terça-feira, 8 de agosto de 2017

O inofensivo Bolsonaro

Carlos Andreazza

Houvesse uma direita no Brasil, e ele seria nota de rodapé exótica na história. É produto da doença política brasileira

Jair Bolsonaro é candidato a presidente, tem cerca de 15% nas pesquisas e vem de alugar um partido para concorrer. Nunca, porém, geriu algo que não a vida dos filhos. Precisa, pois, ser tratado seriamente. Cabe ao jornalismo tirá-lo da bolha tuiteira em que alguém como ele pode ser considerado solução para o Brasil e lhe franquear microfones para que fale o que pensa sobre o país.

Urge ouvi-lo sobre o tamanho do Estado, sobre reformas, sobre economia em geral — suas opiniões conhecidas a respeito precisam de decodificação antes de poderem ser tidas por alarmantes. Urge ouvi-lo sobre segurança pública, assunto que — com razão — define (é o único a fazê-lo) como prioridade e que seu militarismo sugere ser sua especialidade. Será?

É hora de investigar suas aptidões — excluída a capacidade, comprovada, de se autopromover como zelador dos costumes conservadores do brasileiro médio.

Deputado federal desde 1991, mas que já defendeu o fechamento do Congresso, quer ser presidente (já postulou o fuzilamento de um, FHC, por ter privatizado a Vale) empunhando as mesmas bandeiras — de natureza legislativa — que agita há décadas, o que de prático só resultou em fama para o agitador. Ou a agenda progressista não terá avançado livremente na Câmara justo no período mais histérico de Bolsonaro?

Não tendo, pois, conseguido defender a tradicional família brasileira no Parlamento, o lugar apropriado (onde, no entanto, acabou ingenuamente emboscado pelo vitimismo de Maria do Rosário), ele agora pretende levar sua causa ao Executivo, lá onde nada poderia fazer a respeito — senão por meio de uma ditadura. Como não lembrar, a propósito, que já elogiou Fujimori por intervir militarmente no Judiciário e no Legislativo peruanos?

Que eu escreva o óbvio: houvesse uma direita no Brasil, e Bolsonaro seria nota de rodapé exótica na história. Ele é produto da doença política brasileira, indivíduo cujo protagonismo é tão decorrente da miséria cultural em que se constitui a vida pública entre nós quanto simbólico de um país que se deixou cuspir aos extremos sem haver cevado o equilíbrio, o dissenso, a própria matéria com a qual se esculpe uma nação.

Que o militarista estatista Bolsonaro seja confundido com um conservador é prova de que a esquerda venceu. Que alguém com o histórico de indisciplina — de desafio à hierarquia — militar de Bolsonaro, um oficial de carreira sofrível, seja tomado por voz das Forças Armadas é simbólico das três décadas de sucateamento a que Exército, Marinha e Aeronáutica foram impostos desde o fim do regime militar.

O autocrata Bolsonaro é obra-prima do plano de hegemonia esquerdista, aquele que, ao ocupar todos os espaços de produção-divulgação do pensamento, empastelou a chance de que aqui houvesse um partido conservador ao menos. O fato de o PSDB ser considerado de direita é autoexplicativo do modo como as ideias liberais e conservadoras foram excluídas do debate público brasileiro, deformadas a uma única existência — aceitável porque útil: a do extremo.

Bolsonaro é útil. Mas não inocente. Depende da inexistência da direita no Brasil tanto quanto da demonização da política. Construiu a própria mitologia nesse vácuo democrático. Num país desprovido de representação conservadora, aceitou a ponta que seria dada a qualquer um que não se constrangesse em encenar o papel de extremista escrito pela narrativa da esquerda. Ele topou; intuiu que, sobretudo a partir da ascensão do PT, haveria cristãos dispostos a embarcar na conversa do político que incorporasse o antipetismo. Ele cresceu — cresce — com Lula. Lula torce para tê-lo como adversário. Um olhar de Geisel para a nação, aliás, une-os.

Da mesma forma que o PSDB é a direita falsificada pelo establishment, a que faz o contraponto ao PT, a esquerda que disputa o poder, Bolsonaro é a direita consentida, a extrema, o radical desejado, necessário ao status quo, o ultrainofensivo, que interdita o surgimento de uma direita democrática e que legitima a persistência da esquerda que ainda ousa associar socialismo e liberdade.

