quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Enio Mainardi, o politicamente incorreto

Desbundes

Já nasci politicamente incorreto. E as tentativas que fiz para me adaptar ao mundo convencional, onde eu não conseguia ficar, sempre geraram em mim muito sofrimento.

E não estou sozinho nesse esforço de me ajustar para sobreviver.

O atrito entre ser “normal” e me assumir como alguém que se coloca em dúvida quanto a valores sociais considerados aceitáveis, gerou em mim um mundo de contradições.

Mas fui aos poucos entendendo que só eu e minha consciência é que poderíamos decidir quem eu queria realmente ser.

Exemplos alheios nunca me serviram satisfatoriamente. Então fui tateando mundo afora. Estou falando tudo isso por causa de umas tantas coisas que andei escrevendo sobre o homossexualismo. Eu tive muitos amigos homo: alguns deles morreram de Aids. Fotógrafos, modelos, produtores - artistas, enfim, gente que girou sua vida em torno da propaganda, teatro, cinema.

O desbunde radical vivido por alguns deles nunca foi minha praia. Entre sexo, drogas e rock and roll, sempre fiquei com sexo e rock - as drogas eu deixei para os outros.

Sei só que vivi sempre envolvido em paixões por mulheres, mulheres. Uma espécie de vício, tipo cocaína, imagino.

Mas tive alguns amigos com quem pude dividir intensamente minhas angústias existenciais. Amigos tão importantes quanto as mulheres com quem cruzei em minha vida.

Nunca tive impulsos homossexuais - mas pude compreender perfeitamente como e porque dois homens podem se apaixonar um pelo outro. Saber disso faz parte de me reconhecer como um ser dual. Dual - não ambíguo.

Bem, nestes dias andei dizendo que o homossexualismo explícito, exibicionista, me incomoda. É que eu reconheço o amor homoafetivo como algo respeitável, sério.

Acho que qualquer um pode exercer sua opção sexual como desejar. Mas sem tentar impor aos outros sua maneira de ser.

O proselitismo homossexual, na verdade, é desagradável e inconveniente. Até porque esse tipo de comportamento pode afetar crianças e adolescentes que ainda não se conhecem o bastante para decidir que tipos de experiência lhes serão mais interessantes, na vida adulta.

Detesto a parada gay. Vejo lá pessoas que se colocam quase como num zoológico - mas do lado de dentro das grades. E reagindo contra eventuais críticas, se arrebentam em desafios à moralidade vigente, num exibicionismo feroz. E quanto mais provocativamente, melhor.

Chato tudo isso. Falta generosidade, dos desfilantes e dos que olham os homossexuais num misto de desprezo mal disfarçado.

Inclusive me toca negativamente que se admita, no ensino, nas escolas, a ideologia de gênero.

Vida dura, a nossa, está muito difícil de descomplicar.

Eu bem que poderia ter escrito isso...


6 comentários:

  1. Acho que consigo resistir à inveja propriamente dita, mas sou obrigado a reconhecer que Ricardo tem razão e eu diria descaradamente sua frase.
    Me consolo sabendo que não é todo mundo que tem um talento como o do Ênio. Eu não fui obsequiado com isso... Conseguir descrever algo que não aprecia sem invectivar em nenhum momento!

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    1. Em tempo:
      Quando o Giulio ainda estava vivo, eu me classificava como "Magu - um coeditor politicamente incorreto"...

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    2. Não seja modesto Magu. Você escreve o fino!

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    3. Pô, Ric
      Faz isso não.
      Se agradeço, vou me sentir metido.
      Se não agradeço. vou me sentir ingrato...
      Isto é The Razors Edge!

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    4. Se sentir metido? Êpa! Pensei que você fosse espada...

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    5. Opa!
      Vamos deixar bem claro, nestes tempos de arco-íris...
      Metido a besta!

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