Alexandre Borges: Sobre o vídeo “óóun que fofo” da semana
Se você não estava em Marte já viu o vídeo “óóun que fofo”
da semana, promovido pelo Ad Council, uma associação de publicitários criada em
1941 para a criação e divulgação de campanhas “sociais”.
O vídeo mostra a campanha “Love Has No Labels” (o amor não
tem rótulos), criada por dois publicitários da agência R/GA de Nova York e
patrocinada pela Coca-Cola, P&G, Allstate, StateFarm, Pepsico e Unilever.
Nele, o público vê esqueletos se beijando e depois descobre que são, na visão
dos criadores da campanha, vítimas de preconceito por cor, origem, religião ou
orientação sexual. OK, pode falar “óóun que fofo” se quiser, todo mundo é a
favor do amor, mas pense um pouco mais sobre esse vídeo.
Imagine Adolf Hitler e Heinrich Himmler batendo um papo
animado sobre os resultados da “solução final” em 1943. Como seus esqueletos
apareceriam na mesma situação? Mãos nos ombros e sorrisos largos, certo? Uma
prova de amizade acima dos “rótulos”. E como ficariam os esqueletos dos
psicopatas do ISIS enquanto planejam o próximo corte de cabeças? Os esqueletos deles
são diferentes dos de vocês? Não, queridos, não estou comparando beijos com
nazismo, o assunto é outro.
Como estariam os esqueletos de Josef Stálin e Lavrentiy
Beria combinando o próximo extermínio de ucranianos? Ou de um chefe do tráfico
num morro qualquer rindo do relato da última vítima mandada para ser queimada
em pneus? Ou de Renato Duque e Paulo Roberto Costa combinando o percentual do
próximo esquema de bilhões do Petrolão? Como seria a imagem dos esqueletos de
Champinha e Pernambuco conversando sobre a tortura, estupro e morte de Liana
Friedenbach?
Esqueletos são iguais, mas somos mais que esqueletos. Somos
mais que nossa fisiologia, nossos instintos, mais que carne e osso. Somos o que
pensamos, acreditamos, tememos, defendemos, atacamos, somos o que sabemos ou
queremos saber, o que falamos e o que ouvimos, somos mais que corpo, somos
também “espírito”, “alma” ou a nossa consciência, razão, intuição, emoções e
escolhas, memórias, experiências, crenças e idéias.
Você verá que muito do discurso ideológico do mundo de hoje
namora com a idéia da negação do pensamento, da civilização, do progresso e da
razão, com uma volta romântica ao paleolítico e à nossa “natureza animal”.
Desde o “bom selvagem” de Rousseau até os movimentos nudistas, passando pela
arte que usa dejetos humanos nas pinturas ou músicos que dão shows emitindo
grunhidos, da feminazis que usam roupas com a menstruação aparente ou atores
que fazem surubas como se fossem performances, a valorização da fisiologia como
definidora da existência e a negação do pensamento, do que distingue o homem
dos outros animais, dá o tom.
Desde Marx, a idéia de que você é nada mais que um conjunto
de preconceitos e representa apenas “interesses de classe” ganhou força e até
hoje influencia o debate direta ou indiretamente. Como você seria incapaz de um
“pensamento livre”, é preciso se despir do que te prende à sua classe e se
entregar ao paraíso na Terra imaginado pelo marxismo, uma sociedade sem classes
e sem preconceitos, “de cada qual, segundo sua capacidade e a cada qual,
segundo suas necessidades”. A sociedade passaria a ser fisiológica, de corpos
(esqueletos) que comem, transam e dormem, livres da responsabilidade de pensar,
fazer escolhas, tomar decisões e separar “o joio do trigo”, o bem do mal, o
certo do errado, o justo do injusto.
Para quem pensa assim, Shakespeare não é o maior dramaturgo
de todos os tempos, é apenas “um homem branco representante das elites”. Ele,
assim todos nós, seria incapaz de pensar livremente, ele apenas coloca em palavras
o que sua classe e sua raça querem que ele coloque para explorar e oprimir.