Na última quarta, ele votou pela aceitação da denúncia contra Temer. Sintomaticamente, votou como Jandira Feghali e Jean Wyllys. Não houve cusparada dessa vez. Nem discurso. Bolsonaro não homenageou o torturador Ustra nem o ex-deputado Cunha — como quando da votação do impeachment de Dilma. Naquela ocasião, ele também se manifestara pelo afastamento de um presidente.

Bolsonaro é assim. Não tem bandido de estimação, embora tenha permanecido por dez anos no mensaleiro PP. Ele é plano, direto: contra a corrupção; tipo intolerante a nuances, como só possível a um ser desprovido de lastro intelectual, incapaz de compreender sequer rudimentarmente o momento histórico.

Como todos aqueles erigidos no barro do personalismo, é refém da vontade sanguínea dos que o idolatram, daí porque ora atado à camisa de força do jacobinismo em curso — que a todos iguala com método, como se entre os políticos criminosos não houvesse aqueles, maiores, que assaltaram o Estado em prol de um projeto autoritário de poder.

Como todo inflexível em causa própria, ele só transige — pulando de PP em PSC, de PSC em PEN — se para cultivar a mitologia sobre si. O partido sou eu — dirá. O honesto sou eu — diz. Logo: e daí que seu voto seja presente aos esquerdistas que propagandeia combater? É o preço que paga todo arrivista. E ele sempre poderá se escudar na canalhice segundo a qual votou como Jandira e Jean, mas por motivos diversos.

É assim, com pureza, com distinção, que um mito presta serviço ao PT.


9 comentários:

  1. Carlos Andreazza é uma pessoa perigosa e mentirosa. É da falsa direita e cheio de má fé. É um fantoche da campanha de difamação da mídia “mainstream”.

    A narrativa da esquerda colocou o PSDB como de direita. Esquerda é que inventou essas bobagens de narrativas. Coisa de Gramnscista.
    O PSDB é uma invenção é uma esquerda consentida pelo PT. É uma invenção do socialismo Fabiano para fazer frente ao PT.
    Andreazza está cagando de medo de Jair Bolsonaro porque ele escapa disso.

    Eduardo

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    1. Andreazza perigoso? Mentiroso? Quais são as mentiras que ele diz e quais os perigos que ele oferece?

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    2. FROES, o Andreazza é esquerdopata total, só quem não vê é outro esquerdopata como voce. O legal dos tempos atuais é que os isentões estão se entregando sem perceber. É o seu caso, e o dele.

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    3. Mauro Silva, você se superou! Uma burrice vá lá, já que você "conhece profundamente" o Andreazza para dizer que ele é esquerdopata, mas quanto a mim, classificar do mesmo modo sem me conhecer é a suprema cretinice que confirma o que eu sempre disse: as bozonaretes são tão estúpidas quanto os petralhas e congêneres, ambos faltos de argumentos, incultos, despreparados, idólatras e cínicos, porque fingem esquecer tudo que possa depor contra. Gente da pior qualidade.

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    4. Só tive tempo para acessar o blog agora, mas quanto à sua "pergunta" no dia 12/08 às 16:49, há um artigo esclarecedor aqui:

      http://midiasemmascara.org/artigos/destaques/metem-medo/

      Eduardo

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  2. Como é que um país que elegeu e reelegeu Dilma Rousseff pode considerar o Bolsonaro, ou quem quer que seja, despreparado?

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    1. Anônimo
      Sua pergunta é irrespondível. Pelo menos, por mim. Mas talvez eu não deva contar, pelas minhas "restrições interpretativas"...

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    2. É que ele acha que burrice é igual a reinado, Magu: enquanto um burro não morrer, o outro, na linha de sucessão, não pode assumir. Aliás, falar em despreparo, o que Bozonaro fez até hoje em seis mandatos de deputado a não ser vociferar impropérios e colecionar maus comportamentos?

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  3. Andreazza joga as regras conforme a maré, mas isso é difícil mesmo de entender quando se lida com pessoas dislexas ou histriônicas, ou os dois casos.

    http://www.conservadorismodobrasil.com.br/2017/08/grupo-record-de-carlos-andreazza-recebeu-mais-de-r-20-milhoes-do-governo.html

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