Documento apócrifo obtido pelo Estadão
Onde estamos
A comunicação é o mordomo das crises. Em qualquer caos
político, há sempre um que aponte “a culpa é da comunicação”. Desta vez, não há
dúvidas de que a comunicação foi errada e errática. Mas a crise é maior do que
isso.
As forças políticas que elegeram Lula e Dilma são
minoritárias nas redes socais desde os movimentos de 2013. Isso por uma
singularidade clara do mundo digital: o Facebook, o twitter, o G+, etc., são
espaços privilegiados para o ataque, a zombaria e a propagação de palavras de
ordem. É um espaço onde o convencimento, o diálogo, a troca de ideias até
existe, mas é lenta e geralmente se prega para convertidos.
Parece contraditório, mas o panelaço do dia 8 e as marchas
deste dia 15 mostram que as redes sociais não estão perdidas para Dilma e Lula.
No dia 8, até uma hora depois do pronunciamento, houve mais tuítes a favor a
Presidenta do que contra. No domingo, houve uma disputa equilibrada até a PM
falar em um milhão na Paulista, desmobilizando todo o regimento pró-governo.
Óbvio que esse movimento virtual não altera as derrotas políticas do panelaço e
das pessoas nas ruas, mas mostram que nem tudo está perdido.
Ironicamente, hoje são os eleitores de Dilma e Lula que
estão acomodados brigando com o celular na mão, enquanto a oposição bate panela,
distribui mensagens pelo Whatsapp e veste camisa verde-amarela. Dá para
recuperar as redes, mas é preciso, antes, recuperar as ruas.
Como chegamos até aqui
A campanha presidencial de 2010 foi a primeira na qual a
comunicação digital teve um papel relevante no resultado das urnas. O uso de
vídeos montados sobre aborto e fechamento de igrejas evangélicas marcou um novo
patamar da baixaria na disputa política brasileira. A campanha digital
Dilma/2010 foi mais de resistência e de combate a boatos do que de
convencimento. Os blogues não geraram conteúdo, mas foram fundamentais na
propagação de reportagens da grande imprensa como caso Paulo Preto e da bolinha
de papel.
O início do primeiro governo Dilma, no entanto, foi de
rompimento com a militância digital. A defesa ferrenha dos direitos autorais
pelo Ministério da Cultura e o fim do diálogo com os blogues pela Secom geraram
um isolamento do governo federal com as redes que só foi plenamente
reestabelecido durante a campanha eleitoral de 2014.
Em 2015, o erro de 2011 foi repetido.
Pesquisa feita pela FGV no dia do segundo turno de 2014, com
base em amostra de mais de 600 mil tuítes, mostrava as redes sociais
brasileiras divididas, com leve vantagem para o campo pró-Dilma.
A partir de novembro, as redes sociais pró-Dilma foram
murchando até serem quase extintas. Principal vetor de propagação do projeto
dilmista nas redes, o site Muda Mais acabou. Os robôs que atuaram na campanha
foram desligados e a movimentação dos candidatos do PT foi encerrada.
Mas o movimento mais impressionante ocorreu entre os
militantes, os apoiadores da candidatura de Dilma. Pesquisa da FGV mostrou que,
a partir do final de novembro - com o anúncio de Joaquim Levy para o Ministério
da Fazenda e as primeiras medidas do ajuste - a militância orgânica dilmista
começou a parar de defender o governo. Houve um soluço pró-Dilma nas redes no
dia da posse, mas a pesquisa da FGV é afirmativa: houve um descolamento entre o
governo e a sua militância.
A ausência de agendas públicas da presidenta da eleição ao
carnaval, a mudança nas regras do seguro desemprego e pensão por morte, o
desastrado anúncio de cortes do FIES, o aumento nos preços da gasolina e
energia elétrica e o massacre nas TVs com as denúncias de corrupção na
Petrobras geraram entre os dilmistas um sentimento de “abandono” e “traição”.
Constata-se hoje nas redes uma mágoa dos eleitores de Dilma, registradas em
frases como “votamos nela e a política econômica é do Aécio”, “não tinha como
ela não saber dessa corrupção toda na Petrobras”, “ela disse que a vaca não ia
tossir, mas tossiu”, “ela mexeu nos direitos dos trabalhadores”, “na hora de
pedir voto ela aparecia e agora sumiu”, “ela disse que ia segurar a conta de
luz e soltou” etc...
