quarta-feira, 4 de março de 2015

Não demora e Zé Desceu volta pro xilindró

Valor
O presidente da Camargo Corrêa, Dalton dos Santos Avancini, disse a investigadores da Operação Lava-Jato que os serviços de consultoria prestados por empresa do ex-ministro José Dirceu à empreiteira não existiram de fato. Segundo Avancini, que fechou acordo de colaboração premiada, os pagamentos feitos à empresa JD Assessoria e Consultoria tiveram origem em recursos desviados da Petrobras. Avancini assinou contratos de prestação de serviços da Camargo Corrêa com a empresa do ex- chefe da Casa Civil no governo Luiz Inácio Lula da Silva.

Réu por crimes de corrupção, formação de organização criminosa e lavagem de dinheiro, o presidente da Camargo Corrêa deverá formalizar termo de declarações específico sobre os pagamentos recebidos por José Dirceu por meio de suas empresas. Os depoimentos de Avancini no âmbito de sua delação premiada terão início entre o final desta semana e o início da próxima, apurou o Valor PRO, serviço em tempo real do Valor.

Dirceu recebeu R$ 886 mil da Camargo Corrêa entre 2010 e 2011. A Polícia Federal apreendeu na sede da empreiteira em novembro de 2014 contrato de prestação de serviços datado de 22 de abril de 2010, firmado pela construtora com a JD Assessoria e Consultoria. Os investigadores constataram que na mesma época em que Dirceu foi contratado pela Camargo Corrêa, a Petrobras fechou dois contratos com a empreiteira no valor de R$ 4,5 bilhões.

Em decisão de 8 de janeiro em que determinou a quebra do sigilo bancário da empresa de Dirceu, a juíza federal de Curitiba Gabriela Hardt ressaltou que a JD Assessoria recebeu R$ 3,7 milhões “a título de consultoria” da OAS, UTC Engenharia e Galvão Engenharia, “as quais estão sendo investigadas justamente pelo pagamento de serviços de consultoria fictícios a empresas diversas para viabilizar distribuição de recursos espoliados do Poder Público”. Além de Avancini, também fechou acordo de delação premiada o vice-presidente comercial da empreiteira, Eduardo Leite.

De acordo com os advogados dos executivos, a colaboração se restringirá a fatos ocorridos dentro da construtora, e não do grupo todo. É improvável que acionistas da Camargo Corrêa sejam comprometidos pelos depoimentos, segundo Marlus Arns de Oliveira, defensor de Eduardo Leite. No sábado, a Camargo Corrêa informou que não participou dos acordos de delação de seus executivos, mas disse que “permanecerá à disposição das autoridades”.

Em nota, a assessoria de Dirceu disse que o contrato com a Camargo Corrêa, assinado em 22 de abril de 2010, teve como objetivo a “prestação de serviços no exterior, com foco em Portugal”. A assessoria afirmou que já foi informado à Justiça do Paraná que Dirceu viajou cinco vezes a trabalho a Portugal, entre 2010 e início de 2011 e que na Camargo Corrêa “o ex-ministro se reportava ao presidente do Conselho, Vitor Hallack, com quem se reuniu algumas vezes durante a vigência do contrato”.

O vice-presidente da Engevix Engenharia, Gerson de Mello Almada, acenou com a possibilidade de fazer delação premiada ou, ao menos, contribuir com a Justiça buscando diminuir sua eventual pena. Também preso por corrupção ativa, Almada disse ter “contribuição relevante” a fazer e pediu para ser interrogado pelo juiz Sergio Moro.

Em janeiro a defesa de Almada afirmou à Justiça que a Petrobras foi usada para financiar o “custo elevado das campanhas eleitorais”. Os advogados alegam que a estatal “foi escolhida para a geração desses montantes necessários à compra da base aliada do governo e aos cofres das agremiações partidárias”.

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