Nesse caso, a parte mais “valiosa” de Shakespeare é seu esqueleto, desprovido
de idéias próprias, e a única que deveria ser valorizada.
Este vídeo, que tem por exemplo homossexuais se beijando em
público, seria impossível em diversas partes do mundo em que pessoas com o
mesmo esqueleto que os dos ocidentais considerariam o ato uma ofensa passível
de chibatadas e morte. O que nos diferencia deles não é o esqueleto, o que
permite que sejamos tolerantes é o nosso cérebro e não a tíbia ou a omoplata.
A construção de uma sociedade tolerante e livre, uma obra
que levou séculos e que permite que existam Coca-Cola, P&G, Allstate,
StateFarm, Pepsico e Unilever para patrocinar esse vídeo, é da lavra de pessoas
com esqueletos iguais aos de Hitler, Marx, Stálin, Mao, Pol Pot ou Champinha,
mas com idéias totalmente diferentes, e são essas idéias que precisam, mais do
que nunca, ser defendidas.
Não lute apenas por seu esqueleto, lute pelas idéias que
fizeram da sociedade ocidental o grande experimento da história da humanidade.
São essas idéias que protegem você de virar apenas um esqueleto mais cedo do
que gostaria.
Mais do que certo; belo texto.
ResponderExcluirNão bastasse esses pretensos vanguardistas, a nossa TV aberta despeja também diariamente todo tipo de merda, como: BBB, Ratinho, Valdomiro, R Soares, fala que eu te escuto, novelas,Faustão, mesas redondas de futebol, Silvio Santos, etc., idiotizando ainda mais o povo brasileiro. Raros são os programas que tratam do futuro da nação, como a "RPT" TV Portuguesa que tem: Prós x Contras, Estado de Nação e outros de grande audiência.
ResponderExcluirNunca estive em Marte. Sempre na terra, literalmente. Voar ou usar os aeroportos como se usavam as rodoviárias é fato recente na nação de onde eu nunca saí. Mas esse novo costume tem provocado ódios.
ResponderExcluirEsqueletos são iguais sim, principalmente na aparência. Alguns mais fortes e resistentes que outros, função direta do tipo de ração alimentar consumida principalmente na infância e durante a fase de crescimento.
O discurso ideológico do mundo de hoje namora com a idéia da negação do pensamento? E será que neste texto que acabei de ler inexiste ideologia?
De cada qual, segundo sua capacidade e a cada qual, segundo suas necessidades é uma forma de explicitar o erro do mundo ocidental, oriental, do norte, do sul ou qualquer outro que venha a ser inventado, que os "sistemas" embora inventados por seres humanos está excluindo milhares destes, e super valorizando as corporações, as marcas, as patentes. É apenas um aviso de que a raça humana será, no futuro, apenas mão de obra e massa de manobra das grandes corporações após a extinção das médias e pequenas. A mesma mídia que noticia o vídeo dos esqueletos, mostra diariamente as fusões e incorporações que estão construindo os grandes conglomerados corporativos do futuro.
É evidente que o ser que refuta a Filosofia e ao mesmo tempo convida para defender as ideias em que acredita, deve desconhecer que toda a ciência aplicada pelas corporações que cita, nasceu de uma única ciência na antiguidade e, do mundo Grego da época se espalhou por todo o planeta. Criou inclusive o ocidente onde o autor do texto deve ter nascido, caso ele não seja um marciano infiltrado.
(argento) ... para situar os textos (postagem do Blog e comentários), convém rever o filme original de 1987, ROBOCOP. o LINK da Wikipédia complementa ...
ResponderExcluirhttp://pt.wikipedia.org/wiki/RoboCop
(argento) ... "O ideal socialista é a falta de cérebro " ... sei não, prefiro este: "o Ideal (a ser Implantado, num futuro) é a Massificação do Pensamento"
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