domingo, 1 de março de 2015

O dia em que meu Passat virou Porsche na mão de um desembargador

Há poucos dias descrevi aqui uma situação que aconteceu comigo em relação à Petrobras, mostrando que a corrupção na dita cuja vem de longa data e atua em todos os níveis financeiros. Ontem, em um papo com um amigo, em que falávamos sobre o juiz que andou desfilando com o Porsche apreendido de Eike Batista (ainda tinha um Land Rover na garage e um piano na casa do vizinho), lembrei de outro fato passado comigo, mais ou menos na mesma época do meu “caso Petrobras”.

Eu morava em um apartamento alugado e, com o fim do contrato, decidi não renovar, entregando o apartamento após uns quatro ou cinco anos morando lá. Deixei o imóvel - enorme, por sinal - um brinco, tendo inclusive terminado pequenas obras inacabadas quando me mudei para lá. Entreguei as chaves e fui.

Dias depois, recebi um comunicado do proprietário avisando que não aceitaria a entrega do imóvel porque - pasmem - eu havia forrado as prateleiras dos armários embutidos e trocado o aquecedor a gás (velho e caindo aos pedaços) por um novinho em folha, e ele queria o velho de volta.

E um detalhe: durante todo esse tempo que morei lá, não atrasei em um dia sequer o pagamento do aluguel.

Achei aquilo um desaforo sem tamanho, pois eu estava entregando o apartamento em condições muito melhores que o encontrei quando me mudei para lá, e resolvi peitar, mandando o proprietário ir “cobrar na polícia” em um telefonema bem desaforado que dei para ele. Foi meu erro. Eu tinha esquecido completamente que o cara era desembargador. Aposentado, mas desembargador. Apesar disso, não me preocupei e deixei a coisa rolar.

Passados mais alguns dias, um mês, talvez, eis que me bate à porta da nova casa um oficial de justiça com uma ordem para apreensão de bens por causa da minha irresponsabilidade e teimosia em querer ser mais real que o rei, achando que a justiça no Brasil beneficiava os justos. E lá se foi meu Passat novinho.

Visto isso, não me restou outra coisa a fazer do que pagar um advogado para pagar de uma vez o que o juiz havia arbitrado pela retirada de uma forração de prateleiras e pela reposição de um aquecedor novo por um velho - se é que isso faz algum sentido - para que eu pudesse reaver meu carro.

Pois bem, dois dias depois, meu advogado me liga dizendo que eu poderia ir buscar o carro em um endereço no Leblon, munido de identidade apenas. Indaguei se não haveria necessidade de algum alvará e a resposta foi negativa - o alvará estava com o advogado mas não seria necessária a sua apresentação. Perguntei ainda se o endereço fornecido seria algum depósito judicial, já que eu desconhecia haver algum por lá. Não, não era.

Quando cheguei no tal endereço, dei de cara com um prédio luxuoso no Leblon, identifiquei-me ao porteiro e o próprio me entregou as chaves e os documentos do Passat: meu carro estava simplesmente na garage da residência do ex-desembargador Epaminondas Pontes, meu ex-senhorio, e que havia me processado!

Agora vejam se tem cabimento: a justiça tirou meu carro e o entregou na mão de quem me processava, sem que todas as instâncias fossem obedecidas, sem a menor formalidade, sem o menor pudor, sem a menor ética jurídica.

E é assim que a banda toca na nossa justiça fedida.

10 comentários:

  1. Jeito complicado de fazer um test-drive.

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  2. (argento) ... he he he, lição a ser aprendida e apreendida: estamos um degrau acima dos miseráveis, um(s) degrau(s) acima estão os que Mandam - só não pode entrar em "deprê", revoltar ou desenvolver "complexo de vira latas" ...

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    1. (argento) ... e, "... nada se cria, tudo se copia", sempre há um precedente ... será que tudo começou com PC Farias? ou já havia precedentes?