As páginas dos deputados e senadores do PT pararam de
defender o governo. Hoje, por exemplo, a página do deputado Jean Wyllys, do
PSol, tem um peso na defesa do governo maior que quase toda a bancada federal.
É sintomático que a principal página do Facebook pró-Dilma não oficial, a Dilma
Bolada, começou a perder fãs em fevereiro, o que pode significar uma situação
de quebra de imagem.
Apenas as páginas oficiais Portal Brasil/Blog do Planalto/
Facebook da Dilma e o site do PT seguem defendendo o governo, mas suas mensagens não conseguem ser
reverberadas fora da sua corrente de seguidores. Ou seja, o governo e o PT
passaram a só falar para si mesmo.
A tática do PSDB foi exatamente a oposta. Cerca de 50 robôs
usados na campanha de Aécio continuaram a operar mesmo depois da derrota de
outubro. Isso significou um fluxo contínuo de material anti-Dilma, alimentando
os aecistas e insistindo na tese do maior escândalo de corrupção da história,
do envolvimento pessoal de Dilma e Lula com a corrupção na Petrobras e na tese
do estelionato eleitoral. Tudo com suporte avassalador da mídia
tradicional.
Simultaneamente, a partir do final de janeiro, as páginas
mais radicais contra o governo passaram a trabalhar com invejável
profissionalismo, com uso de robôs e redes de Whatsapp.
Desde janeiro, a página no Facebook do grupo Revoltados
Online teve o engajamento de 16 milhões de pessoas nos últimos três meses. O
Vem Pra Rua chegou a 4 milhões. Para comparar: no mesmo período as páginas do
Facebook Dilma Rousseff e PT foram compartilhadas por 3 milhões de pessoas.
Em estimativas iniciais, a manutenção dos robôs do PSDB, a
geração de conteúdo nos sites pró-impeachment e o pagamento pelo envio de
Whatsapp significaram um gasto de quase R$ 10 milhões entre novembro e março.
Deu resultado. Em fevereiro as mensagens/textos/vídeos
oposicionistas conseguiram a capacidade de atingir 80 milhões de brasileiros.
As páginas do Planalto mais as do PT, 22 milhões. Ou seja, se fosse uma partida
de futebol estamos entrando em campo perdendo de 8 a 2.
De um lado, Dilma e Lula são acusados pela corrupção na
Petrobras e por todos os males que afetam o País. Do outro, a militância se
sente acuada pelas acusações e desmotivada por não compreender o ajuste na
economia.
Não é uma goleada. É uma derrota por WO.
Como virar o jogo?
Não será fácil virar o jogo. Pesquisa telefônica SECOM/
Ibope mostra que 32% dos entrevistados mudaram de opinião sobre o governo
negativamente nos últimos seis meses. Esse movimento é mais perceptível entre
os moradores do interior (35%), pessoas com renda familiar entre 2 a 5 SM (36%)
e que avaliam o governo como regular (37%). As principais razões para essa
mudança são: os escândalos de corrupção (31%), aumento da inflação (28%) e o
fato de o governo “não cumprir o que promete” (16%).
As responsabilidades da comunicação oficial do governo
federal e as do PT/Instituto Lula/bancada/blogueiros são distintas. As ações
das páginas do governo e das forças políticas que apoiam Dilma precisam ser
muito melhor coordenadas e com missões claras. É natural que o governo (este ou
qualquer outro) tenha uma comunicação mais conservadora, centrada na divulgação
de conteúdos e dados oficiais. A guerrilha política precisa ter munição vinda
de dentro do governo, mas ser disparada por soldados fora dele.
Essa coordenação por si só não vai mudar o humor do eleitor
dilmista. Mas como mostraram as ações conjuntas no dia 8 e no dia 15 são um
início.
