Da Veja
Do dia 16 de novembro de 2013 até 4 novembro de 2014, o
ex-ministro José Dirceu cumpriu 11 meses e 20 dias de prisão por ter
arquitetado o esquema do mensalão. Passou seis meses trancafiado no Complexo
Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal, e posteriormente foi transferido
para uma unidade que abriga detentos em regime semiaberto. Nesse período,
conseguiu um emprego para organizar a biblioteca do escritório do advogado e
amigo José Gerardo Grossi, com salário de 2.100 reais mensais. Voltava para o Centro
de Progressão Penitenciária do DF para dormir. Em 142 dias, amealhou cerca de
10.000 reais pelo serviço. Mas, segundo a Receita Federal, um montante
exponencialmente maior passou pelas suas contas bancárias enquanto esteve na
cadeia. Investigado por novas suspeitas de corrupção e lavagem de dinheiro,
José Dirceu recebeu pagamentos como “consultor” de novembro de 2013 a novembro
de 2014: faturou pelo menos 1,2 milhão de reais. O site de VEJA confirmou que a
gigante farmacêutica EMS e a construtora Consilux pagaram 700.000 reais e
500.000 reais, respectivamente, ao petista.
Dirceu começou a ser investigado na Operação Lava Jato
porque a Polícia Federal e o Ministério Público Federal constataram que ele
faturou pelo menos 8 milhões de reais de grandes empreiteiras do clube do
bilhão, o cartel que fraudava contratos da Petrobras e pagava propina a
políticos e partidos. A polícia investiga se os pagamentos eram propina ou
recompensas pela influência do petista no governo Lula e Dilma Rousseff. A
análise da movimentação financeira de Dirceu mostrou que ele recebia pagamentos
não só das construtoras ligadas ao esquema de corrupção mas de diversas outras
empresas com negócios regulados pelo governo federal. No total, a JD Assessoria
e Consultoria faturou 29,2 milhões de 2006 a 2013 de cinquenta empresas.
Condenado a 7 anos e 11 meses de prisão por corrupção ativa
no mensalão, Dirceu cumpre pena em regime domiciliar. Além da reclusão, a
Justiça determinou que ele devolvesse 920.700 reais aos cofres públicos como multa.
Mas, apesar de continuar recebendo dinheiro atrás das grades, ele não precisou
colocar a mão no bolso: uma “vaquinha” feita por quase 4.000 simpatizantes do
mensaleiro arrecadou mais de 970.000 reais.
Venezuela - Sócio-fundador da Consilux, Aldo Vendramin
afirmou a VEJA que manteve os pagamentos enquanto o ex-ministro estava preso
porque o contrato previa o desembolso de 90.000 reais mensais de dezembro de
2011 a junho de 2014. Segundo ele, Dirceu foi contratado para “resolver
problemas” na Venezuela, onde o empresário alega que a empresa sofreu com
atrasos de pagamentos depois de estrear no mercado de habitações populares do
ditador Hugo Chávez, em 2006. Mas jamais deixou de ser bem remunerado.
O controlador da Consilux afirmou que Dirceu obteve sucesso
em 2012. De acordo com Vendramin, ele destravou os pagamentos do governo
venezuelano. A atuação do ex-homem forte do governo Lula também garantiu a
assinatura de mais dois aditivos, de 80 milhões de dólares e 120 milhões de
dólares, o que elevou o faturamento da empresa com o governo do país vizinho
para um total de 416 milhões de dólares.
“Sou muito grato ao que Dirceu fez pela Consilux na
Venezuela. A partir de 2012, não havia muito o que fazer por nós. Ele já tinha
prestado os serviços. Mas continuamos pagando porque tinha contrato vigente.
Nem poderia ser diferente”, afirmou Vendramin em entrevista ao site de VEJA.
Ele admitiu, no entanto, que não tem documentos do governo
venezuelano, e-mails ou mensagens que comprovem alguma atuação de Dirceu.
Afirmou que se informava sobre a evolução dos trabalhos em conversas por
telefone com o ex-ministro. Jamais foram para a Venezuela juntos.
Vendramin disse que Dirceu fazia contatos com Hugo Chávez,
morto em 2013, mas que também foi recebido pelos ex-ministros Ricardo Molina,
Julio Montes e Diosdado Cabello. O empresário diz ter notas fiscais e um
contrato como provas de que Dirceu prestou serviços na Venezuela. Ele negou ter
sido beneficiado pela influência de Dirceu em território brasileiro.
“Ele realmente defendeu interesses de uma empresa
brasileira. Não temos obras com a Petrobras ou nenhuma estatal. Só trabalhamos
com as prefeituras de Curitiba e São Paulo”, afirmou.
EMS - Maior farmacêutica nacional e líder em genéricos, a
EMS foi a empresa que mais bem remunerou Dirceu. De 2006 a 2014 foram 8,5
milhões de reais para a consultoria do ex-ministro. A empresa cita notas
fiscais e contratos como prova de que o ex-ministro efetivamente prestou algum
serviço, mas não esclarece por que manteve pagamentos quando Dirceu estava
preso.
“Sobre a contratação da empresa JD Assessoria, a EMS informa
que a prestação de serviços, que durou cerca de cinco anos, teve a finalidade
de internacionalização da empresa e a prospecção, expansão e diversificação dos
negócios do Grupo, exclusivamente em outros países. A EMS possui todos os
documentos dos serviços prestados”, informou em comunicado.
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