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    2. Argento: O Froes sempre me escolhe para ser o "saco de pancadas dele", porém, apesar disso continuo ético e racional e não faço isso para contrariar a opinião dele, que sempre respeito, quando ele não ultrapassa os limites do bom senso. Até admiro a posição de "paladino da justiça" que ele adota... quando seus posicionamentos não estão eivados de ideologia direitosa. No caso em tela, embora eu já tenha acusado o Froes de "morar em alguns dos metros quadrados mais caros do Brasil" e indicar isso como uma evidência de que ele pertence ao rol das elites desta nação... estou torcendo para que o apartamento em que ele reside atualmente (já foi e talvez esteja sendo síndico do prédio) seja de sua propriedade. Melhor ainda se for propriedade VERDADEIRA conseguida com recursos lícitos (que neste caso querem enfatizar a honestidade com a qual os recursos foram conseguidos).
      É sério! É meu desejo que o Froes tenha deixado de ser inquilino de algum especulador desta nação....

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    3. Como é que alguém pode se autointitular “ético e racional” escrevendo um comentário absurdo desses? Só na cabeça de um demente como você, Zé. Senão veja só:

      Você me “acusa” de morar em alguns dos metros quadrados mais caros do Brasil. Acusa? Isso é crime desde quando, se passei os 63 anos da minha vida morando em Ipanema, de Getúlio a Dilma, e você foi a única pessoa a
      durante toda essa vida que considerou que eu devo explicações pelo fato?

      Você diz que eu sou “elite”, e eu agradeceria seu reconhecimento por me considerar “o que há de mais valorizado e de melhor qualidade em um grupo social”, como diz o Houaiss, mas, como sei que esse seu “elogio” tem o sentido pejorativo usado pelos seus recalcados e invejosos “cumpanhêros” de ignorância, que deturpam e assassinam até a hermenêutica, a escória, tão bem representada por você, vai ficar sem um “obrigado”.

      Mas o pior de tudo é a observação estapafúrdia, sem sentido e profundamente deselegante lançando dúvidas sobre a minha honestidade ao dizer que espera que meu apartamento tenha sido comprado com “recursos lícitos”.

      Aí eu vou no popular: a troco de que esse comentário, seu babaca? Com tanta ilicitude cometida pela quadrilha de calhordas a qual você defende, adora e talvez até pertença, vai escolher logo a mim para destilar seus recalques e invejas? Vai arranjar uma trouxa de roupa para lavar no tanque e deixar de pensar besteira, de ser inconveniente e sem educação!

      Realmente você se superou, Zé. Mostrou que é bem mais idiota e sem noção do que eu imaginava. Você confirmou com louvor que é gentinha da pior qualidade, gentinha que é co(ir)responsável pelo governo que aí está e que bem o merece. Só um desqualificado moral como você teria a petulância de entrar no meu blog e dizer o que disse.

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  3. Caro Ricardo, aquilo que eu tenho para apresentar sobre "juízes" é mais cabeludo do que você imagina, mas no momento eu tenho que aguardar a atuação da Corregedoria, pois existe um tal de "sigilo de justiça" envolvido na situação.

    Mas espero que dentro de uns trinta dias eu poderei publicar a documentação. Pretendo enviar para a imprensa o TMU será o primeiro a receber.

    Mas mudando de saco para mala, quero lhe parabenizar por ter um admirador de sua postura de paladino da justiça. Aliás, desde quando você exerce essa atividade que eu desconhecia?

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    1. Falando em "sigilo", o Reaçonaria censurou um comentário meu. Na postagem
      http://reaconaria.org/blog/reacablog/fhc-calado-e-um-poeta/, eu comentei o seguinte (mais ou menos):

      "Existe na internet uma gozação da qual o próprio FHC participa, o autor da postagem também participa como objeto da gozação".

      A postagem é assinada pelo EDITOR do Reaçonaria e a gozação a que me refiro é aquela onde tudo é culpa do FHC, obviamente.

      Talvez o "editor" tenha considerado meu comentário ofensivo, mas se meu comentário foi ofensivo, o que dizer da própria postagem?

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    2. Vindo de um "paladino da imoralidade", sei lá o que ele quis dizer com isso...

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    3. Ué... Eu li um comentário seu lá, Milton.

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  4. Sim, o comentário que eu fiz parabenizando o Reaçonaria pela censura.

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