos Batista, parte da imprensa e
Rodrigo Janot, de triste memória. Aos trancos e barrancos, conseguimos vencer
mais esse ataque às instituições e, claro, temos hoje Lula preso. Nunca vou
cansar de repetir: Lula preso. Nem tudo está perdido, mas pode se perder e é
por isso que não podemos nos calar neste momento.
A população brasileira enfrenta problemas sérios demais para
tamanha insensibilidade desta elite hedonista e pervertida que não vê as filas
dos hospitais públicos, as mais de 60 mil mortes por ano, os mais de 12 milhões
de desempregados, a falência da educação, a corrupção desenfreada que apenas
começa a ser combatida pela Lava Jato. Será que de suas luxuosas coberturas, de
suas festas que lembram a parte final de “Um drinque no inferno”, não conseguem
ver o que sucessivos governos socialistas causaram aos mais pobres?
Sei que um governo Jair Bolsonaro pode representar um
constrangimento adicional para a compra e venda de entorpecentes, para o
assédio de crianças, para que a máquina estatal seja usada para dar empréstimos
e vantagens para os amigos do rei, mas é preciso tomar posição contra ou a
favor da população que não tem lobistas em Brasília ou vaga cativa nos
camarotes da Sapucaí. Não há mais pão e circo que resolva.
Este não é um texto a favor de Jair Bolsonaro, mas contra a
possibilidade da volta do PT ao poder, a soltura de Lula, o fim da Lava Jato, o
controle da imprensa e a volta do toma lá dá cá sem limites no Congresso. O
Brasil convalesce como Bolsonaro num leito do hospital Albert Einstein e ou
esta elite acorda ou será acordada da pior maneira possível. Mesmo daqui de Los
Angeles, onde moro há alguns anos, fico sinceramente preocupada com os rumos
que o país pode tomar se o PT for reconduzido ao poder. Depois ninguém pode
dizer que não foi avisado.
Onde estava esta elite quando Celso Daniel foi morto? Quando
a Máfia dos Vampiros desviou dois bilhões do Ministério da Saúde? No escândalo
dos Correios, quando os dólares na cueca foram descobertos, quando a Gamecorp
do filho de Lula recebeu milhões, no caso dos Aloprados, no caso Bancoop, no
escândalo dos cartões corporativos, no caso Erenice Guerra, nos empréstimos do
BNDES para os “campeões nacionais”, na Operação Zelotes e dezenas de outras?
Onde estavam no Mensalão e no Petrolão? Nos bilhões gastos numa Copa do Mundo e
numa Olimpíada que não podíamos ter sediado, enquanto leitos hospitalares se
transformavam em corredores da morte? Defesa da democracia? Ah, façam-me o
favor!
Cansei de tanta hipocrisia e insensibilidade com a
população. Chega. A frouxidão moral e indignação seletiva de alguns artistas e
intelectuais não servem mais de parâmetro para uma sociedade que não acredita
mais na bolha dos ex-guardiões da opinião pública. A classe que pretende falar
em nome dos brasileiros ainda não percebeu que está falando sozinha.
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