O pronunciamento de 8 de março foi extremamente criticado
por ser longo e sem substância. As principais críticas ao pronunciamento foram:
“fala muito e não diz nada”, “discurso longo e sem propósito”, “não transmite
confiança nem entusiasmo”, “não assume responsabilidade por nada". O
pedido de paciência foi o que mais irritou aqueles que um dia já apoiaram Dilma
nas redes. Houve um grande número de posts com a mensagem 'já perdi a
paciência!'. A fala dos ministros Rossetto e Cardozo no domingo à noite foram
recebidas com panelaço antes que eles falassem a primeira sílaba.
Isso não significa que o público não aguarde respostas
curtas e objetivas para perguntas de três grandes temas: corrupção na
Petrobras, inflação/crise econômica; e o “estelionato eleitoral”. São perguntas
como: “a gasolina subiu porque Dilma, Lula e o PT roubaram na Petrobras?”
“Dilma falou uma coisa na campanha e está fazendo outra?”; “a vaca tossiu, ela
está mexendo nos direitos dos trabalhadores?”, “ela mentiu ao dizer que o Aécio
é que ia aumentar a gasolina e a luz?”, “por que ela sempre culpa a crise
internacional e não assume que errou?”, “por que ela deixou a inflação
explodir?”, “o que ela está fazendo para acabar com a corrupção na Petrobras?”,
“a campanha dela recebeu dinheiro do esquema lava jato?”, “como ela pode falar
em Pátria Educadora e cortar o FIES?”, etc... Sem responder claramente a essas
perguntas não há como a militância se sentir respeitada de novo e, de novo,
defender o governo. É preciso aceitar a mágoa desses eleitores,
reconquista-los.
Óbvio que essa reconquista não é apenas um trabalho de
comunicação. Não adianta falar que a inflação está sob controle quando o
eleitor vê o preço da gasolina subir 20% de novembro para cá ou a sua conta de
luz saltar em 33%. O dado oficial IPCA conta menos do que ele sente no bolso.
Assim, como um senador tucano na lista da Lava
Jato não altera o fato de que o grosso do escândalo ocorreu na gestão do
PT.
A entrevista presidencial desde dia 16 foi um excelente
início. Ao falar com firmeza sobre o seu compromisso com a democracia, explicar
de forma fácil a necessidade do ajuste fiscal e assumir falhas como a da
condução do Fies, a Presidente deu um rumo novo na comunicação do governo. Não
pode parar.
É preciso que a PR fale mais, explique, se exponha mais,
seja nos quebra-queixos pós-evento, seja respondendo ouvintes da Voz do Brasil
(20 milhões de ouvintes), seja com a mídia tradicional (TV aberta, de
preferência), seja com a volta das entrevistas por Facebook. Não importa
quantos panelaços eles façam.
É preciso consolidar o núcleo de comunicação estatal,
juntando numa mesma coordenação a Voz do Brasil, as páginas de sites, twitter e
Facebook de todos os ministérios, o Facebook da Dilma e a Agência Brasil.
A publicidade oficial em 2015 deve ser focada em São Paulo,
reforçando as parcerias com a Prefeitura. Não há como recuperar a imagem do
governo Dilma em São Paulo sem ajudar a levantar a popularidade do Haddad. Há
uma relação direta entre um e outro.
Dizem que passado o terremoto de Lisboa, o rei Dom José
perguntou ao marquês de Alorna o que podia ser feito. Ele respondeu: “Sepultar
os mortos, cuidar dos vivos e fechar os portos”.
Sepultar os mortos significa que não adianta ficar
reclamando e discutindo como teria sido se o terremoto não tivesse ocorrido.
Cuidar dos vivos, é que depois de enterrar o passado, temos que cuidar do que
sobrou, dar foco ao presente. Fechar os
portos, evitar o pânico entre os nossos, impedir o salve-se quem puder, a fuga
em massa. Significa que não podemos deixar que ocorra um novo tremor enquanto
estamos cuidando dos vivos e salvando o que restou.
(argento) ... pergunta boba: " a SECOM é um orgão de Estado ou de partido?
ResponderExcluirBoba, não, Argento, boa! Eles acham que é a mesma coisa.
ExcluirA SECOM é um órgão do Estado, mas o Estado foi transformado em órgão de um partido, que por sua vez é um órgão do Lula.
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